'No princípio, era a roda' no CCBB

17 agosto 2010 |

Projeto de roda de samba, "No princípio, era a roda", realiza mais um encontro com a história do samba no dia 07 de setembro

O grupo Galocantô e o compositor Nei Lopes, protagonistas da série musical "No princípio, era a roda", comemoram o sucesso de público do projeto de rodas de samba do CCBB convidando os compositores Serginho Meriti e Claudinho Guimarães. O encontro, batizado de Roda da Baixada, acontece em pleno feriado de 07 de setembro, em dupla sessão, às 12:30 e às 19hs.

Serginho Meriti aprendeu a gostar de música através da influência do pai, violonista, e da mãe, cantora soprano e compositora de hinos da Igreja Assembleia de Deus. Além disso, é importante ressaltar que Meriti tem um padrinho musical de respeito. O músico Roberto Menescal reconheceu seu talento ao lado do cantor Jorge Ben Jor durante a criação do Movimento Swing e a partir daí, Meriti não saiu das paradas de sucesso. Levou o Grammy Latino de 2003 e o Prêmio Tim do ano seguinte, frutos da canção “Deixa a Vida me Levar”, gravada por Zeca Pagodinho, um dos maiores sucessos de Meriti.

Produtor do CD mais recente de Meriti, "Luz do Nosso Povo", Claudinho Guimarães também é filho de cantora. Dona Gina era cantora da noite e Guimarães acredita ter começado a gostar de música ainda na barriga dela. O samba entrou de vez na sua vida depois de uma contusão que o afastou dos treinos de futebol no campo do Botafogo. Este exímio tocador de cavaquinho teve oportunidade de dividir o palco com grandes nomes da música popular brasileira, como Walter Alfaiate, Dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho e Alcione, esta última levou a música de Guimarães "Eu Vou Pra Lapa" para a trilha sonora da novela "Caminho das Índias", da Rede Globo.

A série "No princípio, era a roda", concebida pelo Galocantô e inspirada no livro homônimo do jornalista e pesquisador Roberto M. Moura (1947-2005), possui o formato de receber convidados que ajudam a contar um pouco da história do samba e da música brasileira através de suas interpretações e composições.

O projeto acontece uma vez terça-feira por mês, até dezembro, em duas sessões diárias, às 12:30 e às 19hs, no Teatro II do CCBB.

Para quem quiser aproveitar o feriado do dia 07 de setembro ouvindo uma boa conversa e um ótimo show com Galocantô, Nei Lopes, Claudinho Guimarães e Serginho Meriti deve comparecer à bilheteria do CCBB e garantir seu ingresso.

Serginho Meriti - Luz do Nosso Povo

Sérgio Roberto Serafim, nasceu em Madureira, mas foi criado em São João de Meriti, onde foi rebatizado Serginho Meriti, apelido que o consagrou. Foi na Baixada Fluminense que o cantor e compositor, filho de Seu Felisbino Antônio Serafim (gaúcho dos pampas, violonista e boêmio já falecido) e Dona Nair Antônio de Oliveira (80 anos, evangélica, cantora soprano e
compositora de hinos para a Assembléia de Deus), tomou gosto pela música.

Com o sangue artístico correndo nas veias, Serginho Meriti herdou o DNA musical de seu Felisbino e Dona Nair. E assim foi que, em 1986, com apenas 27 anos de idade, Serginho entrou em estúdio pela primeira vez na companhia de Neguinho da Beija-Flor e Dicró entre outros para gravar o seu primeiro sucesso "Balanço do Mar", em parceria com Carlinhos PQD, pela extinta Tape Car.

Serginho sempre foi um apaixonado por MPB. Esse entusiasmo e suas andanças pelo meio musical o levaram a fundar junto com Jorge Ben Jor, além do conjunto Copa 7 e os Devaneios, nos anos 70, o Movimento Swing, cujas primeiras sementes foram lançadas por Wilson Simonal, na década de 60. A aceitação foi tão boa que resultou em dois LPs com o título Som Copa 7 nº 1 e nº 2.

Mas o salto para a fama se deu através do seu padrinho musical, Roberto Menescal que o levou para a gravadora multinacional, Poligram, em 1989.
Daí em diante ele não parou mais. São 376 composições gravadas por nomes como Zeca Pagodinho, Alcione, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Alcir Marques, Bandeira Brasil, Toninho Geraes, Martinho da Vila, Cidade Negra, Belo, Exalta Samba e Evandro Mesquita (ex-Blitz) entre outros. Algumas de suas composições entraram para a história da MPB como "Quando Eu Cantar" (que ficou conhecida como "Iáiá Iáiá") gravada por Zeca Pacodinho e "Negra Ângela", na voz de Neguinho da Beija-Flor.

É difícil enumerar todos os seus sucessos num universo tão vasto, mas além desses dois acima citados, fiquemos com o mais recente "Deixa a Vida me Levar", gravado por Zeca Pagodinho e ganhador do Grammy Latino em 2003 e o Prêmio Tim em 2004 de melhor samba. Esse samba é tão bom que virou uma espécie de hino da Seleção Brasileira antes, durante e depois da conquista do Penta, em 2002.

Só para se ter uma idéia do valor desse prêmio, Serginho Meriti foi às finais com dois monstros sagrados da nossa música: Milton Nascimento e João Bosco. Mas não pensem que ele parou por aí. Zeca Pacodinho acaba de gravar mais uma composição de Serginho em parceria com Jairo Aleixo, chamada "O Biscateiro" com direito a DVD. Também Alcione (a Marron) que no seu novo CD incluiu "A que mais Deixa Saudades", onde a intérprete logo na introdução faz uma saudação a Serginho: "Alô, Serginho! Mandou bem".

