O Ministério
da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e
o Instituto Tomie Ohtake apresentam a exposição A
terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da Errância com Édouard
Glissant, que conta com o patrocínio do Nubank, Mantenedor
Institucional do Instituto Tomie Ohtake, da SKY, na cota Bronze, e
da Fundação Norma y Leo Werthein, na cota Apoio. Concebida como um
museu em movimento e dedicada à obra e ao pensamento do poeta, filósofo e
ensaísta martinicano Édouard Glissant (1928–2011), a exposição
integra a Temporada
França-Brasil 2025 como um de seus principais destaques. A
iniciativa de intercâmbio cultural é promovida pelo Instituto Francês e pelo
Instituto Guimarães Rosa (Itamaraty), com o apoio de um comitê formado por 15
empresas: Engie, LVMH, ADEO, JCDecaux, Sanofi, Airbus, CMA CGM, CNP Seguradora,
L’Oréal, TotalEnergies, Vinci, BNP Paribas, Carrefour, VICAT e SCOR. Com
curadoria de Ana Roman e Paulo Miyada, a mostra é
uma realização do Instituto Tomie Ohtake, correalização do Mémorial ACTe,
do Édouard
Glissant Art Fund e do Institut Tout-Monde, além de parceria com o CARA — Center for Art,
Research and Alliances e apoio institucional do Institut Français.
Parte
da pesquisa de longo prazo do Instituto Tomie Ohtake em torno da produção de
memória, a exposição dá sequência a iniciativas recentes como a mostra Ensaios
para o Museu das Origens (2023) e o seminário “Ensaios para o Museu
das Origens – Políticas da memória” (2024), que reuniu representantes de
museus, arquivos e comunidades em um intenso debate sobre preservação e
cidadania.
Com
seu título inspirado na antologia poética La Terre, le feu, l’eau et
les vents (2010), organizada pelo escritor martinicano, a mostra
ensaia o que seria um “Museu da Errância”. Errância é uma vivência da Relação:
recusa filiações únicas e propõe o museu como arquipélago – espaço de rupturas,
apagamentos e reinvenções sem síntese forçada. Contra genealogias rígidas,
propõe-se uma memória em trânsito, feita de alianças provisórias, traduções e
tremores – um processo institucional movido pelo encontro entre tempos,
territórios e linguagens. Ainda que Glissant tenha deixado fragmentos de sua
visão para um museu do século 21, não chegou a concretizá-lo. A curadoria
imagina como poderia ser esse Museu da Errância em uma mostra de múltiplas
camadas e conexões inesperadas entre obras, documentos e paisagens. As duas
ideias-chave da organização da montagem da exposição são a palavra da paisagem
e a paisagem da palavra, concebidas a partir da concepção de Glissant de
“parole du paysage”. Como apontam em texto, “No primeiro caso, o território
infiltra-se na fala; no segundo, a linguagem se projeta no espaço, convertendo
signos, letras e códigos em relevo, clima ou correnteza”. Para o poeta, a
paisagem não é apenas cenário externo, mas força ativa que molda memórias,
gestos e linguagens.
Além
disso, estão presentes em frases, manuscritos e entrevistas do autor outras
ideias como Todo-mundo, crioulização, arquipélago, tremor, opacidade, palavra
da paisagem e aqui-lá. Para a curadoria, que trabalhou em contínuo diálogo
com Sylvie Séma Glissant, trata-se de um arco de assuntos
interligados com profunda relevância no mundo contemporâneo, que mais uma vez
se vê permeado por discursos e medidas de intolerância perante o diverso e
incapaz de criar canais de escuta dos Elementos naturais e das paisagens
ameaçados de destruição.
É
nesse horizonte que se apresenta, pela primeira vez no Brasil, parte da coleção
pessoal reunida por Glissant e atualmente preservada no Mémorial ACTe, em
Guadalupe. O conjunto inclui pinturas, esculturas e gravuras de artistas com
quem o pensador conviveu e sobre os quais escreveu, como Wifredo Lam, Roberto
Matta, Agustín Cárdenas, Antonio Seguí, Enrique
Zañartu, José Gamarra, Victor Brauner e Victor Anicet, entre
outros. São artistas de crescente reconhecimento internacional, que viveram
trajetórias de diáspora e imigração, e produziram em trânsito entre línguas,
linguagens, paisagens e histórias múltiplas. Trata-se de um valioso recorte da
produção artística da segunda metade do século 20, que lida com o imaginário, a
figuração, a linguagem e as grafias como recursos carregados de traços de
memória, identidade e invenção.
À
coleção de obras somam-se documentos, cadernos, vídeos e fragmentos de textos e
entrevistas de Glissant, igualmente inéditos. Entre eles, destaca-se o Caderno
de uma viagem pelo Nilo (1988) – com notas e desenhos em fac-símile –
que vai além do registro de viagem para se tornar um exercício
poético-filosófico, no qual o autor questiona a ideia de uma origem única e
propõe a noção de origens múltiplas. A mostra apresenta também trechos da
extensa entrevista concedida em 2008 a Patrick Chamoiseau, escritor
martinicano e parceiro intelectual de Glissant, da qual resultou o
monumental Abécédaire. O público poderá conferir dezessete verbetes
selecionados pela curadoria, exibidos em seis monitores distribuídos pela
exposição. Esses materiais revelam como o poeta elaborava suas ideias no
cruzamento entre escrita, oralidade e imagem.
