Heitor Werneck fala de sua vida baseada na liberdade e no respeito ao ser humano como um todo

 

Uma vida de aventuras, sem fronteiras, sem barreiras ou preconceitos, onde a liberdade comanda a realidade, sem reservas. Assim é o cotidiano do estilista, produtor cultural e ator de filmes adultos, o mestre da moda fetichista, Heitor Werneck.

 

Exatamente hoje, ao completar 55 anos, concedeu entrevista exclusiva ao CULTURA VIVA e fala de sua carreira, saúde e os sucessos de seus figurinos para personagens diversos nas novelas da Rede Globo – de “Vamp” (nos Anos 90) até “Pecado Capital”, recentemente – e muito mais!

 

Acompanhe este bate papo irado! Viva!

 

CULTURA VIVA: O que te levou a ser um estilista, outrora? A moda da época te incentivou ou alguma inconformidade o despertou para tal?

HEITOR WERNECK: Tive uma criação com uma pessoa que me ensinou tricot, crochet e costura, que foi a minha avó. Ela me chamava de poeta e era muito carinhosa comigo! E aí eu reformava minhas roupas ou fazia porque nunca achava o que queria. Anos depois, no “Madame Satã”, eu fazia roupas minhas. Na época da Nation, eu morava fora e, depois, vim para São Paulo. Comecei a fazer roupas modernas e vendia em São Paulo. Ai começou a Escola de Divinos.

 

C.V.: Como foi sua reação ao ver a primeira peça pronta? Deu vontade de produzir em larga escala?

H.W.:  A minha felicidade foi ter feito roupas para uma loja chamada Boat e o figurino ter sido comprado para a novela “Vamp”. Desde então, toda novela da Rede Globo até “Pecado Capital”, fiz algum personagem.

 

C.V.: Teve muito apoio no início da carreira?

H.W.: Nunca tive apoio de ninguém.  A não ser dos meus amigos que compravam as roupas. Nunca tive apoio nenhum de governo, nem prêmio, nem incentivo por empregar jeans e fazer desfiles para pop de rua e HIV, desde 1992. Eu sempre trabalhei com e para LGBTs, a população LGBT e para HIVSAIDS.

 

C.V.: O senhor foi responsável pelo figurino da novela "Vamp" da Rede Globo, nos Anos 90 e foi o maior sucesso nacional. Que recordação tem daquela fase?

H.W.: Meu maior orgulho foi de sempre levar a cultura fetichista, de rua e levantar o respeito ao povo de rua e pop LGBTQ.

 

C.V.: Em seguida, continuou produzindo figurinos para dezenas de outras novelas na Globo. Por que não trabalha mais para a emissora?

H.W.: Eu não quis mais trabalhar com moda depois que tive um câncer nos ossos. Quis me cuidar. Hoje, vejo sentido nisso de novo. Talvez volte com a Escola de Divinos.

 

C.V.: Sua marca, muito forte, é o fetiche. Já produziu algum desfile com figurinos para adeptos?

H.W.: Todos os desfiles da escola de Divinos eram fetichistas. Não sei viver ou pensar de outra forma. Sexo e criação fazem parte do meu universo.

 

C.V.: Em 2002 o senhor teve câncer nos ossos e não se entregou à doença, pelo contrário, o ocorrido te fortaleceu. Como sai uma pessoa de uma experiência dessas? 

H.W.: A vida é um presente e uma escolha. Eu sempre escolhi o que quis para ficar ao meu lado, e sempre vi o que era bom para tirar proveito. Tive bons médicos porque escolhi e tive um bom tratamento, eu questionava. Minha alimentação sempre foi vegana e acho que isso me fortalece.

 

C.V.: No momento, o senhor desenvolve trabalho nas ruas, auxiliando pessoas que precisam, principalmente no tocante à saúde. Por que teve essa iniciativa? Como tem sido esse cotidiano?

H.W.: Eu sempre trabalhei com população de rua. Eles sempre me inspiraram, pois eu fui garoto de rua e, na rua, aprendi coisas muito melhores. Eu tive lições de companheirismo e de ajuda na rua. Na verdade, a rua e o underground sempre me inspiram e vejo muitas pessoas na rua hoje por abandono. Me sinto responsável, pois a rua é de todos e aceita todos. Ando nela, é minha segunda casa, onde vivo. Tenho que tratar bem dela e de seus moradores. Vejo muitas pessoas abandonadas, muitas realidades ali esquecidas, idosos doentes mentais, mulheres, crianças...  Me assusta muita gente ser invisível a outras. Acredito q posso usar minha rede e meus conhecimentos para tentar mudar isto.

 

C.V.: O que tem preparado para seu público da moda neste ano? 

H.W.: Acho que voltarei com escola de Divinos, acho e vou voltar com uma campanha de HIV AIDS. E fazer filmes... muitos e muitos filmes pornô, pois acredito que, depois dos 50, é muito importante se falar de sexo, beleza, fetiches e também levantar esta bandeira do amor pornô ou mercado erótico. É algo sério e tem que ser respeitado. E bom ser visto ou contratado.

 

C.V.: Quais são suas redes sociais?

H.W.: Tenho Instagram da festa  (@projeto_luxuria), da ação social  (@projetodivercidade) e o meu pessoal  (@heitorwerneck.perfiloficial)

 

Fotos: Divulgação