Seis
artistas de Angola, Brasil e Portugal, países que, banhados pelo oceano
Atlântico, têm a língua portuguesa e questões coloniais em comum, exibem suas
obras na mostra temporária Atlânticos no Museu
da Língua Portuguesa. Correalizada pelo Instituto Serrinha, a iniciativa
reúne vídeos, esculturas e instalações dos brasileiros Jonathas de Andrade e
Shirley Paes Leme, dos angolanos Gegé M’bakudi e Wyssolela Moreira e dos
portugueses Jorge das Neves e Inês Moura. Localizado no histórico prédio da
Estação da Luz, o Museu é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e
Indústria Criativas do Governo de São Paulo.
Com
entrada gratuita, a mostra Atlânticos fica em cartaz de
12 de setembro a 2 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 18h, no Pátio B.
Trata-se do primeiro projeto de artes visuais a ocupar este espaço, que tem
ligação direta com a rua e a passarela da Estação da Luz, de livre acesso, sem
a necessidade de retirada ou reserva de ingresso. Os trabalhos são o resultado
de uma residência de dez dias em 2024 dos seis artistas no Festival Arte
Serrinha. A curadoria é de Fabio Dedulque (Brasil), Carlos Antunes (Portugal) e
Mehak Vieira (Angola).
Para
a produção das obras, eles tiveram como inspiração a língua portuguesa presente
em Angola, em Portugal e no Brasil, e a exposição Línguas africanas que
fazem o Brasil, que esteve em cartaz no Museu de maio de 2024 a fevereiro
de 2025, sobre as línguas dos grupos bantu, eve-von e iorubá que contribuíram
para a formação do português brasileiro. A exuberante Mata Atlântica, presente
tanto na Serrinha como no Parque Jardim da Luz, localizado em frente ao Museu,
também serviu como estímulo.
“Atlânticos foi imaginada como uma ágora, uma
praça, um espaço de diálogo aberto que busca criar uma conexão entre diferentes
culturas, formas de produção artística e a língua portuguesa em um espaço de
reflexão, troca e convivência, onde a arte serve como ponte para compreendermos
melhor nossas semelhanças e diferenças”, diz Fabio Delduque, idealizador do
Festival e um dos curadores da mostra.
“A
mostra Atlânticos celebra uma rica parceria entre o Museu da
Língua Portuguesa e o Instituto Serrinha, unindo artistas de Angola, Brasil e
Portugal. É uma oportunidade única de ver como a língua portuguesa, presente em
histórias e identidades tão diversas, pode ser a ponte para um diálogo
artístico profundo e significativo. As obras não apenas exploram temas de
identidade e memória, mas também demonstram como as artes visuais e a língua
portuguesa se entrelaçam em novas narrativas”, afirma Roberta Saraiva, diretora
técnica do Museu da Língua Portuguesa.
A
mostra temporária Atlânticos, correalizada pelo Instituto
Serrinha, conta com patrocínio máster da Petrobras e da Motiva; patrocínio da
Vale; apoio do Instituto Ultra, do Itaú Unibanco, e da CAIXA; com parceria da
Fazenda Serrinha, do Consulado Geral da França em São Paulo, do Consulado Geral
de Portugal em São Paulo e do Instituto Camões, da Ano Zero Bienal de Coimbra,
Jamek Contemporary Art e RVÍmola. O projeto conta com recursos da Lei Rouanet
para a sua realização.
OS ARTISTAS E AS OBRAS NA MOSTRA ATLÂNTICOS
GEGÉ
M’BAKUDI (ANGOLA)
Transitando entre a pintura, a fotografia e a performance, o angolano Gegé
M’bakudi exibe o vídeo Relatos de homens em chamas na
mostra Atlânticos. Com imagens captadas em Luanda, Lisboa e
São Paulo – no Parque Jardim da Luz -, ele pretende reimaginar o que pode ser a
masculinidade, não como prisão, mas como espaço aberto para novos modos de
existir e florescer. Natural de Luanda, ele abandonou o sonho de infância de
ser arquiteto para se tornar um artista independente, realizando a sua primeira
individual em 2024 na galeria Jahmek Contemporary Art, na capital angolana. No
mesmo ano, esteve em uma exposição no Instituto Guimarães Rosa, em Angola, e venceu
o Prêmio Tigra Nova Garra de artista do ano. Ele tem atuado nos campos da
pintura, da fotografia e da performance, valendo-se de recursos audiovisuais em
seu trabalho.
