Por muito tempo
vivi à sombra. Sem busca, sem identidade, sem nome. Minha vida era conduzida
pela fantasia. Momentos que traziam sorriso no rosto, mas não satisfaziam meu
interior. Eu era incompleto. Sem razão. Sem vazão. Vivia à sombra de pessoas
que, sutilmente, me humilhavam, me maltratavam e não me respeitavam. Na
verdade, não me reconheciam como alguém. Também quem era eu? Um ser? Um trapo?
Um farrapo? Sei lá.
Meus
pensamentos eram confusos. Minha fala era presa. Tinha tanto a dizer e não
pronunciava nada. Como um eco repetia sempre a fala do outro, vivia o
comportamento do outro. Eu era um espelho para o outro. Totalmente sem imagem,
sem visagem.
Até
que um dia... Ao observar o orvalho sobre as plantas num nascer de um dia lindo
pude entender que, assim como na natureza cada criação tem seu papel a cumprir,
eu também era uma pessoa e, como tal, poderia criar, produzir, dizer o que
pensava, falar dos meus sonhos, palestrar minhas opiniões, enfim, ser o que eu
quisesse ser onde eu quisesse ser. Sou um ser, então, posso coexistir. Se
alguém se incomodasse, o que poderia fazer? Já engoli tanto... Está na hora de
expelir. Aturem, me desculpem. Preciso viver. Preciso ser.
Desde então, descobri, a partir de mim, uma nova vida. Mudei o rumo da história. Fiz tudo diferente e hoje vivo em paz... Na plenitude de quem sonha, sem reservas, e acredita que pode facilitar a realização desses projetos, sem interrupções de terceiros. Até porque a vida é minha e ninguém interfere numa trama se o autor não permitir. E prossigo assim, simplesmente o que sou. Nada além.
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