Com um currículo dessa categoria, Serginho entrou em estúdio mais uma vez para gravar pela Astral Music, sua nova casa o CD "Luz do Nosso Povo", produção de Cláudio Guimarães. Neste novo trabalho estão antigos sucessos revisitados por Serginho Meriti além de músicas inéditas como a que dá título ao CD. Quem é rei, nunca perde a majestade, diz o velho ditado e Serginho está aí para não nos deixar mentir. Como diria o próprio cantor e compositor, é hora de colocar o CD para tocar e deixar a vida me levar.

Claudinho Guimarães

Claudinho Guimarães é músico, compositor, arranjador, professor de cavaquinho e filho da dona Gina – uma cantora da noite, como tantas que vivem correndo atrás de uma oportunidade neste Brasil.

- Como minha mãe cantava na noite, acredito que descobri o samba, quando ainda estava dentro dela – diz o bem-humorado Claudinho. Mas, a carreira de sambista iria aguardar um pouco, porque antes ele iria tentar mostrar também que sabia fazer gols. E foi treinar no time do Botafogo, cujo campo de treinamento, à época, ficava lá em Marechal. Para sorte do samba, uma contusão selou a carreira do “futuro craque”.
Entediado, já que a carreira de jogador foi interrompida, um dia, convidou o amigo que morava em frente à sua casa para aprenderem tocar algum instrumento e teve como resposta: - Meu pai tem um cavaquinho, se você quiser lhe empresto. Assim, começava o encontro de Claudinho com a música para nunca mais se separarem.

Hoje, com mais de 70 composições catalogadas, Claudinho Guimarães já acompanhou os mais diversos deuses da música popular brasileira, como, Luis Carlos da Vila, Serginho Meriti, Monarco, Alcione, Walter Alfaiate, Dona Ivone Lara, e seu ídolo Zeca Pagodinho. Aliás, a idolatria é tanta, que quando lhe perguntei, quem você acha que canta, mesmo? Ele sem hesitar respondeu-me: - Zeca Pagodinho.

Dona Gina chega e o nosso papo começa a se encher de recordações. Ela conta que canta na noite há muitos anos, que, inicialmente, deixava o filho em casa, enquanto ia à luta. Depois, resolveu levá-lo para os locais, em que iria se apresentar... Claudinho, em meio a risos, interrompe a mãe para dizer: - Foi aí que o samba começou a bater dentro de mim. Dona Gina, então, sem esconder a emoção, me diz: - Para mim, a maior felicidade, foi o primeiro dia em que cantei, com meu filho me acompanhando.

Perguntei-lhe, Claudinho de onde vem a inspiração?
Ele, então, começa a cantarolar e fala em seguida: - Do samba de João Nogueira. É o “Poder da Criação” – diz, referindo-se ao título da música que cantarolou, lembrando do mestre, com uma certa dose de saudade, nas palavras.

Argumento com Claudinho que se sua mãe era cantora da noite e que se ele acredita que isto tenha sido a razão maior de ter optado pela música, por que o samba? Pois, quem canta na noite, tem de fazer de tudo, desde o mais rasgado bolero ao mais animado pagode. Ele me responde: - Ernâni, tudo é samba. Um bolero é samba... Diante do meu olhar de quem não estava entendendo nada, ele começa a cantar “Risque” de Ari Barroso, a bater no peito, fazendo a marcação, e repete: - Tudo é samba. Percebeu? É só você acelerar mais o ritmo e tudo vira samba, para soltar uma boa gargalhada. E continua: - O Samba já veio dentro de mim, está comigo, dentro de mim. Para mim, tudo é samba.

Como o vi, antes, tocando pandeiro, provoquei-lhe: - Claudinho, por que o cavaquinho e não o pandeiro? A resposta foi uma aula, encerrada com seguinte frase: - Quem toca pandeiro é sambista. O pandeiro é a divisão e o surdo é a marcação. Eu: - Entendi! E ele completou: - Toco cavaquinho, mas, também, toco pandeiro. Não precisa dizer que ele estava me afirmando que é um sambista.

E foi esse sambista que, em parceria com Serginho Meriti, compôs “Umas e Outras”, que integra o CD de Alcione, a ser lançado mês que vem, o que foi mais um motivo para aumentar a festa. Disse ele, modestamente, referindo-se ao fato do seu samba ser gravado pela Marrom: - Deu zebra! “Lá Vai Marola” está no DVD acústico, que Zeca Pagodinho lançou mês passado, também, é mais uma das composições de Claudinho Guimarães com Serginho Meriti.

A nossa conversa encerrou, com ele filosofando: - Todo leonino quando está vivendo uma grande dificuldade – Claudinho nasceu dia 17 de agosto – dá sempre um jeito de encontrar o caminho da vitória.

De percussionista em rodas de samba tradicionais na cidade, o músico passou para o cavaquinho e para a composição. Música dele, Eu Vou Pra Lapa está na trilha sonora da novela Caminho das Índias, na voz de Alcione. Em destaque no palco, Claudinho aproveita para lembrar outras obras próprias que fizeram sucesso na voz de intérpretes consagrados, como Shopping Móvel, Quando a Gira Girou, Umas e Outras e Só Faltou Você.

Centro Cultural Banco do Brasil Rua Primeiro de Março, 66, no Centro do Rio de Janeiro. Telefone: 3808.2020
Teatro II
Dias 07/09, 05/10, 02/11 e 14/12
Terça-feira, às 12h30 e às 19h
R$ 6 (inteira), com meia-entrada (R$ 3) para estudantes e maiores de 65 anos

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