“Na
obra que vou apresentar no Museu da Língua Portuguesa, parto da minha vivência
e da observação das masculinidades como construções sociais que moldam e
silenciam os corpos entendidos como masculinos”, explica Gegé.
INÊS
MOURA (PORTUGAL)
Com uma pesquisa que explora temas como identidade, fronteira e memória por
meio da fotografia, do desenho e da performance, a portuguesa Inês
Moura exibe na mostra Atlânticos a
instalação Enterolobium. Nela, será possível observar
50 sementes da árvore Enterolobium contortisiliquum, mais conhecida
como Sementes de Tamboril. Em suas andanças pela Fazenda Serrinha, durante a
residência artística, Inês se encantou por elas, que se assemelham a orelhas.
Assim, resolveu fazer dessas “orelhas” uma ferramenta que instiga o diálogo e,
consequentemente, a compreensão das diferentes culturas e línguas. Uma
intervenção sonora também estará presente neste trabalho. Inês já teve suas
obras exibidas em exposições em cidades como Porto, Coimbra, Lisboa e São
Paulo. Ela também dá aulas de fotografia artística no Instituto de Produção
Cultural e Imagem, no Porto.
“Desenhei
uma instalação para o Museu da Língua Portuguesa, na qual esse diálogo é
sentido como um caminho essencial ao bem-estar e à sobrevivência de todos os
povos, de todas as pessoas e seus mundos”, diz Moura.
JONATHAS
DE ANDRADE (BRASIL)
Com passagem por Bienais de Veneza e São Paulo, o brasileiro Jonathas
de Andrade apresenta 26 fotografias da série ABC da
cana na mostra temporária Atlânticos. Nestas
imagens, podem ser vistas letras do alfabeto criadas com a planta da cana a
partir da ação dos próprios trabalhadores do cultivo da cana - eles também
aparecem nas fotografias. Trata-se de uma obra feita em conjunto, na qual não
só a palavra ganha destaque como também a história pessoal e social das pessoas
que trabalham em espaços de plantio e colheita da cana de açúcar, marcados pela
exploração de mão de obra e altos índices de analfabetismo. Ele ainda vai
exibir um filme para o qual registrou espécies de plantas de Pernambuco, da
Serrinha e do Parque Jardim da Luz, localizado em frente ao Museu da Língua
Portuguesa. Cada planta ganhará um som, formando uma espécie de partitura, que
é sonorizada por um percussionista.
“Sendo
a Serrinha um lugar que olha para a força da natureza como criadora de
possibilidade, escolhi esse trabalho que reverbera a beleza das conexões que se
estabelecem entre a cultura e os espaços rurais”, afirma Jonathas.
JORGE
DAS NEVES (PORTUGAL)
Você, tu também é o título da instalação que o artista
português Jorge das Neves vai exibir na mostra Atlânticos.
Trata-se de uma peça em tijolos que mimetiza a arquitetura exterior da Estação
da Luz – os tijolos encontrados no histórico edifício do centro da capital
paulista são iguais aos que, durante anos, foram fabricados na Fazenda
Serrinha. Desta forma, ele incorpora a história do Museu da Língua Portuguesa e
a natureza da Serrinha em sua obra. Alguns dos tijolos ganham inscrições em
baixo-relevo, formando, assim, um possível diálogo entre “você” e “tu” em uma
poesia visual. Formado em artes plásticas, Jorge costuma trabalhar com
fotografia, escultura, performance e instalações e já realizou individuais nas
principias cidades portuguesas.
“Talvez
seja através de palavras que o você e o tu criam alicerces que sustentam os
muros; talvez seja através de palavras que o você e o tu fazem gentilmente um
mundo mais humano. A obra incorpora, tal como o Museu da Língua Portuguesa, o
que de mais importante acolhe: a palavra e a língua portuguesa”, conta
Jorge.
