Lino Correa: um artista de muitas habilidades

25 janeiro 2009 |


Quando o mundo gira, tudo o que há nele muda de lugar. E assim, a vida das pessoas também sofre alterações. Foi justamente o que aconteceu com o ator Lino Corrêa. Formado em Odontologia, o artista atua como modelo, jornalista e até dublador... Um profissional de muitas utilidades num planeta que exige saber um pouquinho de cada coisa.
Sucesso na TV, no cinema e no teatro, Corrêa acumula uma carreira de 17 anos ao lado de artistas como Xuxa, Renato Aragão, Marcos Pasquim, Giovanna Antonelli e centenas de outros.
Suas passagens pela TV estão registradas nas novelas “O Clone”, “Esperança” e “As Filhas da Mãe”, principalmente. No teatro, atuou em “Fragmentos de Nelson Rodrigues”, “O que Abunda não Sufoca” e “Garota.com”. Mais detalhes de sua carreira, acesse .
Para quem conhece o ator de perto, pode constatar a jóia de pessoa que atua (de verdade!) no palco da vida real. Exemplo de humildade e carisma. Um artista que merece nossos aplausos estando no palco ou na platéia. Mesmo ocupado com os ensaios da peça que pretende estrear daqui a alguns meses chamada “O Último Carro”, com as gravações da novela “Afinidade”, que terá estréia breve na Rede TV! e com as filmagens do Filme “JÊ”, onde vai interpretar o “Beato Lino”, Corrêa reservou um pouco do seu precioso tempo para o “Cultura Viva”. Valeu!


CULTURA VIVA: Lino, você é sergipano e nasceu em Lagarto, não é isso?
LINO CORRÊA: Isso. Não sou nenhuma lagartixa, mas na realidade, eu tenho o maior orgulho de dizer que eu sou fabricado em Lagarto. (risos). Me carioquizei, sem perder a minha nordestinidade porque eu acho que o DNA da gente é fundamental, a minha porção carioca é flamenguista e mangueirense, mas acima de tudo, sou brasileiro. Meu pai tem uma descendência portuguesa e eu sou brasileiro, sou um “sergiroca”.

C.V.: Você, lá em Sergipe, começou de forma amadora sua carreira de ator e de modelo, na sua infância.
L.C.: É verdade. Eu comecei a fazer teatrinho na Igreja Presbiteriana de Lagarto: montava algumas coisas da história de Moisés, Davi, depois, fazia muito uma coisa de modelo: meus pais (Orlette e José Corrêa) são do Rotary Club de Lagarto, então tinha desfile das crianças dos rotarianos, desfile de “moda praia infanto-juvenil”, mas era uma brincadeira, nunca pensei que isso lá na frente fosse virar profissão. Era um início. Eu sempre gostei de lidar com sensibilidade.

C.V.: Mas, isso você está falando no tocante à arte de atuar.
L.C.: É... Porque quando você desfila, também está atuando, está representando uma grife, uma roupa... Eu sempre gostei de falar em público também... Acho que era um começo.

C.V.: De igual forma, o talento jornalístico. Ainda em Sergipe, já escrevia textos com intuitos jornalísticos? Chegou a ter formação profissional na área de Jornalismo?
L.C.: Eu sempre gostei de trabalhar as minhas emoções. Os meus conflitos de adolescente sempre iam para o papel. Então, era uma forma que eu criava as minhas poesias, os meus encantamentos e desencantamentos. Eram crônicas movidas naquele momento ao meu despertar para um no ciclo de vida e também por ter na minha genética familiar um grande jornalista. Meu tio-avô era um grande repórter, concorreu à vaga do Jorge Amado na Academia Brasileira de Letras, o Joel Silveira, que era um dos maiores jornalistas brasileiros. Ele faleceu no ano passado e foi consagrado e reconhecido por João Ubaldo Ribeiro como um dos maiores escritores da Literatura Brasileira.

