Sessenta anos de carreira explica muita
coisa. Uma jornada inteira baseada em engajamentos que valeram a pena. E, ainda
assim, esse tempo emociona a cada novo trabalho apresentado ao público. Essa é
a realidade de Wilson Coca. Ator, coreógrafo,
figurinista, cenógrafo, diretor e dramaturgo, já trabalhou em
diversos Teatros de São Paulo e do Rio
de Janeiro, além de todos os canais de TV de São Paulo e Rio de Janeiro,
acumulado experiências nas principais emissoras do país, como TV Record, TV
Excelsior, TV Tupi (São Paulo e Rio de Janeiro), TV Rio, SBT (São Paulo) e
TV Globo (Rio de Janeiro).
No momento em
cartaz com a comédia “As Mona Lisas”, no Teatro Rutn Escobar, em São Paulo, mantém
seu sucesso. Um espetáculo que há 11 anos está em cartaz em todo o Brasil, Coca comenta o segredo dessa aceitação por parte do público. "Talvez o
sucesso esteja na simplicidade do texto, na ausência de palavrões e na
cumplicidade dos atores que estão comigo todo esse tempo", analisa.
Com exclusividade, Coca bateu um papo
com o CULTURA VIVA essa semana. Uma
honra pra gente. Acompanhe!
CULTURA VIVA: Em 60 anos
de carreira se imagina já ter visto de tudo no meio cultural. Algo ainda te
surpreende?
WILSON COCA: A vida nos surpreende a todo momento, não só
na área artística, mas no dia a dia. E, na arte, precisamos nos reciclar a cada
dia e sempre, senão ficamos fora do mercado e “vamos nos abandonando” e, ao
mesmo tempo, esquecidos pelo público e mídia ao longo da carreira.
C.V.: Há algum
paralelo em trabalhar com Teatro lá no início de sua carreira e a realidade do
setor hoje?
W.C.: Sim. Na arte de
interpretar, nas produções de hoje, no teatro de antigamente, as peças eram
apresentadas de terça a domingo, com duas sessões na quinta, duas no sábado e
duas no domingo. As peças infantis usavam somente o espaço na frente do cenário
da peça adulta que não era desmontado e funcionava perfeitamente. Nos dias de
hoje, mesmo quem paga pelo horário nobre que é muito alto, tem que desmontar
seu cenário para que o infantil use todo o palco, mesmo muitas vezes sem
necessidade.
C.V.: Que apelo você
faria para que autoridades, políticos e empresários valorizassem mais o Teatro
nacional?
W.C.: Que o governo que
faz gentileza com dinheiro alheio repassasse o valor da meia entrada que fomos
“obrigados” a ceder aos espectadores, que pagasse aos produtores. Que todos
tenham regalias, mas que alguém, “o produtor” não sofra as consequências. E,
aos empresários, que apoiassem, também, os pequenos produtores.
C.V.: Em cartaz, no
momento, com o espetáculo “As Mona Lisas” no Teatro Ruth Escobar (São Paulo), o
que te dá mais prazer em lidar com este texto no palco, especificamente?
W.C.: Não foi o meu
primeiro texto, mas o primeiro a ser encenado. Começamos como experiência em
horário alternativo em teatro da Praça Roosevelt e à meia noite, no final de
Novembro de 2003 e dali não paramos mais, a não ser quando não conseguimos
pauta em teatro. É uma peça onde não tem um palavrão sequer e se quiser
colocar, não cabe.
C.V.: E como tem sido
a receptividade do público com essa comédia?
W.C.: Grande. Me
surpreende sempre, pois muitas pessoas disputam para vir quem assistiu mais
vezes: alguns 9 vezes ao longo da temporada. Os pais levam crianças de oito,
dez, doze anos para assistir, a bilheteira avisa o tema, mas os pais entram. Como
colocamos “Recomendado para 14 anos”, um dos genitores assina um termo se
responsabilizando. A peça não ensina ninguém a ser gay e nem manda parar quem seja.
