Ator Fábio Guará traz uma história com grande conteúdo profissional

09 junho 2020 |




Experiente e dedicado ao seu ofício com os pés no chão, literalmente, o ator Fábio Guará mantém sua carreira, passeando entre o Teatro, a TV e a publicidade, onde coleciona boas histórias em sua bagagem. Um dos personagens que interpretou na televisão e ganha destaque até hoje é o “Cícero” da série “Saúde em Cena”, produzida pelo Canal Saúde, ainda no ar aos domingos, às 14h. Cadeirante, o rapaz representa a vida de muitos que não deixam as limitações paralisarem sua vida e, além de ser membro de um Conselho de Saúde, também é esportista. Quanta realidade num só personagem! Nem parece ficção, só vendo!

Em entrevista exclusiva ao CULTURA VIVA, Guará relata os episódios das cenas de sua carreira.

Acompanhe!
CULTURA VIVA: Seu sobrenome "Guará" tem descendência indígena?
FÁBIO GUARÁ: “Fábio Guará” vem do nome da minha cidade, Guaratinguetá, no interior de São Paulo. Mas, a palavra é indígena e significa "ave", a garça.

C.V.: Desde quando trabalha como ator e como avalia a profissão, hoje?
F.G.: Entrei na faculdade de Artes Cênicas, em 2001. Era uma época diferente. Como me formei em São Paulo, o Teatro foi muito importante na minha formação. A TV era muito forte; o cinema, um pouco distante e, a publicidade, pagava muito bem. Hoje, a internet tomou conta de tudo e temos que nos adaptar à realidade que estamos vivendo. Todos somos figuras sociais, hoje, nas redes. Então, parece um grande Teatro ou filme que acompanhamos o tempo inteiro. Estou em processo de transformação, também, querendo aprender mais dessas novas plataformas. O cinema, o audiovisual e a web estão na mão de todos. A profissão é um funil e é muito cruel, às vezes. Cerca de 95% dos atores brasileiros não conseguem pagar suas contas e, quando produzem algo, geralmente, é sem apoio. Então, pagam para estar na vitrine e quitam suas contas com outras rendas, através de outros trabalhos; 4% sobrevivem vendendo o almoço para pagar o jantar, ou melhor, as contas; 1 % desfruta de uma liberdade maior, tanto de status social, como financeira. Portanto, ser artista e ainda mais ator, no Brasil, está ligado a fama. Agora, depois da pandemia, vamos aguardar como a profissão irá reagir. Por certo, teremos que nos reinventar.


C.V.: Dos personagens que já interpretou, qual destacaria?
F.G.: Destacaria a “Boca de Ouro do Nelson” – minha primeira peça, onde tive a honra de fazer esse personagem e foi decisivo no meu processo de autoafirmação como ator e percebi que queria fazer aquilo para o resto da vida. Tem alguns outros momentos que foram maravilhosos! A profissão é uma escada e eu continuo subindo degrau por degrau.

C.V.: Já passou por alguma saia justa em cena? Como foi?
F.G.: Esquecer o texto sempre é clássico, mas é maravilhoso, pois te deixa vivo! Certa vez, em 2012, voltei para São Paulo, já com meu grupo, para fazermos uma apresentação dentro de um festival e apresentei, no Teatro, o grupo que eu trabalhava. Então, estava bem emotivo com aquilo. Entrei em cena, justamente da peça que eu dirigia e atuava, e esqueci todo o texto da primeira cena. Quando entrei, no camarim, comecei a chorar de emoção: um amigo me deu uns tapas e uns safanões. Daí, acordei! No teatro é assim: errou uma cena é preciso arrasar na outra!

C.V.: Durante sua carreira, o personagem "Cícero", da série "Saúde em Cena", gravado em 2013 e exibido pelo Canal Saúde até hoje, trata-se de um cadeirante muito ativo na sociedade, onde faz parte de um Conselho de Saúde e ainda é esportista. Como analisa o personagem frente à realidade?
F.G.: Foi, com certeza, em dramaturgia, a oportunidade mais irada que eu tive na minha vida! Tive liberdade para criar uma história linda, contar e a oportunidade de, ficcionalmente, estar no lugar de um cadeirante; participei dos treinos com eles, escutei as histórias de todos. Percebi que a força dessas pessoas, frente à realidade que encaram num país que fecha os olhos para a situação, é muito poderosa. Acredito que é necessário, cada vez mais, investimentos no Esporte, na Cultura....Enfim, viver na pele tudo aquilo, foi demais! Que saudade dessas gravações e da minha equipe da cidade “Vitoriosa”!


C.V.: Em sua opinião, o preconceito paralisa muitos cadeirantes?
F.G.: Acho que sim, mas o que mais paralisa é a falta de apoio e condições dessa galera poder viver de uma forma digna. Temos prova que o Esporte é uma ferramenta  transformadora na vida do cadeirante.

C.V.: E, no mercado de trabalho, considera justas as vagas dedicadas a pessoas com deficiência?
F.G.: Acho que está melhorando devido a algumas iniciativas, mas está bem longe de serem ideais. As condições de vida para a pessoa que tem deficiência precisam melhorar. Ainda mais nas áreas carentes, onde isso nem existe, praticamente.


C.V.: A televisão seria uma aliada no combate ao preconceito?
F.G.: Sim, a televisão pode ajudar muito, mas acho que a internet cumpre também esse papel, ainda devido ao “BBB” da vida real.

C.V.: Em que o Governo, de forma geral, pode ser um aliado nesta questão tão séria?
F.G.: Deveria, mas eles ainda acreditam que estão em campanha eleitoral. Então, vejo, com tristeza, esse momento.


C.V.: O que você diria a um cadeirante que esteja desestimulado por várias questões?
F.G.: Para ele fazer o que gosta de verdade, pois pode até não ter tanto retorno financeiro, mas, com certeza, será muito feliz!

C.V.: Quais são as novidades de sua carreira para este ano? A pandemia impediu muitas realizações?
F.G.: Aguardo o lançamento de alguns filmes que fiz participação. Em janeiro levei meu espetáculo para Cabo Verde, como, em 2018, fomos à Angola com a peça “Será que a gente influencia o Caetano?”, de Mario Bortolotto, e tivemos sucesso, retornamos à África. Alguns trabalhos acabaram caindo e, outros, estou no aguardo de definições e normas para as filmagens ocorrerem. Sobre Teatro, em 2020, não sei como vai ser, realmente.


C.V.: Para 2021 reserva algo especial para seu público?
F.G.: Sim, uma peça com nova temporada no Rio de Janeiro e São Paulo, e a continuação de uma turnê com a peça para Portugal e, quem sabe, nos Estados Unidos, lembrando que tudo isso sem patrocínio. No caso do Teatro, pois, como diria Jorge Fernando, "o que a gente não inventa, não existe”.

C.V.: Em que canais de Comunicação do público pode te seguir?
F.G.: Devem procurar pela “Tartufaria de atores” no Instagram e no Facebook.

Fotos: Arquivo pessoal de Fábio Guará

1 comentários:

Ana Cris Figueira disse...

Oi, Edson! Ótima entrevista, parabéns! Sucesso ao blog e ao Fábio Guará em seus projetos para este ano e o próximo!