Ela nasceu para contar histórias e conduzir o público por lindos tapetes decorativos que trazem muitos personagens e torna a vida repleta de muitas aventuras. Esta é a atriz, artesã e coordenadora do Coletivo de Artistas Costurando Histórias, no Rio de Janeiro, Daniela Fossaluza, 49 anos.

 

Hoje ela conversou com o CULTURA VIVA sobre seu trabalho na arte de contar histórias e relatou suas experiências no setor.

 

Acompanhe!



CULTURA VIVA: Depois de tantos anos atuando com o Coletivo de Artistas Costurando Histórias, precisou, de um tempo para cá, renovar algo na ideia da execução deste trabalho?
DANIELA FOSSALUZA:
Sim, em muitas camadas. Na criação e costura dos tapetes, um processo que se refina com o tempo. Na performance, refinando gestualidade e a conexão com os públicos. A necessidade de constante atualização diante de gerações novas de crianças e suas particularidades. Na relação com a música, cada vez mais me encanta as possibilidades sonoras e como entender a música na cena. Passei a escrever histórias também, além dos roteiros dos espetáculos que já escrevia. E cada vez mais venho investindo nas ações formativas e na produção teórica sobre o trabalho. Fiz mestrado pesquisando com crianças costurando suas próprias histórias e materiais têxteis. Agora no doutorado, quero escrever sobre a metodologia que desenvolvi em quase 30 anos de trabalho continuado. Venho investigando as acessibilidades no trabalho, um projeto de formação e investigação que vai desde a elaboração dos tapetes até a cena. O desejo é sempre o de uma roda inclusiva.

C.V.: Como tem sido as apresentações do grupo? Cada um tem um momento ou todos atuam simultaneamente?
D.F.: Nós nos apresentamos em locais diversos, o que produz experiências muito significativas. Formamos nossas rodas de histórias em escolas, hospitais, praças, teatro e, até, numa cerimônia de casamento. Cada público e local pede um certo ajuste, isso é muito importante. É bem lindo constatar como as pessoas gostam de trocar narrativas dessa maneira e os significados que isso pode propor. O afeto que permeia os encontros. Muitos profissionais passaram pelo grupo e deixaram suas contribuições.

C.V.: Contar histórias num tapete não deve ser nada fácil. Que estratégia usa para memorizar cada parte da história? Já se confundiu alguma vez?
D.F.: Muitas vezes! Já aconteceu de estar contando uma história e, de repente, emendar em outra. Foi engraçado! Nós temos um acervo grande de histórias tapeteadas. Fazemos ensaios regulares e o trabalho também permite muita improvisação. Na véspera de uma apresentação, por exemplo, preciso sempre estudar os textos. Gosto muito de estudar escrevendo. Me ajuda bastante a memorizar. Contar histórias em tapetes, manipulando os elementos, exige também uma certa disponibilidade corporal.  Mantenho uma rotina de atividades físicas.

C.V.: Quem é sua maior inspiração na arte de contar histórias?

D.F.: O meu mestre Tarak Hammam, quem me ensinou a linguagem dos tapetes. Eu ficava encantada ouvindo-o contar. Contava em francês para crianças brasileiras e elas ficavam hipnotizadas. Ele é um homem grande, mas ficava do tamanho das crianças, do tamanho de um pequeno peixe que segurava em sua mão cantarolando... Toda uma maestria em função da histórias. Era comedido nas palavras e convocava presença na roda. Não o vejo desde 2007. Ele mora na França.

C.V.: Ser atriz ajuda, e muito, na interpretação das histórias. Mas, algo dificulta? 

D.F.: Eu acho que ser atriz é um risco, porque somos muito histriônicos. Então, procuro me manter alerta para não chamar a atenção demais para mim e, sim, para a história que estou contando. Sou tímida, mas me transformo em cena em função de uma história. É o meu trabalho. Gosto de me metamorfosear. Como narradora, posso conduzir a história e ser também de algum modo todos os personagens. 


C.V.: O que diria sobre a curiosidade das crianças quando você abre o tapete e vai iniciar a história? Elas interferem muito?

D.F.: Elas ficam curiosas e encantadas. É como um mapa a ser desvelado. Escutam atentas para, depois, manipularem livremente os elementos costurados e as páginas dos livros. Enquanto brincam, dramatizam, inventam, em situação de coletividade. Acho bastante lindo e importante. Esses momentos coletivos. As crianças se interessam muito também pelo processo de criação, fazem perguntas, opinam, sugerem livros e histórias.

C.V.: Como tem feito a seleção de histórias? Cada ambiente ou evento exige assuntos específicos?

D.F.: Eu tenho alguns temas que orientam a pesquisa e a produção. Me interessa contar e criar histórias que nos ajudem a pensar e elaborar um Brasil pluriverso. Gosto muito de contos de fada, fábulas de animais, histórias de outros povos e culturas. Tenho estudado muito narrativas indígenas. Acho que temos muito a aprender uns com os outros. Costumo também costurar histórias de autores incríveis, como Guimarães Rosa, Clarice Lispector e tantos outros. Gosto muito de inserir versos nas apresentações. Não sou especialista numa temática. Gosto de voar de um tema para o outro. Por exemplo, contos de arrepiar e mitologia grega. Ultimamente, tenho estudado os biomas brasileiros, em especial, a mata atlântica. Estou escrevendo e costurando uma história nova sobre os bichos desses habitats. Acho que para cuidar precisamos amar.

C.V.: Em que momento entra a música em suas apresentações?

D.F.: A música é como uma linha. Ela costura as performances e contações de histórias. Escuto a música quando leio o livro. Cada história tem um ritmo... Levo para a cena. Depois, busco os instrumentos que embalam as narrativas.

C.V.: Em sua opinião, qual será o futuro da contação de histórias, como serviço prestado no mercado? Prevê evolução, tecnologia?

D.F.: Eu acho que são muitas as formas e formatos de se contar histórias. Aposto sempre na diversidade e a importância dela na formação das pessoas. Sou uma pessoa mais do teatro, do olho no olho, tenho um pouco de dificuldade em elaborar o trabalho para a internet, por exemplo. Mas, não tenho dificuldade em contar para as câmeras. Para produzir audiovisual preciso fazer parcerias. Não é minha área de formação e sinto dificuldades. Porém, venho investindo nisso também. Só não me pressiono nessa direção porque o mundo acelerado exige. Isso, tenho procurado deixar de lado. Não me instiga. Em 2021 ganhei um prêmio com uma produção de um vídeo de dois minutos. Infâncias Plurais (Instituto Alana e Itaú Cultural). Monster Live. https://youtu.be/mnBTYrBRk8s?si=RX5DCIhCQJ04oCiR

C.V.: Quais são as suas redes sociais?

D.F.: @costurandohistorias e @danielafossaluza


***Alguns dos eventos realizados pela Daniela Fossaluza e equipe:





 

Fotos: Divulgação

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