Volta às aulas: casos de cyberbullying e bullying aumentam cerca de 12% no Brasil

08 fevereiro 2025 |

 


Em janeiro, foi sancionada a lei que restringe o uso de celulares nas escolas brasileiras, permitindo seu uso apenas para atividades pedagógicas. O objetivo principal é proteger a saúde mental, física e emocional de crianças, jovens e adolescentes, além de promover um ambiente escolar mais saudável e equilibrado. A medida pode também ser útil no combate ao cyberbullying, que envolve ataques realizados por meio da internet.  

 

No ano passado, os cartórios de notas do Brasil registraram um aumento de aproximadamente 12% na média anual de casos de bullying e cyberbullying. Esse aumento foi documentado por meio de solicitações de atas notariais, que comprovam os ataques. Os casos podem variar de xingamentos e ofensas a agressões físicas mais graves, podendo até evoluir para ataques a escolas, homicídios e outros crimes.  

 

“Na escola, muitos adolescentes criam perfis no Instagram, chamados de ‘explana’, para falar mal de alguém sem que a pessoa saiba quem é o autor. É uma forma de contar segredos e expor a pessoa sem ser identificado. Tudo acaba sendo exposto no ‘explana’”, contou um adolescente entrevistado pelo ChildFund Brasil durante a realização da pesquisa intitulada Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet. Mais de oito mil estudantes das redes pública e privada foram entrevistados e alguns relatos, coletados. 

 

Outro jovem participante da pesquisa acrescentou: “Isso pode gerar brigas entre escolas, como aconteceu aqui no bairro. No ano passado, houve uma briga porque uma pessoa descobriu que a outra falava mal dela no ‘explana’. Eles se encontraram em um local e formaram uma gangue para agredir todos os envolvidos”.

 

Vítimas de cyberbullying podem apresentar mudança de comportamento

 

Crianças, jovens e adolescentes expostos a estes casos, provavelmente, apresentam sinais. Se o problema ocorrer no ambiente escolar, o jovem tende a se recusar a ir para a escola; mas, os sinais de que algo está errado vão além disso. Os professores conseguem identificar com maior facilidade, pois passam mais tempo juntos. Quando ocorre no ambiente digital, os pais devem estar atentos à mudança de comportamento, ansiedade, crises de pânico, tristeza, irritabilidade, perda de apetite e até o afastamento social. 

 

No dia 11 de fevereiro, é comemorado o Dia da Internet Segura, uma campanha internacional para chamar a atenção para o uso seguro e responsável da tecnologia. A data é também uma oportunidade de lembrarmos a importância de cuidar dos jovens enquanto acessam a internet. “"Bullying é o ato de ameaçar, agredir e intimidar uma pessoa sistematicamente, por conta da sua condição social, aparência física, entre outras características. O cyberbullying, que é quando essa prática acontece na internet, potencializa esses danos naquela pessoa que sofre bullying, especialmente, nas crianças e nos adolescentes, que ainda não desenvolveram totalmente o seu arcabouço psíquico para enfrentar tais questões. O cyberbullying é praticado, geralmente, por pessoas conhecidas, mas, infelizmente, é a ponta de algo muito maior. Os riscos de os adolescentes utilizarem a internet sem monitoramento de pessoas adultas são bem maiores, com a possibilidade de serem vítimas de abusos e violência sexual on-line”, explica Mauricio Cunha, diretor de país do ChildFund Brasil, organização com mais de 58 anos de atuação no país em defesa dos direitos da criança e do adolescente.  

 

Entender o comportamento possibilita maior proteção

 

Compreender os horários de maior insegurança na rede social, entender quais aplicativos oferecem menos mecanismos de proteção e monitorar os adolescentes enquanto utilizam a internet são formas de protegê-los. Nos jogos on-line, o cyberbullying é um comportamento bastante comum, principalmente, por ser feito no tom de brincadeira e em um local de distração. Mas, além disso, os perigos de abuso e violência sexual também existem. 

 

O estudo realizado pelo ChildFund Brasil revelou que 5,6 milhões de adolescentes  podem ter sofrido violência sexual on-line, o que equivale a população de países como Congo, Finlândia e Noruega. Outra informação revelada pelo estudo é: adolescentes que mantêm um bom diálogo com a família e cujo acesso à internet é supervisionado pelos pais, têm 40% menos chance de se tornarem vítimas de violência sexual.  “As informações destacadas pela pesquisa são muito importantes, pois servirão como base para que nós, poder público e organizações da sociedade civil consigamos mobilizar e criar políticas públicas, a fim de criar mecanismos de proteção para crianças e adolescentes no ambiente virtual”, destaca Mauricio Cunha. 

 

Outra entrevista realizada durante a pesquisa chamou a atenção. "Minha prima, que tem sete anos, joga Free Fire, um jogo onde é permitido conversar on-line.  Durante uma partida, ela estava conversando com um rapaz de quinze anos. Eu consegui o número do telefone dele, para que ela soubesse quem era, já que não o conhecia. Mas, na verdade, esse rapaz era uma pessoa mais velha, para quem a  minha prima informou o endereço da casa. Ela e toda a família tiveram que mudar [do bairro] porque corriam o risco de ele ir até lá e fazer alguma coisa errada com a minha prima”, relembra a adolescente.

 

 Para que casos como esse não continuem ocorrendo, é necessário que os responsáveis estejam de olho nos sites e jogos acessados, além de ativar o controle parental e verificar sempre com quem os jovens estão conversando e quais conteúdos estão sendo consumidos. 

 

Os primeiros resultados da pesquisa estão disponíveis no site do ChildFund Brasil, neste link.

 

Sobre o ChildFund Brasil

 

O ChildFund Brasil é uma organização que atua no desenvolvimento integral e na promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente, para que tenham seus direitos respeitados e alcancem o seu potencial. A fundação no Brasil foi em 1966, e sua sede nacional se localiza em Belo Horizonte (MG). A organização faz parte de uma rede internacional associada ao ChildFund International, presente em 23 países e que gera impacto positivo na vida de 14,8 milhões de crianças e suas famílias; e está entre as 25 melhores organizações do Brasil, segundo o ranking emitido pela The Dot Good, foi eleita a melhor ONG de assistência social do Brasil em 2022 e a melhor para Crianças e Adolescentes do país, por três anos (2018, 2019 e 2021), pelo Prêmio Melhores ONGs.

 

Foto: Marcelo Martins


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