SHIRLEY
PAES LEME (BRASIL)
Escada para o infinito II é o nome da instalação que a
brasileira Shirley Paes Leme vai exibir na mostra
temporária Atlânticos. O objeto faz alusão à arquitetura
vernacular, elemento recorrente da produção da artista – ela vai pendurar a
aparente frágil escada, que será fundida em bronze, na parede do Pátio B do
histórico prédio da Estação da Luz, sede do Museu da Língua Portuguesa. Shirley
já realizou exposições individuais em locais como o Museu de Arte Moderna de
São Paulo, na capital paulista, a Galeria Zielinsky, em Barcelona, e a Galeria
do Centro Cultural Minas, em Belo Horizonte. Também participou de bienais em
Cuba, Buenos Aires e também São Paulo. Em seus trabalhos, ela se vale de
desenhos, intervenções, performances e instalações.
“Em
minha experiência na Fazenda Serrinha, junto a artistas de diversos artistas,
pensei em usar a escada como símbolo capaz de estabelecer relações entre um
lugar e outro, construindo conexões que remontam ao passado ancestral”, diz
Shirley.
WYSSOLELA
MOREIRA (ANGOLA)
Vivendo entre Luanda, em Angola, e Toronto, no Canadá, Wyssolela
Moreira faz uso da colagem da escrita, da fotografia, da videoarte e
da performance em seu trabalho artístico. Na mostra Atlânticos,
ela vai apresentar a obra Quando o Corpo – Terra Lembra, que
vem a ser uma série de bandeiras com um alfabeto visual lembrando cartas de
tarô. Elas, que estarão penduradas pelo espaço expositivo, vão funcionar como
portais que ajudarão o público a refletir sobre a sua relação com a terra e os
elementos que moldam suas experiências e relações. Em suas atividades,
Wyssolela buscar também desafiar as narrativas existentes sobre a negritude e
destacar as realidades sociais da desigualdade de gênero. Além de já ter
realizado individuais em Angola, ela também participou de residências
artísticas em Portugal.
“Este
trabalho é tanto uma lembrança quanto uma investigação: uma tentativa de
compreender o que os ecossistemas nos revelam sobre nossa história
compartilhada e como eles nos guiam a repensar nossa interdependência como
povos”, diz Wyssolela.
Mostra
temporária Atlânticos
De 12 de setembro a 2 de novembro
De terça a domingo, das 9h às 18h
Grátis para todos os públicos
Pátio B do Museu da Língua Portuguesa
Museu
da Língua Portuguesa
Praça da Luz, s/nº - Luz
SOBRE
O MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA
Localizado na Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa tem como tema o
patrimônio imaterial que é a língua portuguesa e faz uso da tecnologia e de
suportes interativos para construir e apresentar seu acervo. O público é
convidado para uma viagem sensorial e subjetiva, apresentando a língua como uma
manifestação cultural viva, rica, diversa e em constante
construção.
O
Museu da Língua Portuguesa é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia
e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, concebido e implantado
em parceria com a Fundação Roberto Marinho. O IDBrasil Cultura, Educação e
Esporte é a Organização Social de Cultura responsável pela sua
gestão.
PATROCÍNIOS
E PARCERIAS
A Temporada 2025 do Museu da Língua Portuguesa conta com patrocínio máster da
Petrobras e da Motiva; patrocínio da Vale; apoio do Instituto Ultra, do Itaú
Unibanco, e da CAIXA. Conta ainda com as empresas parceiras Instituto
Votorantim, Unipar, Machado Meyer, Porto, Alcaçuz, e Verde Asset Management.
Revista Piauí, Guia da Semana, Dinamize e JCDecaux são parceiros de mídia. O
Museu da Língua Portuguesa é uma realização do Governo do Estado de São Paulo,
por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, e do
Ministério da Cultura – Lei Rouanet.
Sobre
o Instituto Serrinha
A 22a edição do Festival Arte Serrinha (2024) marcou o primeiro ano da
atuação do Instituto Serrinha, espaço dedicado à cultura, à arte, à educação e
à preservação do meio ambiente que vai abarcar os projetos desenvolvidos há
mais de 30 anos pela Fazenda Serrinha. “É um momento especial para montar
projetos dessa natureza, em que a humanidade precisa congregar inteligências e
sensibilidades”, diz Fabio Delduque. A atuação do Instituto permitirá novas
parcerias e o convênio com outros países. A sede do Instituto Serrinha é
abrigada em containers reutilizados, doados pelo Grupo Energisa.
Foto:
Wellington Almeida
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