Vanessa da Mata lança
na sexta-feira, 27 de junho, a versão deluxe do seu álbum “Todas
Elas”. O álbum conta com uma gravação da mato-grossense para o clássico “Nada
Mais”, música lançada em 1984 na voz de Gal Costa para o álbum “Profana”,
que é uma versão brasileira da balada “Lately” de Stevie Wonder, de 1980. A
versão em português é de Ronaldo Bastos. A canção também fez parte do setlist
da turnê “As várias pontas de uma estrela” de Gal Costa em 2021.
No mesmo ano, viralizou nas redes sociais um
vídeo de Vanessa da Mata interpretando a música durante os bastidores da
gravação do programa “Altas Horas”. Na época, o vídeo recebeu inúmeros
compartilhamentos e muitos elogios para Vanessa. A cantora e compositora
explica o porquê da escolha de “Nada Mais” para a versão deluxe de “Todas
Elas”.
“Gal
Costa sempre foi uma referência de uma das vozes mais lindas do mundo para mim,
atitude feminina, coragem. Acho que qualquer homenagem a Gal Costa e de suas
contemporâneas só reacendem uma tradição de qualidade da música brasileira que
nos sustenta em uma admiração mundial até hoje! Isso deve sempre ser
recuperado, relembrado na nossa mais sociológica pulsão cumulativa de troca
entre gerações e seus representantes e admissão de quem somos nos pontos mais
grandiosos”, afirma Vanessa da Mata.
Todas Elas
Seu novo álbum - Todas Elas,
lançado dia 12 de maio, apresenta onze músicas autorais com participação de
João Gomes, Robert Glasper e Jota.pê, nas faixas Demorou e Um
Passeio Com Robert Glasper Pelo Brasil e Troco Tudo, respectivamente. “Esse
álbum poderia contar a história de várias mulheres. São várias mulheres dentro
dele: mulheres que compõem a minha pessoa, as minhas facetas, os meus momentos,
os momentos de grandes e boas ilusões e algumas desilusões”, define Vanessa.
Sobre as parcerias, a artista conta como está sendo trabalhar ao lado de
pessoas que ela tanto estima: “O João (Gomes) é já um amigo querido que admiro
muito. Gosto muito da voz dele, gravíssima, que faz um casamento perfeito com a
minha nesse reggae. A música com o Jota.pê fala sobre a aparência das redes
sociais, que jamais mostra psicologicamente como realmente estamos. Foi uma
música muito rápida de ser feita. Ela fluiu em uma capacidade linda. Ele me
mandou a primeira parte da melodia e eu fiz o restante. E fizemos a letra
juntos. O Robert Glasper é um dos caras mais notáveis dos últimos tempos. Certa
vez eu fui em um show dele em São Paulo, fiz contato e mandei um material para
ele. Ele gostou muito e me mandou várias ideias de música, e aí a gente fez
essa parceria.”
Assim como no disco anterior, Vanessa da Mata
assina a produção musical do álbum Todas elas. Os arranjos
têm criação coletiva, envolvendo a banda formada por músicos como Marcelo Costa
(bateria), Maurício Pacheco (violão e guitarra) e Rafael Rocha (trombone),
entre outros instrumentistas. Gravado e mixado no estúdio Visom Digital, na
cidade do Rio de Janeiro (RJ), o álbum tem como faixa foco a música "É Por
Isso Que Eu Danço”.
Uma Vanessa de muitas faces e olhares
diversos sobre a vida *
*O texto a seguir foi escrito pela poetisa,
filósofa e psicóloga Viviane Mosé
Vanessa da Mata é uma artista multifacetada.
Desde o seu primeiro disco, com raras exceções, é autora de todas as suas
canções, compõe letra e música, mas também concebe o conceito do disco, que por
sua vez define a cara do show. Além de ter interpretado recentemente no teatro
a grandiosa Clara Nunes. Sua multiplicidade artística se manifesta em sua
musicalidade polirrítmica, influenciada por uma cantoria rural mato-grossense,
mas também pela brasilidade múltipla de Rita Lee, Caetano, Gil e Bethânia, que
por sinal deu voz ao seu primeiro sucesso ainda como compositora, A força que
nunca seca. Vanessa é uma artista brasileira, herdeira da pluralidade presente
em nossa música, uma artista que foi construindo uma trajetória própria, única,
trazendo sempre discos potentes, dançantes e muito bem aceitos pelo público.
