A Companhia de Teatro Heliópolis estreia
o espetáculo Sutil Violento no dia 27 de maio (sábado,
às 20h), na Casa de Teatro Maria José de Carvalho, no bairro
Ipiranga, em São Paulo.
Com texto de Evill Rebouças e
encenação assinada por Miguel Rocha (diretor e fundador do
grupo), a montagem trata da violência sutil - visível ou comodamente invisível
- do nosso cotidiano.
A encenação de Sutil Violento inicia
com um frenesi cotidiano, as pessoas correm. Não param. Mal se percebem.
Desviam umas das outras, em alguns momentos se esbarram e, em átimos de
atenção, reparam que há outros tão próximos e tão parecidos (ou tão
diferentes?). Ali, logo ali, há um corpo caído no chão. Será um homem ou um
bicho? Apenas se cansou ou não respira mais? Queria comunicar algo, mas será
que conseguiu? Um olhar mais atento ao entorno começa a revelar abusos,
agressões, confrontos e opressões diárias: formas de coerção privadas ou
públicas. Sutis violências do nosso tempo; tão sutis que se tornam invisíveis,
naturalizadas.
Segundo o diretor Miguel Rocha, o espetáculo aborda
o tema microviolência por meio de uma estrutura fragmentada, tanto na cena
quanto no texto. A dramaturgia é composta por um conjunto de elementos: ações
físicas, movimentos, música ao vivo e texto. Não há personagens com trajetórias
traçadas, mas “figuras” cujas relações com o contexto social em que vivem estão
em foco, a exemplo da mulher que é silenciada e do jovem que usa sapatos de
salto mediante olhares atravessados. “As microviolências se revelam a partir
dessas relações que se estabelecem entre essas pessoas e a sociedade”,
argumenta o diretor.
A encenação tem trilha sonora de Meno Del Picchia,
executada ao vivo (guitarra, violoncelo e percussão). A música também tem sua
carga dramatúrgica em Sutil Violento e ajuda a
estabelecer as tensões entre as figuras, muitas vezes a força do discurso está
na musicalidade ou na própria canção interpretada. Outro ponto importante é o
espaço cênico: a Companhia de Teatro Heliópolis optou por uma instalação (de
Marcelo Denny) ao invés de cenografia. Nada convencional, o cenário cedeu lugar
a um ambiente todo coberto pela cor vermelha (piso, paredes e arquibancadas)
que, no primeiro contato, já propõe sensações diversas. “Queremos que o público
integre o espaço, e a monocromia ajuda a inseri-lo dentro da cena. Essa cor
vibrante, esse vermelho intenso tem como contraponto a luz fria, que também
contribui para a sensação de experimentação do não convencional”, conta o
diretor.
Miguel Rocha conclui que o espetáculo quer pontuar
as microviolências do nosso tempo, do Brasil de hoje; mostrar que as pequenas
ou sutis violências se potencializam mediantes suas naturalizações. “Sutil
Violento é muito mais provocação que denúncia. Cada um vai entender o
espetáculo pela perspectiva pessoal. Por isso acho importante trabalhar com
símbolos em cena, que reverberam sempre de forma diferente para cada pessoa; o
espectador vai se deparar com alguns deles em Sutil Violento.
É importante fazer o público pensar, e um argumento bom para isto é mesmo a
provocação.”
Sutil Violento é resultado
do projeto Microviolências e Suas Naturalizações, contemplado pela 28ª Edição
da Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Uma série de atividades
foi realizada, em 2016, durante o processo de pesquisa. Além de entrevistas com
pessoas da comunidade de Heliópolis, o grupo promoveu encontros para discutir a
“Naturalização da Violência” com importantes pensadores e ativistas: o
jornalista e doutor em ciência política Leonardo Sakamoto, a filósofa
Marcia Tiburi, a historiadora social Zilda Iokoi e o jornalista Bruno Paes
Manso. Os debates, mediados pela crítica teatral Maria Fernanda Vomero
(também provocadora), funcionaram comoprovocações teóricas fundamentais
para a construção do trabalho. O projeto teve ainda provocações teatrais
com Alexandre Mate e Marcelo Denny, preparação corporal e direção de movimento
de Lúcia Kakazu e figurino assinado por Samara Costa, entre outros.
Ficha técnica
Encenação: Miguel Rocha.
Texto: Evill Rebouças (criação em processo
colaborativo com a Cia de Teatro Heliópolis)
Elenco: Alex Mendes, Arthur Antonio, Dalma Régia,
David Guimarães, Klaviany Costa e Walmir Bess.
Direção de movimento e preparação Corporal: Lúcia Kakazu
Oficinas de dança: Nina Giovelli e Camila
Bronizeski
Direção musical e preparação vocal: Meno Del
Picchia
Oficinas de voz e canto: Olga Fernandez, Sofia Vila
Boas e Lu Horta
Músicos: Giovani Bressanin (guitarra), Peri Pane
(violoncelo) e Luciano Mendes de Jesus (percussão)
Sonoplastia: Giovani Bressanin
Provocação teórica e prática: Maria Fernanda Vomero
Provocação / teatro épico: Alexandre Mate
Provocação / teatro performático: Marcelo Denny
Mesas de debates: Marcia Tiburi, Leonardo Sakamoto,
Bruno Paes Mando e Zilda Iokoi
Mediadora/debates: Maria Fernanda Vomero
Organização de textos do programa: Maria Fernanda
Vomero
Cenografia/instalação: Marcelo Denny
Assistente de cenografia: Denise Fujimoto
Figurino: Samara Costa
Iluminação: Toninho Rodrigues e Miguel Rocha
Assistente de iluminação: Raphael Grem
Operação de luz: Gabriel Igor
Direção de produção: Dalma Régia
Produção executiva: Janete Menezes e Mayuri Tavares
Designer gráfico: Camila Teixeira
Fotos: Geovanna Gellan
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena
Realização: Companhia de Teatro Heliópolis
Apoio: 28ª Edição do Programa Municipal de Fomento
ao Teatro para a Cidade de São Paulo, AGC Vidros, Schioppa, Arno e Tonlight.
Espetáculo: Sutil Violência
Estreia: 27 de maio. Sábado, às 20 horas
Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Rua Silva Bueno, 1533. Ipiranga/SP. Tel: (11)
2060-0318
Temporada: 27 de maio a 27 de agosto (dia
29 de julho não haverá apresentação)
Horários: sextas e sábados 20h e
domingos, às 19 horas
Ingressos: Grátis (bilheteria 1h
antes das sessões)
Duração: 90 minutos. Gênero: Experimental.
Classificação: 14 anos
Capacidade: 48 lugares. Não possui acessibilidade.
Agendamento para escolas e ONGs: sessões das
sextas-feiras.
Foto: Geovanna Gellan
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