Nascer para brilhar não precisa
estar na tela da TV, necessariamente, para cumprir uma missão. Quando o artista
assume sua carreira, onde estiver pode transformar o local num grande palco e, mesmo
que a plateia seja pequena, não deixará de semear o que veio de fato fazer
nessa vida: transmitir cultura saudável, bons conteúdos e despedir, dali, pessoas
com sentimentos de esperança e desejos de uma vida melhor, coletivamente.
Afastado da TV há alguns
anos, o ator Walney Costa, que
interpretou, dentre outros papéis, o
policial “Uchoa” da novela “Paraíso Tropical”, em reprise no Canal Viva,
atualmente, mantém sua carreira viva em
Porto Alegre (RS), onde reside, mas não deixa a peteca cair: faz um
trabalho performático nas ruas de sua cidade dividindo o palco com o músico Rafael Erê, e busca parcerias para novos
trabalhos.
Em conversa hoje com o CULTURA VIVA, o astro fala de sua carreira e das experiências
inesquecíveis vividas ao longo de sua história na arte.
Acompanhe!
CULTURA VIVA: Que fato
marca o início de sua carreira?
WALNEY COSTA: Comecei às vésperas dos anos 80. Fazia curso de Teatro
no Colégio Pio XII com a adorável professora Laura Cezarino, aqui em Porto
Alegre, e, numa das apresentações, encenei uma poesia minha. Nunca tinha dito
um texto meu em público antes e aquilo ferveu a minha alma. Acho que aquele foi
um dos primeiros sinais que eu já estava contagiado com o vírus de Pã, Shiva,
Dionysio, Ariadne, Afrodite & Grande Elenco.
C.V.: Qual foi o trabalho que
realizou e impulsionou seu nome no mercado?
W.C.: Depende do conceito de mercado e de qual a localização do tal mercado. Mercado
vem da palavra Marcado, coisa herdada dos tempos da escravidão por seu
“senhorio”, prática que, infelizmente, ainda é mantida nos formatos mais
diversos para negar os avanços das leis civilizatórias. O grande tabu ainda é
questionar o patrão e os padrões de qualidade impostos por ele, do tipo: “a
censura” já vem embutida no contrato e passa a ser considerada “prática do
mercado” (pois teria feito quem supostamente “aceitou” fazer), contrariando as
leis conquistadas e constitucionalizadas. E essa questão é pontual,
especialmente, no caso dos “direitos conexos autorais do intérprete”; é o ponto
totem (mais do que nunca na história desse país) para que as nossas carreiras
sejam bem ou malsucedidas, “parAlém” do talento, vocação e exposição... Mas, em
Porto Alegre, creio que o que impulsionou meu início foi ter sido eleito pelo
Jornal ZH “O Melhor Ator do Ano”, em 1981, por meu desempenho em “O Maravilhoso
Mundo do Circo”. No Rio, foi “Bailei na Curva”, no Teatro. Já na TV foi “O
Primo Basílio”, especialmente, porque fui escolhido após testes rígidos para
substituir o “insubstituível” Gilberto Braga, no papel de Visconde Reinaldo. Em
São Paulo foi ter participado da fértil renascença do Teatro Oficina com
Bacantes, Os Mistérios Gozosos e Ham-Let.
C.V.: Em sua opinião, como
andam as produções teatrais? A qualidade é a mesma de outrora? A pandemia
afetou demais?
W.C.: As Produções do Teatro,
bem como do Audiovisual são muito distintas entre si e, dependendo da região e
da intenção, incomparáveis. As diferenças são colossais do ponto de vista dos
recursos técnicos e de grana investida. Quem
tinha recursos ou contratos antes da pandemia, praticamente, só ficou carente
do contato com o público, pois se manteve em total evidência na grande mídia
e/ou com recursos para impulsionar milhares e/ou milhões de visualizações nas
redes paralelas e offshore das mais variadas levadas. Mas, em compensação, quem
estava na peneira, estava peneirando e/ou peneirado e desfavorecido de apoios
na véspera da pandemia, teve e tem que fazer das tripas ao coração para
realizar uma obra/produto “competitivo”. Porém, em ambos os casos, a qualidade
e a criatividade do artista brasileiro é sensacional!
C.V.: Além de atuar, você também
canta e sua voz é potente para locução. Quais os trabalhos que já fez e exigiu
muito desse talento?
W.C.: Vamos repaginar essa pergunta... Eu, além de
atuar, sou autor e também diretor, gosto de cantar, melodio minhas poesias em
forma de canções. Na real, sou bastante mal aproveitado pelo “mercado”, tanto
musical como das locuções e narrativas. Mas, fiz várias coisas do gênero e
algumas foram ótimas! Trabalhei na publicidade também, inclusive, nos
primórdios, fui Diretor e Produtor de RTVC na agência Martins & Andrade,
aqui em Porto Alegre.
C.V.: Está no ar a reprise da
novela "Paraíso Tropical", pelo Canal Viva, onde você interpreta o
policial "Uchoa". Que recordação tem desse grande sucesso?
