12 novembro 2024

Rubem Baptista e a forma leve que conduz o magistério

 


Ele é a arte em pessoa. Também um intelectual que faz história na Educação. Um mestre que já ajudou a formar muita gente que atua no magistério com grande desenvoltura, enfim, um ser humano diferenciado, apaixonado pelo o que faz e sempre tem algo a acrescentar, isto é, o homem não para! Dá aulas, edita livros, lança livros, orienta, coordena e ajuda a construir um país melhor através da forma leve e descontraída que recebe a todos que recebem sua bênção na arte de lecionar, embora com tantos contratempos e motivos para desistir. Só poderia ser mesmo o professor Rubem Baptista, 57 anos, morador de Niterói (RJ).


Hoje ele concedeu entrevista exclusiva para o CULTURA VIVA e falou, principalmente, sobre o livro que acaba de lançar com o título “Nuvem Pretinha”, dedicado ao público infantil. Este bate papo está um charme só! Acompanhe!

 

 

CULTURA VIVA: Sua trajetória no magistério é longa. Como avalia esse trajeto até aqui?

RUBEM BAPTISTA: Essa pergunta é bastante determinante, pois costumo usar as palavras do inesquecível Imperador Alexandre - O Grande: “Vine vide vici” . Ou seja, “vim, vi e venci! Afinal de contas, são mais de trinta anos de docência, onde ajudei a formar uma “safra de sangue novo” para o magistério, dentro e fora da minha área. Não é todo tipo de profissional que pode esbarrar com um ex-aluno que, se dirigindo a você, tem a incrível alegria de te chamar de “colega de profissão”!

 

C.V.: Escrever um livro sempre foi um desejo profissional ou tem mais a ver com afeto pelas conquistas que agregou?

R.B.: Consegui cumprir os “3 desafios do Ser Humano” (plantar uma árvore; escrever um livro e ter um filho) com muita alegria e disciplina. Cada um deles foi no momento certo. Porém, a questão da escritura literária, atrelada às letras do profissional que sou, permitiu-me uma ampliação de lastro, inclusive como Ser Humano, visto que – inevitavelmente – o afeto, como a educação e a gratidão, são valores intrínsecos aos seres humanos. Basta que lhes sejam despertados e aprimorados modelarmente. Por conta disso, tive muitos exemplos de vida e muitas inspirações que viraram história.

 

C.V.: Como descreveria o livro "Nuvem Pretinha"? O que te motivou a elaborar tal obra?

R.B.: Um banho de inocência e muita emoção para tratar de um assunto que, atualmente, é considerado como bastante delicado. Porém, o impulso que tive para criar esse texto foi estar convivendo diariamente com criancinhas do ensino fundamental 1 (2º, 3º e 4º anos). Nessa idade, a energia viva delas fala muito mais alto para congregar sem qualquer distinção. Principalmente, daqueles tipos que os adultos criam para se afastar.

 

C.V.: E por que o público infantil foi alvo de suas discussões?

R.B.: Tive facilidade em transitar em alguns gêneros bastante distintos. Inclusive o de poemas. Todos como exercício da pura escritura. Especificamente, os infantis têm me permitido fugir da formalidade e da disciplina e do rigor literário. Escrever para um tipo de público cria uma “obrigação” para você pensar e sentir como aquele público, antes de “pintar” uma situação com uma determinada carga de emoção. Quando é para criança, existe uma permissão e liberdade maior. Com eles, quando escrevo, a “licença poética” é um eterno “sinal verde” para continuar.

 

C.V.: Falar de "inclusão" com crianças é mais complicado do que se imagina?

R.B.: Depende muito da sua liberdade de emoção naquele momento que estiver com elas. Lembra da “Terras do Nunca”, de Peter Pan? Uma história infantil que, com o passar do tempo, teve essa expressão usurpada por profissionais da liderança e motivação para treinar suas equipes, quando estão com questões problemáticas e (aparentemente) sem solução. Ou seja, vá (mentalmente) para a “Terra do Nunca” e encontre uma boa solução, pois lá, tudo é possível. Com essas joias em fase de lapidação (as crianças!) é mais fácil (e sem determinadas fugas), pois o seu acervo de vida é bem menor. Mas, temos que acreditar na emoção do “ourives”!

 

C.V.: Tratar o assunto "preconceito" com crianças parece assunto de adulto. O tema gera desconforto com elas também ou levam numa boa? 

R.B.: Certa vez, contei uma história para falar do “bom senso”. As personagens principais eram o Amor e a Educação. Toda criança aprende tudo que ela vê, ouve e sente constantemente. Principalmente, quando esse modelo é dado pelos pais. Nessa abordagem, não pode haver incongruência. E, sobremaneira, tem que haver uma estreita parceria entre família e escola, para que as crianças sejam as melhores sementes de transformação social, partindo daquilo que aprendem com seus pais e professores. O efeito, a médio prazo (10 anos) será similar ao daquela metáfora da pedra no lago. Ou seja, as ondas vão se multiplicando muito e constantemente.

 

C.V.: Qual o feedback vem tendo do público com esta obra?

R.B.: Ele foi lançado recentemente (novembro de 2024), para entrar em culminância com as comemorações pelo dia da consciência negra. Mas ele já estava sendo analisado e avaliado por profissionais da literatura infantil: escritores, contadores de história e professores de ensino fundamental 1 e pedagogos. Todos entenderam tratar-se de um assunto sério, porém embalado em um discurso ingênuo e emocionante, pois a valorização da família também se faz presente.

 

C.V.: Em algum momento na sua vida, embora seja um intelectual, já se encontrou em alguma situação onde se tornou alvo de preconceito? Como foi?

R.B.: Sim. Com a minha idade, isso foi possível. Porém, a visão de meus pais para a situação, no século passado, era bem diferente. Nós tínhamos que resistir, para superar os desafios. Até aqui, estou me referindo aos tipos de bullying que havia sofrido na infância e juventude. Do ponto de vista profissional, cheguei a ser “barrado” numa equipe, pois eu havia feito o curso de Letras. Porém, o mais incrível que vivi naquela circunstância foi quando me “adotaram” em outra equipe e a líder disse: “Que bom que vamos ter um professor em nossa equipe! Aquele que tem a capacidade de ensinar, aprende mais rápido o que teremos que fazer e pode nos ajudar com os detalhes!” Você não faz ideia de como aquele buraco havia se aberto embaixo de meus pés, momentos antes, se fechou para nunca mais se romper.

 

C.V.: O que a "Nuvem Pretinha" tem de mais valioso para nos deixar como lição de vida?

R.B.: Esperança por um mundo melhor e mais tranquilo, do ponto de vista do relacionamento entre as pessoas, partindo do melhor exemplo que os adultos possam transmitir às crianças.

 

C.V.: Quais são as suas redes sociais?

R.B.: Instagran: @criacaodoslivros

 

Foto: Arquivo pessoal de Rubem Baptista

 


Um comentário:

  1. Conheci o Professor Rubem Baptista a pouco tempo, numa classe virtual de formação de Professores pelo Guia Alicerce, e sua sensibilidade ao abordar sua experiência em sala de aula e sua elegância em saber ouvir me marcaram muito e temos feito trocas interessantes desde então. Li o livro Nuvem Pretinha e creio ser uma excelente contribuição para a aceitação do diferente. Torço para que suas obras sejam traduzidas em outras línguas para que alcance crianças de outras partes do mundo!

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