Emílio Santiago e Dori Caymmi em New York

24 abril 2009 |

Abaixo, a tradução da matéria que saiu hoje no The New York Times sobre Emilio Santiago e Dori Caymmi:

The New York Times
( 24 de abril de 2009)

Solidez, lado a lado com suavidade
Por Stephen HOLDEN

Dividindo ombro a ombro o palco do Birdland quarta-feira à noite, Emilio Santiago e Dori Caymmi, duas expressões da bossa nova brasileira, se envolveram num íntimo diálogo musical entre o sólido e o suave.
A suavidade de interpretação foi incorporada por Santiago, apelidado de Nat King Cole do Brasil, o qual tem gravado desde os meados dos anos 70 e estava fazendo sua estréia no casa. Dado que sua voz é mais rica e mais profunda que a de Cole, a comparação só se aplica ao fato de que ambos são excelentes intérpretes de baladas. A música de Santiago carrega um lado musculoso de samba.

Caymmi, que toca violão, além de cantar, se mostra sólido, mas uma solidez sensível. Seja partindo da emoção, ou de um certo tique vocal, sua voz vibrava, transmitindo a sensação de um sábio patriarca quase que segurando uma torrente de sentimento. Normalmente, o vocal de Caymmi deslizava suavemente por trás da voz de Santiago como um murmurante comentário, emanando de um lugar mais profundo, como se fosse uma mente inconsciente discretamente se anunciando em segundo plano.

Os dois artistas se apresentam juntos no Birdland ate sábado, como parte do Festival BossaBrasil, numa indicação de que o legado de Antonio Carlos Jobim está mais salvo do que nunca. Músicas de Jobim como “Dindi” e “Corcovado”, as quais Santiago interpretou na primeira parte do show, acompanhado de Sergio Brandão, no baixo, Celso Alberti, na bateria e Cidinho Teixeira no piano, oferecem uma mistura de melodia harmoniosa e um ritmo estável de pop-jazz como qualquer música nacional tem produzido.

A mística apreensão da natureza nestas canções empresta seu romantismo e tristeza, uma dimensão cósmica; a paixão é transitória como uma rápida conexão disponível para o universo, para Deus, se assim posso dizer: um último sinal de vida. Nesse contexto, o canto de Caymmi, simultaneamente viril e frágil, exprime uma humildade e uma maravilha adequadas.

À medida que o show continuava, a banda foi complementada por Hendrik Meurkens, um excelente músico de harmônica. O repertório se alternava entre baladas e sambas semi-secos, com ênfase no suave e no sonhador. A apresentação incluiu uma rendição à “Foolish My Heart”, interpretada em inglês por Santiago, e culminada com a inevitável “Garota de Ipanema”.

Na interpretação curta e radiante de Emilio Santiago, o narrador não era um adolescente encantado com uma bela garota de Copacabana, mas um homem vigoroso celebrando a abundância de vida, o prazer da beleza e da intensidade do desejo.

BossaBrasil continua até sábado no Birdland, 315 West 44th Street, Clinton; (212) 581-3080, birdlandjazz.com

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