W.C.: Recordo
que passei um baita dum tempo com Fernanda Montenegro num dos camarins do
Projac esperando para gravar uma cena e, nessa época, eu também estava lançando
meu livro-livre “Poemáscara” e, assim, presenteei a Estrela Maior com um exemplar
da poesia “CenAcumuladA” – coisa que ela
leu em voz alta – momento eternizado em minha alma! Me lembro de muita coisa e
das boas risadas que dei com Ernani de Morais. Inclusive, o Casseta &
Planeta parodiou nossa dupla, pois eu, praticamente, só pensava em cena e
ele concluía, por mim, com vasta oratória (riso livre).
C.V.: De lá para cá, atuou em
outras novelas? Quais?
W.C.: Depois de Paraiso Tropical tive que vir para Porto Alegre por questões
da ordem da saúde da minha mãe. E o que deveria ser breve se estendeu e, assim,
procurei me readaptar à nova realidade que aconteceu por aqui. Fiz poucas
coisas na TV e, no Cinema, aí no eixo Rio-Sampa depois que passei a morar
novamente no Sul, bem como não fiz muita coisa com visibilidade dessa ordem por
aqui, a não ser o ótimo seriado que reprisa direto na Prime Box Brazil
“Paralelo 30”, onde sou um dos protagonistas. Depois que voltei para Porto Alegre
me chamaram apenas para fazer um fotógrafo em “Malhação”, um Ministro das Forças
Armadas em “Brado Retumbante” e um traficante de mulheres em “Salve Jorge”,
entre outras participações de leve e algumas sondagens. Mas, me informaram que
baixou uma portaria por aí, proibindo ator não residente no Rio de fazer
participações, por conta de questões orçamentárias.
C.V.: Atualmente, qual o trabalho
está desenvolvendo no mercado?
W.C.: Criatividade, consciência de classe e de categoria. Procuro parcerias e ofereço solidariedade a
quem precisa. Mas, não paro de fazer, mesmo me perguntando como encaminhar e
comercializar tal demanda em tempos de algoritmos e pacotes de visibilidade,
sem botar grana para fazer girar a roda.
C.V.: Geralmente, no eixo Rio-São Paulo é o local
onde o artista consegue as melhores oportunidades. Você mora no Rio Grande do
Sul. Como tem sido o mercado em termos de ofertas de trabalho em sua região?
W.C.: Muito Ruim. Fora o fato que a “indústria do audiovisual” daqui, talvez de
todo o Brasil, fora Rio-Sampa, abusa dos artistas, especialmente do ator e da
atriz, pois, normalmente, nos convidam tendo pouca ou nenhuma verba para
pagar pelo nosso trabalho, a título de colaborar com a cultura, fomentando a
arte. E, nessa pseudo-narrativa de solidariedade, de cima para baixo,
aproveitam-se, também, do desejo do artista de se exprimir, ter oportunidades e
visibilidade e, assim, os senhores feudais do streaming dos portais e
plataformas digitais, praticamente, obrigam os atores e atrizes a assinarem contratos
liberando, para o resto da vida, nosso direito de receber por revendas,
reprises e demais pacotes comerciais, coisa que é crime constitucional (as
redes de TV não fazem isso, mas deveriam aprimorar essa relação profissional e
divulgar esta questão, amplamente). Por um detalhe histórico (cuja origem e
narrativa não cabe aqui), movo o primeiro processo dessa ordem, posterior a Lei n.º
9.610/98 (LDA) dos direitos conexos ao autor/intérprete, onde está
previsto, estabelecido e garantido o direito à remuneração e que, assim,
por consequência de descumprimento, torna-se crime o não pagamento do
intérprete-autor-trabalhador do audiovisual.
C.V.: Quais as novidades que
prepara para seu público nesse novo ano?
W.C.: Venho desenvolvendo e botando na roda com o músico Rafael Erê um
trabalho performático nas ruas com transmissão online ou não, roteirizando o
meta-conflito estabelecido para o artista nos dias de hoje, através de canções
populares e textos de minha autoria e de poetas de expressão e consanguinidade
temática, que temos chamado de “Ensaio Aberto” e/ou “Wall Street”. Mas, tanto
no Facebook, YouTube e Instagram, embora não tenha nenhum pacote de
visualização, estou sempre, em forma de layout, botando muita coisa inédita
ou pouco vista na roda, para manter a intenção de encontrar o outro e, com
o outro, feito esse nosso encontro.
C.V.: Quais são suas redes
sociais?
W.C.: No YouTube é wwwalney (https://www.youtube.com/user/wwwalney);
no Facebook é Walney Costa (https://www.facebook.com/walney.costa.1);
no Instagram é Vauneie (https://www.instagram.com/vauneie/?hl=pt-br).
Um pouco da carreira do ator Walney Costa:
Fotos: Divulgação
3 comentários:
O Walney é D+!!!
Esse é craque!!
muito bom! 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
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