Walney Costa e a forma artística de conduzir a vida

11 janeiro 2022 |



Nascer para brilhar não precisa estar na tela da TV, necessariamente, para cumprir uma missão. Quando o artista assume sua carreira, onde estiver pode transformar o local num grande palco e, mesmo que a plateia seja pequena, não deixará de semear o que veio de fato fazer nessa vida: transmitir cultura saudável, bons conteúdos e despedir, dali, pessoas com sentimentos de esperança e desejos de uma vida melhor, coletivamente.

 

Afastado da TV há alguns anos, o ator Walney Costa, que interpretou, dentre outros papéis, o policial “Uchoa” da novela “Paraíso Tropical”, em reprise no Canal Viva, atualmente, mantém sua carreira viva em Porto Alegre (RS), onde reside, mas não deixa a peteca cair: faz um trabalho performático nas ruas de sua cidade dividindo o palco com o músico Rafael Erê, e busca parcerias para novos trabalhos.

 

Em conversa hoje com o CULTURA VIVA, o astro fala de sua carreira e das experiências inesquecíveis vividas ao longo de sua história na arte.

 

Acompanhe! 

 

 

CULTURA VIVA: Que fato marca o início de sua carreira?

WALNEY COSTA: Comecei às vésperas dos anos 80. Fazia curso de Teatro no Colégio Pio XII com a adorável professora Laura Cezarino, aqui em Porto Alegre, e, numa das apresentações, encenei uma poesia minha. Nunca tinha dito um texto meu em público antes e aquilo ferveu a minha alma. Acho que aquele foi um dos primeiros sinais que eu já estava contagiado com o vírus de Pã, Shiva, Dionysio, Ariadne, Afrodite & Grande Elenco.

 

C.V.: Qual foi o trabalho que realizou e impulsionou seu nome no mercado?

W.C.: Depende do conceito de mercado e de qual a localização do tal mercado. Mercado vem da palavra Marcado, coisa herdada dos tempos da escravidão por seu “senhorio”, prática que, infelizmente, ainda é mantida nos formatos mais diversos para negar os avanços das leis civilizatórias. O grande tabu ainda é questionar o patrão e os padrões de qualidade impostos por ele, do tipo: “a censura” já vem embutida no contrato e passa a ser considerada “prática do mercado” (pois teria feito quem supostamente “aceitou” fazer), contrariando as leis conquistadas e constitucionalizadas. E essa questão é pontual, especialmente, no caso dos “direitos conexos autorais do intérprete”; é o ponto totem (mais do que nunca na história desse país) para que as nossas carreiras sejam bem ou malsucedidas, “parAlém” do talento, vocação e exposição... Mas, em Porto Alegre, creio que o que impulsionou meu início foi ter sido eleito pelo Jornal ZH “O Melhor Ator do Ano”, em 1981, por meu desempenho em “O Maravilhoso Mundo do Circo”. No Rio, foi “Bailei na Curva”, no Teatro. Já na TV foi “O Primo Basílio”, especialmente, porque fui escolhido após testes rígidos para substituir o “insubstituível” Gilberto Braga, no papel de Visconde Reinaldo. Em São Paulo foi ter participado da fértil renascença do Teatro Oficina com Bacantes, Os Mistérios Gozosos e Ham-Let.       

 

C.V.:  Em sua opinião, como andam as produções teatrais? A qualidade é a mesma de outrora? A pandemia afetou demais?

 W.C.: As Produções do Teatro, bem como do Audiovisual são muito distintas entre si e, dependendo da região e da intenção, incomparáveis. As diferenças são colossais do ponto de vista dos recursos técnicos e de grana investida. Quem tinha recursos ou contratos antes da pandemia, praticamente, só ficou carente do contato com o público, pois se manteve em total evidência na grande mídia e/ou com recursos para impulsionar milhares e/ou milhões de visualizações nas redes paralelas e offshore das mais variadas levadas. Mas, em compensação, quem estava na peneira, estava peneirando e/ou peneirado e desfavorecido de apoios na véspera da pandemia, teve e tem que fazer das tripas ao coração para realizar uma obra/produto “competitivo”. Porém, em ambos os casos, a qualidade e a criatividade do artista brasileiro é sensacional!

 

C.V.: Além de atuar, você também canta e sua voz é potente para locução. Quais os trabalhos que já fez e exigiu muito desse talento?

W.C.: Vamos repaginar essa pergunta... Eu, além de atuar, sou autor e também diretor, gosto de cantar, melodio minhas poesias em forma de canções. Na real, sou bastante mal aproveitado pelo “mercado”, tanto musical como das locuções e narrativas. Mas, fiz várias coisas do gênero e algumas foram ótimas! Trabalhei na publicidade também, inclusive, nos primórdios, fui Diretor e Produtor de RTVC na agência Martins & Andrade, aqui em Porto Alegre.

 

C.V.: Está no ar a reprise da novela "Paraíso Tropical", pelo Canal Viva, onde você interpreta o policial "Uchoa". Que recordação tem desse grande sucesso?

