Experiente e dedicado ao seu ofício com os pés no chão, literalmente, o
ator Fábio Guará mantém sua carreira,
passeando entre o Teatro, a TV e a publicidade, onde coleciona boas histórias
em sua bagagem. Um dos personagens que interpretou na televisão e ganha
destaque até hoje é o “Cícero” da
série “Saúde em Cena”, produzida
pelo Canal Saúde, ainda no ar aos
domingos, às 14h. Cadeirante, o rapaz representa a vida de muitos que não
deixam as limitações paralisarem sua vida e, além de ser membro de um Conselho
de Saúde, também é esportista. Quanta realidade num só personagem! Nem parece
ficção, só vendo!
Em entrevista exclusiva ao CULTURA
VIVA, Guará relata os episódios das cenas de sua carreira.
Acompanhe!
CULTURA
VIVA: Seu sobrenome "Guará" tem
descendência indígena?
FÁBIO
GUARÁ:
“Fábio Guará” vem do nome da minha cidade, Guaratinguetá, no interior de São Paulo.
Mas, a palavra é indígena e significa "ave", a garça.
C.V.:
Desde quando trabalha como ator e como avalia a
profissão, hoje?
F.G.: Entrei na
faculdade de Artes Cênicas, em 2001. Era uma época diferente. Como me formei em
São Paulo, o Teatro foi muito importante na minha formação. A TV era muito
forte; o cinema, um pouco distante e, a publicidade, pagava muito bem. Hoje, a
internet tomou conta de tudo e temos que nos adaptar à realidade que estamos
vivendo. Todos somos figuras sociais, hoje, nas redes. Então, parece um grande
Teatro ou filme que acompanhamos o tempo inteiro. Estou em processo de
transformação, também, querendo aprender mais dessas novas plataformas. O
cinema, o audiovisual e a web estão na mão de todos. A profissão é um funil e é
muito cruel, às vezes. Cerca de 95% dos atores brasileiros não conseguem pagar
suas contas e, quando produzem algo, geralmente, é sem apoio. Então, pagam para
estar na vitrine e quitam suas contas com outras rendas, através de outros
trabalhos; 4% sobrevivem vendendo o almoço para pagar o jantar, ou melhor, as
contas; 1 % desfruta de uma liberdade maior, tanto de status social, como financeira.
Portanto, ser artista e ainda mais ator, no Brasil, está ligado a fama. Agora,
depois da pandemia, vamos aguardar como a profissão irá reagir. Por certo, teremos
que nos reinventar.
C.V.:
Dos personagens que já interpretou, qual
destacaria?
F.G.: Destacaria a “Boca de Ouro do Nelson” – minha primeira
peça, onde tive a honra de fazer esse personagem e foi decisivo no meu processo
de autoafirmação como ator e percebi que queria fazer aquilo para o resto da
vida. Tem alguns outros momentos que foram maravilhosos! A profissão é uma
escada e eu continuo subindo degrau por degrau.
C.V.:
Já passou por alguma saia justa em cena? Como
foi?
F.G.: Esquecer o texto sempre é clássico, mas é
maravilhoso, pois te deixa vivo! Certa vez, em 2012, voltei para São Paulo, já
com meu grupo, para fazermos uma apresentação dentro de um festival e
apresentei, no Teatro, o grupo que eu trabalhava. Então, estava bem emotivo com
aquilo. Entrei em cena, justamente da peça que eu dirigia e atuava, e esqueci
todo o texto da primeira cena. Quando entrei, no camarim, comecei a chorar de
emoção: um amigo me deu uns tapas e uns safanões. Daí, acordei! No teatro é
assim: errou uma cena é preciso arrasar na outra!
C.V.:
Durante sua carreira, o personagem
"Cícero", da série "Saúde em Cena", gravado em 2013 e
exibido pelo Canal Saúde até hoje, trata-se de um cadeirante muito
ativo na sociedade, onde faz parte de um Conselho de Saúde e ainda é
esportista. Como analisa o personagem frente à realidade?
F.G.: Foi, com certeza, em dramaturgia, a oportunidade mais
irada que eu tive na minha vida! Tive liberdade para criar uma história linda,
contar e a oportunidade de, ficcionalmente, estar no lugar de um cadeirante; participei
dos treinos com eles, escutei as histórias de todos. Percebi que a força dessas
pessoas, frente à realidade que encaram num país que fecha os olhos para a
situação, é muito poderosa. Acredito que é necessário, cada vez mais,
investimentos no Esporte, na Cultura....Enfim, viver na pele tudo aquilo, foi
demais! Que saudade dessas gravações e da minha equipe da cidade “Vitoriosa”!
C.V.:
Em sua opinião, o preconceito paralisa muitos
cadeirantes?
F.G.: Acho que sim, mas o que mais paralisa é a falta de
apoio e condições dessa galera poder viver de uma forma digna. Temos prova que
o Esporte é uma ferramenta transformadora
na vida do cadeirante.
C.V.:
E, no mercado de trabalho, considera justas as
vagas dedicadas a pessoas com deficiência?
F.G.: Acho que está melhorando devido a algumas
iniciativas, mas está bem longe de serem ideais. As condições de vida para a pessoa
que tem deficiência precisam melhorar. Ainda mais nas áreas carentes, onde isso
nem existe, praticamente.
C.V.:
A televisão seria uma aliada no combate ao
preconceito?
F.G.: Sim, a televisão pode ajudar muito, mas acho que a
internet cumpre também esse papel, ainda devido ao “BBB” da vida real.
C.V.:
Em que o Governo, de forma geral, pode ser um
aliado nesta questão tão séria?
F.G.: Deveria, mas eles ainda acreditam que estão em
campanha eleitoral. Então, vejo, com tristeza, esse momento.
C.V.:
O que você diria a um cadeirante que esteja
desestimulado por várias questões?
F.G.: Para ele fazer o que gosta de verdade, pois pode
até não ter tanto retorno financeiro, mas, com certeza, será muito feliz!
C.V.:
Quais são as novidades de sua carreira para
este ano? A pandemia impediu muitas realizações?
F.G.: Aguardo o lançamento de alguns filmes que fiz
participação. Em janeiro levei meu espetáculo para Cabo Verde, como, em 2018,
fomos à Angola com a peça “Será que a gente influencia o Caetano?”, de Mario Bortolotto,
e tivemos sucesso, retornamos à África. Alguns trabalhos acabaram caindo e,
outros, estou no aguardo de definições e normas para as filmagens ocorrerem. Sobre
Teatro, em 2020, não sei como vai ser, realmente.
C.V.:
Para 2021 reserva algo especial para seu
público?
F.G.: Sim, uma peça com nova temporada no Rio de Janeiro
e São Paulo, e a continuação de uma turnê com a peça para Portugal e, quem sabe,
nos Estados Unidos, lembrando que tudo isso sem patrocínio. No caso do Teatro, pois,
como diria Jorge Fernando, "o que a gente não inventa, não existe”.
C.V.: Em que canais
de Comunicação do público pode te seguir?
F.G.: Devem procurar pela “Tartufaria de atores” no Instagram e no Facebook.
Fotos: Arquivo pessoal de Fábio Guará
1 comentários:
Oi, Edson! Ótima entrevista, parabéns! Sucesso ao blog e ao Fábio Guará em seus projetos para este ano e o próximo!
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