Todas Elas é um disco que traz
essa Vanessa da Mata de muitas faces, de olhares diversos sobre a vida, sobre a
mulher, sobre o amor. E esse olhar singular acaba nos fazendo acessar essas
diversas possibilidades em cada uma de nós. Feito aquelas bonequinhas, uma
dentro da outra, este disco vai desdobrando estas diversas mulheres que vivem
em cada mulher. Somos todas, somos uma. Somos múltiplas, desdobráveis como já
disse Adélia Prado.
“Esperança”, música de trabalho do
disco, traz uma mulher madura, que já sabe o valor de cada gesto, por mais
ínfimo que seja, o mais belo gesto e também o mais difícil de ser vivido. O
amor que se dá no verbo amar, no exercício do amor e não em sua posse. Não há posse
no amor se não o seu exercício, a sua ação sempre aberta ao inusitado, ao
incontrolável, ao mundo. E ela diz: “Eu era capaz e não sabia,” desse amor
maior, não sabia porque me feria com tantos nãos que a vida nos dá. As dores
cristalizadas fecham nossa percepção, mas o amor me mostrou o amar. O amar que
liberta, desconstrói e encoraja, incentiva, renova. Isto está presente na
música Esperança, mas de algum modo permeia todo o disco, esta capacidade de
amar a vida que se conquista, quando se conquista, na maturidade.
A bela música “Demorou”, um dueto com
o incrível João Gomes, começa como uma estranheza, uma tensão: a guitarra
tocando no contra do reggae, num movimento não usual, e que aos poucos vai se
encontrando, se ordenando, trazendo uma sensação de alívio, de tranquilidade,
refletindo no som aquilo que a letra agrega: ali estamos diante de uma mulher
que sabe viver encontros esporádicos, intensos, provisórios, sem se culpar. Do
mesmo modo que a música, a letra nos leva a amar o inusitado, o diferente.
Afinal é preciso se fortalecer nestes breves encontros para encarar a realidade
muitas vezes dura do viver “Somos adultos”, ela diz.
E tem aquela que transborda pelos lados,
afinal este disco fala do aprendizado de uma vida que não se economiza. Vanessa
da Mata não se economiza, uma mulher enorme, nos diversos sentidos da palavra,
que não cabe nos modelos estabelecidos, especialmente sobre a mulher. Tudo em
comum com “Maria Sem Vergonha” que abre o disco. Ela é aquela que
não pode soltar sua risada, seus palavrões: não se assanhe, não se arreganhe,
senão não poderá ser amada; se manifestar o seu desejo, se transbordar não será
aceita. Mas Maria sem vergonha quer ser feliz. O tempo não volta, ela afirma.
Em “Me Adora, mas”, ela expõe
esse laço esquisito com um conquistador compulsivo, que quer, mas não quer, que
não explicita, que joga, se esconde. E em uma bela parceria com o talentoso
Jota.pê nessa música leve e simples, “Troco Tudo”, essa mulher quer
viver esse amor com beleza. E, em Quem mandou, essa mulher que lutou para
manter um relacionamento vê de um modo distinto tudo o que viveu: chegou da
boemia dizendo que a nega tava aqui pra te servir. Mas não tá mais não meu
amigo. Agora não adianta chorar pra voltar.
E ela luta, sempre, porque carrega em si esta
mulher severina, uma referência à força da mulher brasileira em Morte e vida
Severina, aquela que vive a luta diária pela sobrevivência, pela dignidade
humana em sua “Ciranda”. Mas ela também desdobra esta mulher que,
enquanto luta, se diverte, dança. “É por isso que eu danço/ danço canto e vivo/
danço mesmo comigo”, e segue levando todo mundo a dançar junto.
O disco também traz uma declaração de amor ao
Brasil e ao jazz, no suingado samba jazz Um passeio com Robert Glasper pelo
Brasil. Esse jazzista que figura como uma das principais apostas do jazz é
apresentado à musicalidade brasileira e ao seu saber viver.
Além da necessária “Eu te apoio em
sua fé”, que fala da violência contra cultos religiosos de matriz africana
manipulada por aqueles que exploram em nome da fé, impondo um Jesus de horror.
“intriga de quem lucra com os seus e quanto mais se fragiliza, mais o medo
paralisa”.
Todas Elas é enfim um disco
maduro tanto em seu conceito bem amarrado, que a cada música reforça e refaz o
que está sendo dito, alinhando em uma as diversas faces dessa mulher, quanto em
sua musicalidade cada vez mais própria e consistente. Uma música forte, que marca
presença, como a própria Vanessa da Mata, suingada, rítmica e melódica como é a
brasilidade que ela tanto honra e admira. Sejam bem vindas Todas Elas.
Lançamento álbum Todas Elas Deluxe:
Data: 27 de junho
Link do Pré-save
Foto: Divulgação
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