William Mendonça faz da vida uma arte traduzida em poesias que retratam o cotidiano

18 março 2024 |

 


Ele faz da vida uma poesia e, a partir dela, sua trajetória perpassa pelo jornalismo, pela música e por poemas que retratam a vida e seus meandros. No momento atuando como coordenador de Patrimônio, Acervo e Memória da Casa Heloísa Alberto Torres, em Itaboraí, no Rio de janeiro, vem desenvolvendo um trabalho que fica como legado na cultura e na educação local e nas redondezas.

 

Com tanto talento assim, só poderia ser mesmo o jornalista, poeta e músico William Mendonça – um orgulho nacional!

 

Hoje ele concedeu entrevista exclusiva para o CULTURA VIVA e, assim, relatou, um pouco, de sua jornada na arte e nas ciências. Que orgulho!

 

Acompanhe!

 

 

 

CULTURA VIVA: Pensar sua história é se deparar com o texto e, constantemente, a poesia está contida em suas obras, seja na literatura ou no jornalismo. De onde vem esse talento e inspiração? É de família?

WILLIAM MENDONÇA: Na verdade, eu sempre ouvi muita música e informação, através do rádio. Desde o berço, minha mãe usava o radinho de pilha como minha companhia e eu não consigo lembrar um momento na vida em que o rádio não tenha me acompanhado. Apesar de ser um profissional do texto, no jornalismo, sempre quis fazer rádio. A carreira acabou seguindo pelo jornalismo impresso. Já na arte, por volta dos 15 ou 16 anos, eu comecei a fazer tudo meio que ao mesmo tempo: escrever poesia, tocar violão, cantar, montar uma banda com amigos e escrever para teatro. Foi meu caminho para a maturidade. Em 1995, participei de uma Oficina de Teatro no Teatro João Caetano, de Itaboraí, e, de autor de peças, acabei me tornando ator, diretor e oficineiro de teatro. Também escrevi e publiquei muitas crônicas e artigos em jornais e ainda escrevo contos e romances de ficção científica e fantasia.

 

C.V.: O primeiro festival que participou em 1985 foi um norte para sua vida. Ali conseguiu imaginar a realidade que vive hoje?

W.M.: Não, de jeito algum. Eu tinha produzido uns dois volumes de sonetos naquela época. Escrevia diariamente e estudava um pouco da técnica, da rima e da métrica. Era inspirado pelos poetas que eu lia, como Olavo Bilac e Vinícius de Moraes. Participei do festival do Instituto Abel, de Niterói, onde eu estudava, apenas para me testar. Alguns amigos incentivaram. O segundo lugar acabou mostrando que havia alguma coisa legal ali. E os sonetos acabaram me acompanhando, pois ainda são parte fundamental do que escrevo hoje. Foi algo que desenvolvi ao longo da vida. Mas escrevo haicais, cordel, versos livres, poemas em prosa, o que der vontade. Poesia não tem limites.


 

C.V.: Além de compor poesias e se dedicar ao soneto, sua arte também passa pela música, tanto no canto, como no tocar instrumentos. Onde se realiza mais: cantando ou tocando?

W.M.: Analisando hoje, a música foi mais um meio criativo. Em pouco tempo, eu já estava compondo. Era o que eu queria fazer. Tocar e cantar eram meios para me expressar. No início, fazia sempre letra e música, fui encontrando meus caminhos. A primeira banda era chamada Carametade, de Niterói, com meu parceiro musical Ricardo Mann, minha esposa Virgínia (Nina) Gomes e outros amigos. Participamos de festivais e criamos ali um repertório legal. Também compus várias trilhas para musicais no teatro. A mais encenada é “A Voz que Clama no Deserto”, primeiro auto de São João Batista encenado em Itaboraí com direção do meu saudoso amigo Zeca Palácio, no qual eu fiz o texto e as canções originais. Hoje sou mais músico e compositor. Canto apenas para registrar o que faço. Então, o que me realiza mesmo é compor.