W.C.: Recordo que passei um baita dum tempo com Fernanda Montenegro num dos camarins do Projac esperando para gravar uma cena e, nessa época, eu também estava lançando meu livro-livre “Poemáscara” e, assim, presenteei a Estrela Maior com um exemplar da poesia “CenAcumuladA” –  coisa que ela leu em voz alta – momento eternizado em minha alma! Me lembro de muita coisa e das boas risadas que dei com Ernani de Morais. Inclusive, o  Casseta & Planeta parodiou nossa dupla, pois eu, praticamente, só pensava em cena  e ele concluía, por mim, com vasta oratória (riso livre).

 

C.V.: De lá para cá, atuou em outras novelas? Quais?

W.C.: Depois de Paraiso Tropical tive que vir para Porto Alegre por questões da ordem da saúde da minha mãe. E o que deveria ser breve se estendeu e, assim, procurei me readaptar à nova realidade que aconteceu por aqui. Fiz poucas coisas na TV e, no Cinema, aí no eixo Rio-Sampa depois que passei a morar novamente no Sul, bem como não fiz muita coisa com visibilidade dessa ordem por aqui, a não ser o ótimo seriado que reprisa direto na Prime Box Brazil “Paralelo 30”, onde sou um dos protagonistas. Depois que voltei para Porto Alegre me chamaram apenas para fazer um fotógrafo em “Malhação”, um Ministro das Forças Armadas em “Brado Retumbante” e um traficante de mulheres em “Salve Jorge”, entre outras participações de leve e algumas sondagens. Mas, me informaram que baixou uma portaria por aí, proibindo ator não residente no Rio de fazer participações, por conta de questões orçamentárias.

 

C.V.: Atualmente, qual o trabalho está desenvolvendo no mercado?

W.C.: Criatividade, consciência de classe e de categoria. Procuro parcerias e ofereço solidariedade a quem precisa. Mas, não paro de fazer, mesmo me perguntando como encaminhar e comercializar tal demanda em tempos de algoritmos e pacotes de visibilidade, sem botar grana para fazer girar a roda.


 


C.V.: Geralmente, no eixo Rio-São Paulo é o local onde o artista consegue as melhores oportunidades. Você mora no Rio Grande do Sul. Como tem sido o mercado em termos de ofertas de trabalho em sua região?

W.C.: Muito Ruim. Fora o fato que a “indústria do audiovisual” daqui, talvez de todo o Brasil, fora Rio-Sampa, abusa dos artistas, especialmente do ator e da atriz, pois, normalmente, nos convidam tendo pouca ou nenhuma verba para pagar pelo nosso trabalho, a título de colaborar com a cultura, fomentando a arte. E, nessa pseudo-narrativa de solidariedade, de cima para baixo, aproveitam-se, também, do desejo do artista de se exprimir, ter oportunidades e visibilidade e, assim, os senhores feudais do streaming dos portais e plataformas digitais, praticamente, obrigam os atores e atrizes a assinarem contratos liberando, para o resto da vida, nosso direito de receber por revendas, reprises e demais pacotes comerciais, coisa que é crime constitucional (as redes de TV não fazem isso, mas deveriam aprimorar essa relação profissional e divulgar esta questão, amplamente). Por um detalhe histórico (cuja origem e narrativa não cabe aqui), movo o primeiro processo dessa ordem, posterior a Lei n.º 9.610/98 (LDA) dos direitos conexos ao autor/intérprete, onde está previsto, estabelecido e garantido o direito à remuneração e que, assim, por consequência de descumprimento, torna-se crime o não pagamento do intérprete-autor-trabalhador do audiovisual.

 

C.V.: Quais as novidades que prepara para seu público nesse novo ano?

W.C.: Venho desenvolvendo e botando na roda com o músico Rafael Erê um trabalho performático nas ruas com transmissão online ou não, roteirizando o meta-conflito estabelecido para o artista nos dias de hoje, através de canções populares e textos de minha autoria e de poetas de expressão e consanguinidade temática, que temos chamado de “Ensaio Aberto” e/ou “Wall Street”. Mas, tanto no Facebook, YouTube e Instagram, embora não tenha nenhum pacote de visualização, estou sempre, em forma de layout, botando muita coisa inédita ou pouco vista na roda, para manter a intenção de encontrar o outro e, com o outro, feito esse nosso encontro.

 

C.V.: Quais são suas redes sociais?

W.C.: No   YouTube    é    wwwalney (https://www.youtube.com/user/wwwalney); no   Facebook   é   Walney Costa (https://www.facebook.com/walney.costa.1); no    Instagram    é    Vauneie (https://www.instagram.com/vauneie/?hl=pt-br).



Um pouco da carreira do ator Walney Costa:

















  

Fotos: Divulgação

 


3 comentários:

Liège Copstein disse...

O Walney é D+!!!

Blog do Pardal disse...

Esse é craque!!

Unknown disse...

muito bom! 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