Este
extenso e rico acervo é apresentado em diálogo com trabalhos de mais de 30
artistas contemporâneos das Américas, Caribe, África, Europa e Ásia — nomes
como Chico Tabibuia, Emanoel Araújo, Federica
Matta, Frank Walter, Julien Creuzet, Manthia
Diawara, Melvin Edwards, Sheila Hicks, Rebeca Carapiá,
Pol Taburet, Tiago Sant’Ana, entre outros — que convocam o público a
experimentar, de forma sensorial, o entrelaçamento entre paisagem, linguagem e
memória. Nas palavras dos curadores: “Entre as peças selecionadas há
partituras visuais que serpenteiam pelas paredes como cordilheiras, vídeos em
que frases viram espuma marítima e instalações sonoras que transformam poemas
em ar e vibração”. Parte dessa proposta inclui ainda obras
especialmente comissionadas para a exposição, realizadas por Aislan
Pankararu, Pedro França e Rayana Rayo, do
Brasil, e por Arébénor Basséne, Hamedine Kane, Nolan
Oswald Dennis, Pol Taburet, Kelly Sinnapah Mary e Tarik
Kiswanson, de diferentes contextos internacionais, ampliando as vozes e
perspectivas que atravessam a mostra.
Para
setembro, está programado o lançamento de um catálogo, em português e em inglês
- cuja edição em inglês está sendo coeditada pelo CARA - que
reúne textos das instituições parceiras, ensaio curatorial de Ana Roman e Paulo
Miyada, verbetes sobre os artistas participantes, além da transcrição de
trechos do Abécédaire. O volume inclui também o manuscrito Caderno
de uma viagem pelo Nilo, de Glissant, assim como legendas técnicas e ficha
detalhada da exposição. Em novembro, no Instituto Tomie Ohtake, a programação
se completa com um seminário com a participação de alguns dos artistas da
exposição e com importantes intelectuais que dialogam com a obra de Glissant.
O
projeto contempla, ainda, uma residência artística na Martinica, realizada em
agosto de 2025, com a participação de Rayana Rayo e Zé
di Cabeça (José Eduardo Ferreira Santos). Os frutos dessa vivência, que
conta com o apoio da Coleção Ivani e Jorge Yunes e do
Instituto Guimarães Rosa, darão origem a intervenções em diálogo com a
coleção de arte africana do MON – Museu Oscar Niemeyer, em
Curitiba. O evento também integra a Temporada França Brasil. No primeiro
semestre de 2026, a exposição tem itinerância prevista para Nova York, no CARA
— Center for Art, Research and Alliances.
Lista
completa de artistas participantes:
Agustín
Cárdenas, Aislan Pankararu, Amoedas Wani e Patrice Alexandre, Antonio Seguí,
Arébénor Basséne, Cesare Peverelli, Chang Yuchen, Chico Tabibuia, Eduardo
Zamora, Emanoel Araújo, Enrique Zañartu, Ernest Breleur, Etienne de France,
Federica Matta, Flavio-Shiró, Florencia Rodriguez Giles, Frank Walter, Gabriela
Morawetz, Geneviève Gallego, Gerardo Chávez, Hamedine Kane, Irving Petlin,
Jean-Claude Garoute (Tiga), José Gamarra, Julien Creuzet, Kelly Sinnapah Mary,
M. Emile, Manthia Diawara, Mélinda Fourn, Melvin Edwards, Minia Biabiany, Nolan
Oswald Dennis, Öyvind Fahlström, Pancho Quilici, Paul Mayer, Pedro França, Pol
Taburet, Raphaël Barontini, Rayana Rayo, Rebeca Carapiá, Roberto Matta, Serge
Hélénon, Sheila Hicks, Sylvie Séma Glissant, Tarik Kiswanson, Tiago Sant’Ana,
Victor Anicet, Victor Brauner, Wifredo Lam, Zé di Cabeça (José Eduardo Ferreira
Santos).
A terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da
Errância com Édouard Glissant
Curadoria:
Ana Roman e Paulo Miyada
Pré-abertura: 02 de setembro de 2025 (convidados), 19h
Em cartaz de 03 de setembro de 2025 a 25 de janeiro de 2026
De
terça a domingo, das 11h às 19h [última entrada até 18h | Entrada franca
Instituto
Tomie Ohtake
Av.
Faria Lima 201 (Entrada pela Rua Coropé, 88) – Pinheiros SP
Metrô
mais próximo: Estação Faria Lima/Linha 4 – amarela
Fone:
11 2245 1900
Site: institutotomieohtake.org.br
Facebook: facebook.com/inst.tomie.ohtake
Instagram: @institutotomieohtake
Youtube: https://www.youtube.com/@tomieohtake
*Na
Foto em destaque, Frank Walter, Self-Portrait with Warwick, 1984, óleo sobre
papel cartão, 08 x 05 cm
Foto:
Eduardo Ortega
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