C.V.: Dos trabalhos que você já fez, quais os que o público comenta até hoje quando está com você?
L.C.: O poder que a mídia global tem é muito grande. As minhas cenas na “Casa das Sete Mulheres”, por mais que não tenham sido grandes cenas, mas a Globo tem um poder infiltrativo muito grande, então, as pessoas sempre lembram do meu revolucionário gaúcho que era preso... “Puxa, não vão te soltar, não?”... (risos)... Então, as coisas que eu fiz também na minissérie “Um só coração”, eu fazia o “Sérgio Cardozo”; fiz um médico na novela “O Clone”, mas eu gosto dos meus trabalhos onde eu pude desenvolver um personagem intenso, como desse último trabalho no cinema (que eu adorei fazer!), o “Aporias Conjuminadas”, que eu fazia um biógrafo.

C.V.: Como avalia o trabalho de ator hoje, no Brasil? Tem muito o quer fazer? A carreira é aconselhável aos interessados ou o ciclo anda fechado, restrito a quem tem conhecimentos e consegue o famoso “conchavo”?
L.C.: Infelizmente, é por aí. As pessoas vêem um glamour em relação à carreira de ator, no Brasil, um pouco complicado. Eu já tenho uma estrada, sou sindicalizado como ator desde 1990 e acho que já estou começando a colher alguns frutos agora. Você vê como as cosias são complicadas no nosso Brasil. Mas, eu nunca fiquei muito focado só em ser famoso; fiquei focado em fazer o meu trabalho e diversificá-lo porque tem pessoas que tem uma ansiedade muito grande e essa coisa que você falou do “conchavo”, infelizmente, existe muito principalmente na televisão, e até no teatro porque se você não tem um contato com grupos que são fechados, para quem não conhece, eu acho que o trabalho de ator fica muito complicado.

C.V.: Como você diz que está colhendo frutos agora, se já gravou “Xuxa e os Duendes” com a Xuxa, “Didi quer ser Criança” com o Renato Aragão e tantos outros mestres na arte brasileira? Não acha que já está colhendo há muito tempo e só está percebendo agora?
L.C.: É porque a gente sabe que isso tudo é um trabalho de muita busca. Acho que, baseado na minha batalha, já de 17 anos, não de 17 dias, eu já poderia está aí com um trabalho mais consistente. Mas, eu não estou com nenhuma mágoa. Acho que sou muito feliz naquilo que eu faço porque estou escrevendo meu primeiro livro, faço as minhas locuções, as minhas dublagens...

C.V.: Qual o nome do livro?
L.C.: “Não páre agora” – a biografia autorizada da cantora Wanderléa. É um trabalho que eu estou numa pesquisa grande há dois anos. Ela é um dos ícones de revolução de comportamento de uma música. Ela foi a minha Xuxa, então... (risos)

C.V.: Na sua opinião, o público que freqüenta as salas de cinema e de teatro se mantém dos anos 80 para cá ou há oscilação?
L.C.: Se mantém. De uma década para cá, o teatro, especialmente no Rio de Janeiro, onde eu atuo a nível teatral com maior freqüência, tem vantagens: espetáculos de teatro com descontos, a Prefeitura coloca um dia no teatro por um preço simbólico, ... Eu acho que quem gosta do teatro e de um bom texto, tem mais opções. O Centro Cultural Banco do Brasil tem espetáculos maravilhosos a preço de R$10. Óbvio que o grande público não vai pagar num teatro de R$ 70, como bons espetáculos de grandes atores. Acho que fica muito limitado para a grande maioria da massa brasileira.

C.V.: Quais são seus planos para esse ano?
L.C.: Ah, quero trabalhar! (risos)... Quero escrever, atuar. Fizemos dois meses de um espetáculo teatral maravilhoso, que é o “Mixórdia e Cia.”. É um texto que eu ajudei a escrever junto com o Fernando Resker. A gente explica que é uma mistura, um mundo mix, um jogo carioca. O carioca é o mínimo e o máximo o tempo todo; é um espetáculo com muito humor, que lotou o Teatro Posto Seis em Copacabana. “Mixórdia e Cia” volta na última semana de julho ao Teatro Posto Seis e, dentro de dois meses, estarei estreando com grande elenco o espetáculo “O Último Carro” com direção de Wavá de Carvalho, e o longa que está em finalização “Aporias Conjuminadas” de Vinicius Bandera, que traz uma linguagem muito interessante e foi maravilhoso está atuando com grandes nomes da história do nosso cinema, como Carlo Mossy, e Rossana Ghessa, especialmente.

Foto: Lino Corrêa na gravação da novela "Afinidade" da Rede TV!

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