 

C.V.: Na área do jornalismo, o senhor tem uma história ao ser responsável por diversos veículos dedicados ao impresso nos municípios de Tanguá e Itaboraí. Como foi esse período em sua carreira? Muitas experiências?

W.M.: São trinta e cinco anos de carreira. Eu passei por várias mudanças tecnológicas, tive a oportunidade de criar cadernos culturais, ser chefe de redação em um jornal centenário, ser editor de um jornal diário por mais de cinco anos, com grande equipe, e de colaborar com mais de uma dezena de jornais da região, inclusive como colunista de cultura. De vez em quando, algo que fiz, há duas ou três décadas, é citado em algum trabalho de história, e eu percebo que estou ficando velho, ou antigo. Mas, foi um período de aprendizado e evolução. Tive bons mestres e pude também auxiliar no início de carreira de muita gente, que passou nas equipes que coordenei. Acho que isso é o que vale mais a pena.

 

C.V.: Que análise faz da Comunicação hoje na região? Falta patrocínios para se apresentar ao público um trabalho de qualidade, em todos os sentidos? Que critica faria?

W.M.: Tenho que louvar a resistência do Folha da Terra, como um jornal impresso que permanece, mesmo tendo se adequado ao meio digital. Vi, praticamente, toda a produção de jornais da região morrer nos últimos dez anos. Quando me mudei para Tanguá, na época ainda distrito de Itaboraí, circulavam naquela cidade pelo menos dez jornais, um deles centenário, outro com cinquenta anos. Os proprietários foram morrendo, e os jornais também.  A velocidade e superficialidade da comunicação pela internet acabaram matando quase todos os outros. Faltou capacidade de adaptação e hoje há pouco espaço para a mídia impressa.


 

C.V.: Sempre envolvido com a Cultura, também atua como coordenador de Patrimônio, Acervo e Memória da Casa Heloísa Alberto Torres, em Itaboraí. Como desenvolve este trabalho?

W.M.: Eu participei de vários eventos na Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres, desde a década de 1990, como artista, falando poesia ou em peças de teatro, além de ter feito, a convite, os releases de várias atividades nesse tempo. Entrei para a equipe no final de 2019, ainda na área da comunicação, mas, em 2021, o gestor Alan Mota me convidou para fazer esse trabalho no setor de Patrimônio, Acervo e Memória. A ideia, como jornalista envolvido com cultura, é contar as histórias da Casa e de seus personagens, com eventos, palestras e exposições. E também acompanhar o trabalho que está sendo feito com o acervo, tanto na própria Casa, quanto no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), onde os documentos e fotos estão sendo tratados. É uma oportunidade única, de estar na equipe de um centro cultural que pertence ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) com gestão do município de Itaboraí. A orientação do gestor Alan Mota é receber os pesquisadores, artistas e público sempre de portas abertas e com todo empenho, para difundir o legado de Heloísa Alberto Torres.

 

C.V.: Sua participação nos eventos promovidos pelo Sarau (Uni)versos Livres, organizado pelo escritor Pedro Garrido, faz total diferença e acrescenta ao seu currículo. Qual sua opinião sobre esta iniciativa?

W.M.: O Sarau (Uni)versos Livres é uma ideia brilhante, já a partir do nome, que partiu de um poeta, que é um verdadeiro motor cultural. Pedro Garrido mobiliza as pessoas. Vi muito disso no final dos anos 1980, quando participei do movimento das performances poéticas em Niterói. Lembro de outras figuras com esse perfil, mas destaco o eterno Chacal, que até hoje mantém seu CEP 20.000 no Rio. O movimento dos saraus cresceu muito depois da pandemia e acho que voltou para ficar. Como poeta e participante do Sarau (Uni)versos Livres, mas também funcionário da Casa de Cultura, faço essa ponte para o evento que acontece lá todo último sábado de cada mês, aberto a quem quiser participar.


 

C.V.: Quais são as suas redes sociais?

W.M.: Não uso muito redes sociais. Quem quiser encontrar meu trabalho, inclusive com livros para download gratuito, é só passar pelo site www.williammendonca.com.br.

 

Fotos: Arquivo pessoal de William Mendonça


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