Mansão
icônica no Morumbi, construída na década de 70, onde a apresentadora viveu por
décadas com o empresário, Lélio Ravagnani, morto em 2000, será leiloada
judicialmente após anos de festas lendárias, brigas entre herdeiros e escândalo
milionário envolvendo importação de locomotivas e inadimplências milionárias.
Palco
de festas memoráveis, jantares glamourosos e encontros com artistas, políticos
e empresários, a casa onde viveu Hebe Camargo – a eterna dama da televisão
brasileira – vai a leilão judicial mais uma vez. O imóvel, localizado no
coração do Morumbi, zona nobre da capital paulista, deixou de ser símbolo de
brilho e sofisticação para tornar-se retrato de abandono e disputa. Está em
ruínas.
Com
2.221,97 m² de área total e 962 m² de área construída, a propriedade eternizada
como “Casa da Hebe” — repleta de memórias da apresentadora que marcou gerações
— está atualmente penhorada por determinação judicial. A medida é resultado de
uma execução movida pela empresa WV Soluções Logísticas Ltda. contra Lélio
Ravagnani Filho, enteado da icônica comunicadora e empresas a ele vinculadas.
Escândalo
internacional
O
caso envolve na origem um escândalo internacional de importação de 30
locomotivas, investigada por fraude aduaneira, interposição fraudulenta e uso
de offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, culminando na
lavratura de auto de infração pela Alfândega Brasileira contra as empresas,
Corema S.A Empresa de Comércio e Exportação, Corema International Inc.
O
litígio movido pela WV para cobrança de despesas de frete sobre as locomotivas
importadas se arrasta desde 2005, com decisões favoráveis à empresa autora e
penhora judicial de parte ideal do imóvel — equivalente a 50% — herdada por
Lélio Ravagnani Filho, diretor presidente da empresa Corema S.A. e supostamente
relacionado à offshore, Corema Inc. Apesar disso, o leilão
será realizado sobre a integralidade do bem, ou seja, também sobre a parte
ideal da casa pertencente a Leila Ione Ravagnani Souza Barros, sua irmã.
"A
casa faz parte da história cultural do Brasil", afirma a advogada Juliana
Carrillo Vieira, representante da empresa WV. “Ali foram realizados encontros
emblemáticos com figuras influentes da mídia, meio empresarial e da política
brasileira. Trata-se de um patrimônio simbólico que, infelizmente, foi tragado
por uma espiral de litígios familiares, empresariais e fiscais. Segundo a
advogada, “o imóvel soma dívida de IPTU de mais de R$1.5 mi que sub-rogará no
preço de venda em 2ª praça, tendo como lanço mínimo 50% do valor de avaliação,
conforme determinado pela Justiça".
Lélio
Ravagnani Filho, segundo informações constantes no processo, reside nos Estados
Unidos, no estado do Wyoming, desde o início do escândalo envolvendo a
importação de locomotivas. Ainda assim, figura como parte em diversas ações
judiciais em andamento no Brasil. Uma das empresas a ele vinculadas, a Corema
S.A., encontra-se aparentemente inativa, conforme apontado pela advogada
responsável pela execução. Já a Corema Inc., cuja atuação atual é desconhecida,
continua sendo representada nos autos por Cesar Tadeu Lopes Piovezanni, genro
de Lélio Ravagnani Filho.
Conflitos
familiares geram dívidas
Após
o falecimento do pai, a prolongada disputa entre os irmãos Lélio Ravagnani
Filho e Leila Ione Ravagnani Souza Barros, sobre a casa, foi decisiva para a
deterioração do imóvel. O que poderia ser um processo de partilha pacífico
entre irmãos deu lugar a embates judiciais intensos e inventário que permanece
ainda em andamento.
Lélio
Filho moveu ações contra a irmã, alegando ocupação exclusiva do bem e ausência
de pagamento de aluguéis relativos à sua parte ideal. Com os conflitos se
arrastando por anos, a residência foi entregue ao abandono, à deterioração e
privada de qualquer cuidado efetivo.
Hoje,
o que já foi cenário de festas luxuosas com celebridades da era de ouro da TV,
virou um retrato do descaso. Fachadas rachadas, jardins tomados pelo mato e o
silêncio de uma casa que um dia teve música, risos e champanhe.
Lélio
Ravagnani Filho chegou a penhorar o apartamento da própria sobrinha no processo
de execução que move contra sua irmã, Leila Ione Ravagnani Souza Barros, -
também de acesso público - cobrando valores de alugueres referentes à sua
quota-parte na chamada “Casa da Hebe”. A decisão foi autorizada pelo juízo
responsável, com base em indícios de confusão patrimonial entre mãe e filha. O
episódio escancara o nível de tensão familiar envolvido na disputa — um embate
que, ao que tudo indica, ainda está longe de ser resolvido, tendo como um dos
principais núcleos a “casa da Hebe”.
Oportunidade
para investidores
O
imóvel será leiloado no dia 13 de maio, em 1ª praça, pelo valor de R$
8.681.549,69, e, caso não haja arrematante, entre os dias 16 de maio e 5 de
junho, em 2ª praça, por 50% do valor, conforme autorizado pela Justiça. Segundo
o Plano Diretor da cidade de São Paulo, o local permite a instalação de
condomínios horizontais de alto padrão, o que eleva o seu valor estratégico no
mercado imobiliário, podendo ainda se tornar um memorial em homenagem à
apresentadora Hebe Camargo, em eventual parceria público privada, conforme
informado pela advogada da WV.
Entregue
ao abandono e silêncio, a mansão ainda guarda resquícios de um passado dourado.
Nos fundos, a piscina – embora esquecida no meio do mato – resiste como um
espelho empoeirado das festas de outrora. Mas é ao adentrar a casa que o
encantamento se revela: uma escada esculpida em madeira nobre, avaliada
em mais de R$ 200 mil, apresenta-se como uma obra de arte, desenhada sob
medida para realizar um capricho da própria Hebe Camargo. Era por tal escada
que a diva descia com graça, quase em cena, para receber seus convidados no
salão de festas ao lado da piscina, onde um bar – feito com a mesma madeira
elegante – abrigava reuniões “petit comité”, brindes e risos em noites
memoráveis.
Curiosamente,
no meio de total destruição, tanto a escada quanto o bar desafiaram o tempo:
continuam ali, como se aguardassem, pacientes, o acender das luzes e o retorno
dos aplausos.
Diante
de todo esse cenário, o imóvel carrega grande apelo. É uma oportunidade rara
para investidores com sensibilidade cultural ou visão de mercado. A casa pode
ser restaurada e transformada em um memorial da apresentadora, um centro
cultural, um espaço para eventos, ou mesmo um empreendimento de alto padrão.
Tudo dependerá da visão do novo proprietário.
Foto:
Divulgação
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