Permitir que uma criança viva os melhores momentos que a infância reserva para ela é algo que deve ser respeitado. Com bastante cuidado e observação, a liberdade que ela tanto almeja pode existir. Liberdade para brincar com os amiguinhos que mais tem afinidade. De vez em quando “se maquiar” na poeira e na lama. Sujar a roupa, rasgar o short, brincar no quintal, na calçada, na rua em frente à sua casa ou na residência de um colega. Tudo isso sem fronteiras. Claro que, ao redor, adultos devem estar de olho em cada passo porque passar dos limites podem trazer conseqüências desastrosas.
Coisa triste quando se priva um ser de estar em seu posto natural. Um pássaro, ave tão livre que nasceu para cantar, favorecendo a audição dos homens, e voar para qualquer parte, sem pagar pedágio ou ter que prestar contas a alguém, não merece estar enjaulado numa gaiola como se fosse um criminoso. Por mais bonito que seja ou mais interessante e seu canto seja lírico, de tão fenomenal, seu dom foi-lhe concedido para abusar de sua liberdade natural, sem ultrapassar o que lhe foi permitido enquanto criação divina.
Da mesma forma, a criança quer estar solta para ser quem de fato ela é: espontânea, sincera, curiosa e criativa, fonte de sabedoria que surpreende os “grandinhos” à sua volta.
Existe hora para tudo: brincar, dormir, acordar, ir para a escola, passear e aprender com os pais, entre tantos afazeres que o mundo proporciona. A criança precisa ser advertida pelos responsáveis, não manchada. O aconselhamento e a orientação devem fazer parte do lar como integrantes da família, sustentando um ambiente de diálogo entre amigos, pessoas que se amam de verdade. Dizer “não” todas as vezes que a criança faz um pedido acarreta traumas que só podem ser vencidos num consultório de psicologia. Deixar o pequenino ser o que ele ainda é, demonstra respeito com o ser. Isso redobra os cuidados porque, como nos tempos antigos em que as cidades eram cercadas por muros, os adultos os representam para amparar, proteger e criar esse respeito, como se dissessem “este muro guarda uma cidade”. Afinal de contas, quem não gosta de ser protegido por alguém superior, que tem função ou nome reconhecidos?
Na verdade, a criança nasce pura, mas a medida em que vai crescendo, os adultos vão impondo medos, dizendo “não coloca a mão na tomada senão leva choque...”, e, com isso, ferem a integridade, transformam o ser natural em um robô ensinado, programado. Isso é normal, mas acontece que, aos poucos, vai mudando a naturalidade e transferindo seu lugar para sentimentos que fazem parte do mundo dos adultos, lugar da consciência e da responsabilidade. Criança precisa ter tanta responsabilidade assim?
Lembre-se de sua infância e de como era a sua vida e o seu comportamento. Lembra do que você mais gostava de brincar? Dos alimentos que mais enjoava a mãe para comprar? As privações, as coças de “vara de goiabeira”, as amizades, os vínculos, a sinceridade, as astúcias, as justiças e injustiças? O que mais gostava de assistir na TV, os gibis, as roupas, a presença ou ausência de brinquedos ou quem sabe ainda, como os criava para simplesmente se divertir? Tinha significado? Era importante ou não passavam de ilusões de sua imaginação? Você conseguiria viver sem tudo àquilo que parecia ser fundamental? Agora, olha para uma criança à sua volta. Perceba o jeito, as manias, a maneira simples que encara a vida. O que é mais fácil: frear ou participar de sua “festa da sobrevivência”? Participe. Embora seja muito difícil, não custa nada tentar.
O PRIVILÉGIO DE SER NATURAL
28 julho 2010 Postado por JORNAL CULTURA VIVA por Edson Soares às 20:12 | Marcadores: Edson Soares
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário