FATIAS DE UM SER

30 março 2009 |


No período da fantasia, tudo maravilha: cores vivas e encantadoras pareciam revelar um possível futuro. Envolto por sentimentos e desejos que insistiam em permanecer, o ser imaginava, criava, idealizava um mundo diferente onde tudo desse certo em todos os sentidos; os habitantes desse mundo viviam para concordar, aceitar, abençoar. Mesmo com os pés no chão, sua imaginação o fazia levitar de tanta alegria e satisfação. Harmonia, sintonia e afinidade reinavam juntas. Nada de discordâncias, desavenças, desentendimentos. O respeito manipulava os instantes vividos, era soberano em todo o reino. Os olhares brilhavam, eram porta-vozes do coração que, muitas vezes, tentava negativar algumas questões, mas como os olhos são nus e patentes, logo entregavam o tesouro.
Pura ilusão. Em questão de segundos, um balde de água fria desabou o castelo de areia. Restou a lama. O que era tão belo e puro ficou sujo, esquisito, deprimente. As lembranças dos bons momentos trouxeram o choro – que há muito tempo não entrava naquele lugar porque representava sofrimento, exalava dor. Em certos casos, não podia nem chorar de alegria, só havia espaço para o sorriso. Da forma que conseguisse, com a boca e a arcada dentária que tivesse, era importante sorrir. A atitude abrilhantava o ambiente.
Restaram cacos do pequeno ser como um copo usado que foi lavado, enxuto e, na hora de ser guardado, por estar entre o mero pano de prato (sua toalha de banho!), por um lapso caiu e espatifou-se. Pedaços de vidro ao chão representavam as “fatias de um ser” que sonhou, desejou, construiu em sua memória um futuro melhor, mais amável... Romântico. Quando tudo parecia estar perdido, uma grande amiga aparece e diz: “Não esquenta, entrega e logo tudo vai dar certo”. Que bom saber que ainda existem pessoas que se preocupam em recuperar o que já se havia perdido!
De um momento para o outro, os cacos se juntaram e formaram um novo ser que, embora remendado, continua pronto para sonhar e acreditar que o melhor está por vir. A esperança jamais pode morrer.

Foto: Everton Matte

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