Uma perspectiva de vida pelo ângulo do
trapézio. O que leva uma pessoa a se interessar por esse esporte alternativo e
passar a viver dele? O jovem Rafael Antonio Puchivailo da empresa
Trapézio Voador, em São Paulo, tem a
resposta. Segundo ele, em
meados de 2007, em um projeto conjunto da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
com uma escola local em Curitiba, surgiu a oportunidade. “Eu já treinava circo
e ginástica olímpica no ginásio e, então, me foi apresentado a grande estrutura
do trapézio de voos”, contou.
Sem
histórico de profissionais na área dentro do seio familiar, pelo contrário,
oriundo de uma família convencional, seu pai trabalha na área de
seguros automotivos e seus irmãos em Administração. “Eu sempre me interessei
por esportes e artes. Tive a sorte de poder contar com o apoio deles no
desenvolvimento da minha carreira. O que me encantou sempre no trapézio, foi a
facilidade com que os artistas desenvolviam os exercícios com tanta leveza, e
ao vivenciar isso, descobri uma comunidade muito unida em apoiar o
desenvolvimento do outro, e não competir entre eles. No trapézio você fica
sempre disponível ao colega e essa energia é sem igual”, distingue a prática de
outras profissões.
E, assim, anos a fio com
dedicação e se destacando cada vez mais, Rafael se tornou um Instrutor de
Trapézio plenamente realizado e, hoje, conversa um pouco com o CULTURA VIVA
sobre essa vivência. Acompanhe!
CULTURA VIVA: Em sucintas palavras, qual a história do
trapézio no Brasil?
RAFAEL ANTONIO PUCHIVAILO: O trapézio de voos sempre esteve presente nas tendas tradicionais de
famílias circenses, nossos amados circos de picadeiro. Foi presente, também, em
escolas especializadas formadoras de artistas profissionais como a Unicirco e a
Escola Nacional no Rio de Janeiro, formando muitos artistas de altíssimo
nível que, até hoje, atuam em diversas das maiores companhias do mundo. Por
volta dos anos 2000, a atividade instruída foi importada para resorts como uma
opção de recreação e vem ganhando cada vez mais adeptos. Nos últimos dez anos
temos visto a abertura de cada vez mais estruturas e escolas especializadas.
C.V.: Como uma atividade física que exige coragem
e entrega, quais os benefícios para quem pratica a modalidade?
R.A.P.: O praticante de trapézio
voador vai vivenciar uma emoção nova a cada dia de treino, cada nova posição
executada é como voltar a emoção do primeiro salto e, como a maioria das
atividades circenses, a execução dos movimentos substituem uma boa parte de
opções de atividades físicas.
C.V.: Existem
restrições que impedem alguém da prática?
R.A.P.: Um trapézio bem equipado
e com uma equipe operacional experiente se torna uma atividade muito inclusiva,
onde crianças de 4 anos até vovôs de 70 ou mais podem vivenciar uma aula bacana
sem riscos. O que um interessado em praticar precisa estar atento é que a
atividade é executada em altura, geralmente a plataforma onde os saltos
acontecem está a 7m do chão. Pessoas sensíveis a essa situação devem ser acompanhadas
de perto; pessoas que têm alguma lesão ou limitação no movimento dos ombros,
sendo uma parte do corpo muito exigida durante a prática, também deve consultar
um médico antes de começar a prática.
C.V.: Conte uma curiosidade
do trapézio que muita gente não sabe.
R.A.P.: O trapézio voador é muito
mais próximo de atividades de meditação do que das de adrenalina. Apesar da
altura, o praticante, durante a execução, tem que estar focado e aberto aos
comandos e orientações do seu instrutor ou, até mesmo, de um colega de equipe. Deve
acompanhar o trapézio no movimento de balanço e não lutar contra. No trapézio
precisão é tudo.
C.V.: A partir de
que idade uma pessoa já pode praticar o esporte?
R.A.P.: Com o acompanhamento
correto temos espaços fornecendo atendimento de crianças com 4 anos para
vivências e, a partir de 9 anos, para treinamentos.
C.V.: Em que
quesito o trapézio passa à frente se comparado com outras atividades físicas?
R.A.P.: A atividade do trapézio
se diferencia devido ao foco não ser uma atividade física. Sendo uma arte
oriunda do circo, a dinâmica acontece de forma divertida e leve. Como o
objetivo é executar a figura proposta ao invés de atingir certa quantidade ou
competir com outro praticante, o resultado físico se torna um bônus por estar
se desenvolvendo tecnicamente.
C.V.: Embora tenha
tantos benefícios, o custo é alto para quem deseja praticar o trapézio. O que
mais encarece a prestação do serviço?
R.A.P.: O valor agregado na prestação
da aula de trapézio vem da sensibilidade que a atividade requer. Uma escola
comprometida com o bem estar e segurança dos seus alunos vai estar sempre
investindo em manutenção preventiva de seus equipamentos e trazendo instrutores
formados na área e com experiência na operação dos equipamentos de segurança.
Temos sempre que lembrar que, em um trapézio, estamos executando movimentos
entre sete a dez metros de altura. Por isso, em todas as aulas temos, no mínimo,
três instrutores atuando ao mesmo tempo para garantir que tudo saia com
segurança.
C.V.: E para quem deseja trabalhar na área há
campo profissional? Tem muitas exigências?
R.A.P.: Para aqueles que desejam
se aperfeiçoar e profissionalizar, não só em nível Brasil como mundialmente
existe uma procura muito grande por instrutores. O Brasil hoje é um grande
exportador de mão de obra de qualidade, tanto artistas profissionais como
instrutores que atuam em hotéis, acampamentos intensivos e escolas ao redor do
mundo. Um instrutor de trapézio deve ser uma pessoa responsável, comprometida
com os procedimentos de segurança, e proativa na inovação de acompanhamentos
durante as aulas.
C.V.: Em São
Paulo, você e grande equipe atuam num espaço chamado Trapézio Voador. Existem
muitos outros espaços na cidade?
R.A.P.: A Trapézio Voador é um projeto
sem precedentes no Brasil. Os idealizadores do projeto o desenvolveram com
muito carinho e pensando nos mínimos detalhes. A escola foi, literalmente,
construída do zero com foco em acolher a estrutura que hoje utilizamos. Apesar
de termos uma quantidade significante de escolas de circo em São Paulo, a
Trapézio Voador é a única que oferece a opção de aula com trapézio de voos,
sendo o carro-forte da escola que leva a atividade até no nome.
C.V.: Em sua
opinião, qualquer município pode aderir a esta prestação de serviço, facilmente?
Há grande público para o setor?
R.A.P.: O circo sempre teve seu
magnetismo natural: onde estiver localizado sempre irá ter interesse de
profissionais e curiosos. Eu acho que estamos vivendo um crescimento muito
grande no reconhecimento das artes como prática regular e isso só tende a
aumentar nos próximos anos. Com as pessoas migrando de atividades mais
rotineiras para propostas que ofereçam mais do que apenas atividade
física.
C.V.: Que recado
você deixa para quem deseja praticar o trapézio, mas tem medo?
R.A.P.: De o primeiro passo,
tente procurar uma escola próxima e assista uma aula. Ganhe a motivação pouco a
pouco, entenda que você não precisa fazer um salto mortal logo na primeira
aula. Uma equipe vai comemorar, com você, o primeiro balanço, o primeiro salto,
um degrau por vez. Permita essa evolução gradativa em você, e vai acabar
experimentando uma sensação que nunca teve antes.
Fotos: Arquivo pessoal de Rafael Antonio Puchivailo
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