“Eu dou o que a música pede!”
Quinze
anos se passaram desde a estreia de Roberta Campos no mercado
fonográfico e dezessete de quando ela jogou o seu primeiro álbum no mundo de
forma independente. No de 2008, ela foi a responsável por todo o processo, da
composição à criação do encarte. Qualquer semelhança com seu novo trabalho não
é mera coincidência. Neste 2025 que se inicia, a cantora e compositora
lança “Coisas de Viver”, um disco independente todo composto e
produzido por ela e Alexandre Fontanetti, para o qual deu tudo o que cada
música pediu.
“Foi
a primeira vez que construí o disco exatamente como eu gostaria... Essa é uma
das coisas interessantes de ser uma artista independente... A ideia partiu da
música que dá nome ao disco, que compus com Paulo Novaes. Eu tinha
uma melodia e ele a devolveu com uma letra tão profunda e pessoal que brotou a
vontade de falar mais do meu íntimo. Eu sempre falo de mim em minhas
composições, mas desta vez é do meu ‘eu’, da minha visão do mundo, dos meus
sentimentos mais profundos. Eu me despi de tudo para compor essas canções”,
conta Roberta.
Desse
processo saíram nove faixas, das quais apenas duas são em parceria: a
faixa-título e “Escapulário”, com Danilo Oliveira.
Todas as outras são genuinamente íntimas e reafirmam o lugar de mulher e
musicista madura que Roberta Campos ocupa na vida e no mercado
nacional (e, desde 2019, com carreira internacional se solidificando). Doce e
delicada, porém aguerrida e determinada:
“No
meio da cidade, te mostro nossa casa / Te dou minha certeza, do céu não passa
nada”, canta logo nos primeiros versos de “Peito Aberto”, uma
canção cheia de certezas que só não abre o álbum porque, antes, tem a
vinheta-convite “Join Me”, de menos de 10 segundos, só com voz e
violão.
“‘Peito
Aberto’ fala da minha volta para São Paulo depois de uma temporada em
Campinas, Alphaville e, durante a pandemia, Aldeia da Serra. Experimentei
novamente o interior e o tempo do interior, que passa mais lento. A gente
acessa lugares profundos, é inevitável não olhar para dentro. Senti um
crescimento pessoal. Na música, descrevo nossa volta, minha e da Marina (Souza
Campos), para São Paulo. Em ‘Gérbera’, já falo da nossa casa e
do quanto gosto de compartilhar a vida com a Marina. É uma canção feliz como um
dia de sol”, diz.
Ambas
têm uma pegada pop rock e foram idealizadas por Roberta por completo, das
linhas de bateria a outras etapas da produção. O mesmo aconteceu com a maioria
das outras faixas: “Eu gosto de adiantar tudo: entro em estúdio com todas
as prés das faixas. Quando vou gravar, eu sei tudo que quero
da música. Faço os arranjos vocais e, nesse disco em especial, criei vários
riffs de violão que foram importantes para seguirmos com os arranjos. A música
me direciona”.
Entraram
no estúdio dois músicos que já acompanham a artista nos shows: Danilo
Moura (bateria) e Otávio Gali (baixo). André
Limma gravou teclado/piano/hammond e Alexandre Fontanetti,
além de assumir as guitarras, assina a produção com Roberta Campos.
A balada “Coisas de Viver” ficou mais emocionante com os
arranjos de cordas do Felipe Pacheco: “Vir de encontro ao cais e
mergulhar pra além daqui, sem medo / Sem olhar pra trás, vem desvendar o amor
em si”, canta Roberta, sem medo de abrir o coração e de “me permitir ser alegre
e triste nas canções”, como ela mesma afirma.
E
com seu violão de aço ela passeia ainda por “Na Proa da Saudade”,
que tem letra reflexiva em cima de melodia alegre; “Amanhã Também”,
uma canção sobre o medo que não paralisa Roberta, sobre suas dores e
resiliência e sobre o amor que a preenche; “A Cor do Que eu Quero”,
na qual a cantora aborda o tema sensível do abandono que a fez ter sido criada
pelos avós e ter crescido “cheia de feridas”; e “Atento”, que
descreve o seu caminho da cura. “Escapulário” é a única faixa
que estava pronta desde 2016 e casou perfeitamente com o momento que Roberta
Campos está vivendo:
“‘E
mesmo um passo em vão será em direção ao lar’, diz a letra. Esse lar é aqui
dentro. A gente sempre volta para a gente, e é isso que eu quis dizer. Eu acho
que demorei a gravar essa música porque ela faz mais sentido agora. Quando a
fiz, não percebi que a escrevia para mim mesma.”
Lindo,
leve e denso, “Coisas de Viver” é o oitavo álbum de Roberta
Campos (o sexto de estúdio), sem feat ou releitura,
com “Gérbera” chegando às rádios e “Na Proa da
Saudade” às plataformas digitais em 15 de janeiro, antecipando o
lançamento oficial, marcado para 5 de fevereiro.
Orgânico,
natural, verdadeiro, o disco é corajoso para os dias de hoje e evidencia a
coragem de sua criadora: “Falar de você com tanta verdade é difícil! Eu sempre
sou sincera nas minhas canções, mas me vejo despida nesse disco e não cabia
ninguém além de mim, nesse momento tão íntimo. Como falei anteriormente, dou à
canção o que ela me pede”.
*Pesquisadora
musical, jornalista e biógrafa.
Foto: Lucas Seixas
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