C.V.: Para quem já
trabalhou nas principais emissoras de TV do país, que análise você faz da
televisão hoje?
W.C.: Só digo que a TV
deveria “estar começando” agora, pois não se compara com grandes produções do
passado. Em todos os canais da época, alguns foram fechando e a Globo apareceu.
Programas com humoristas, orquestra, balé, enfim, grandes musicais onde o balé
era realmente valorizado, aliás, todos. O corpo de baile tinha seu momento de
glória, atração, como nós chamávamos. Em São Paulo, na Record, Excelsior,
Bandeirantes, programas maravilhosos com tudo acima citado e no Rio de Janeiro
na TV Tupi, antigo Cassino da Urca e Excelsior, musicais maravilhosos, Noite de
gala, Times Square, Vovô Deville, Tonelux, My fair Show e tantos outros. Hoje o
balé, que nos canais de TV é só feminino, fica como parte do cenário, acho que
deveria ser valorizado. Na TV Globo, iniciou aos domingos, se não me falha a
memória, como “Satiricon”, depois “Faça humor, não faça a guerra” e, posteriormente,
“Fantástico”, mas havia também grandes
musicais.
C.V.: Sente falta de
algo na TV que não se produz mais?
W.C.: Tudo que comentei
acima, e gostaria que uma emissora apresentasse algo diferente da outra, pois
hoje os programas parecem cópia do outro. Fazer graça sem denegrir as pessoas
como muitos fazem. Passei ao longo de minha carreira por diversas áreas: iniciei
como ator, depois bailarino, figurinista, cenógrafo, direção e autor. Então, posso
dizer, com segurança, o que citei acima.
C.V.: Qual sua opinião sobre essa onda de “reality
shows”?
W.C.: É complicada esta
pergunta, pois não assisto, não tenho tempo para ver, e também não gosto, mas
tem gente que gosta. Poderiam usar este horário para assuntos mais construtivos
e de cunho cultural ou tentar os moldes antigos que tanto sucesso fizeram.
C.V.: Completando 60
anos de carreira fez ou vai fazer algum tipo de comemoração para marcar a data?
W.C.: Ano passado, 2014 ao
completar, foram lançados sete livros, cada volume com três textos cada, um
total de vinte e um, embora eu tenha mais de sessenta textos registrados na
Fundação Biblioteca Nacional. Segundo a Editora Giostri e a proprietária do
Teatro Brigadeiro, Dona Maria Inêz, foi o lançamento de maior sucesso de vendas
e de público. Aconteceu no dia 20 de Outubro de 2014 e houve um “relançamento” dos
mesmos no dia 17 de Novembro com coquetel e tudo que teve direito.
C.V.: O que seu
público pode esperar ainda para este ano em sua carreira? Pode revelar alguns
de seus planos futuros?
W.C.: Fazer lançamento de
outros volumes, terminar o livro que estou preparando com nome provisório “Uma
certa família Coca”, que retrata minha família, pois é sobrenome mesmo,
espanhol e, neste, entram todos familiares, amigos que passaram pela minha
vida, lembranças desde a infância até os dias atuais. Mais duas comédias que
irão somar as outras sessenta e poucas, alguns dramas também. Uma minissérie já
em andamento. Roteiro para filme da peça “As
Mona Lisas” e reciclar sempre: a vida é uma roda; se não gira, enferruja ou
apodrece. Aqui, em São Paulo, duas peças
em cartaz no Teatro Ruth Escobar, “As Mona Lisas” e “A sogra
que pedi a Deus” e outra no Teatro
Bibi Ferreira, “Um certo machão”, e mais duas em Belo Horizonte. Trabalhando
sempre!
Foto1: Arquivo pessoal de Wilson Coca
Fotos 2, 3 e 4: Cenas da peça "As Mona Lisas"
Fotos:
Divulgação
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