Nascer com um dom e este não
ser fruto de um sonho profissional, mas encaminhado pelo curso natural da vida.
Foi dessa forma que o locutor Gustavo de
Moraes, da Rádio Melodia FM 97,5 no
Rio de Janeiro, encontrou os passos a seguir para atuar no rádio e marcar uma
história. Entre experiências na área militar, a descoberta do talento para a
locução e um assalto à mão armada que resultou em dois tiros que quase tiraram
a sua vida, o dono da voz possante, detalhou, para o CULTURA VIVA este, dentre outros episódios vividos na carreira como
mensageiro da Palavra de Deus via rádio.
CULTURA VIVA: Ser locutor de rádio sempre foi um desejo profissional?
GUSTAVO DE MORAES:
Eu
nunca pensei em ser radialista. Quando era garoto a minha vontade era de me
tornar um militar; tanto é que eu pertenci aos quadros da Marinha do Brasil, da
armada e também dos fuzileiros navais e acabei no exército, quer dizer, vesti
três fardas, mas não quis ficar em nenhuma. Como meu avô era gráfico, dono de
jornal; meu pai foi gráfico, também era carpinteiro, fazia de tudo, eu também comecei
como gráfico. Depois da experiência nas Forças Armadas, também
trabalhei como monitor de Educação Física e,
como meu pai tinha o hábito de comprar jornal aos domingos, eu gostava de fazer
a leitura em voz alta no banheiro, à noite, até que, certo dia, fui chamado a
atenção por ele. Mas, ainda eu não tinha a intenção de um dia ser locutor. Até
que, em 1985, surgiu uma rádio, ou seja, estava para ser inaugurada uma rádio
FM em Teresópolis, que é a minha terra natal. Eu conhecia um técnico que estava
montando a rádio, e o filho dele também. Conversei com eles e perguntei se
havia alguma vaga para mim na emissora, com o objetivo de fazer uma tentativa. Me
disseram que haveria um teste com uns vinte e cinco candidatos. E eu fui fazer
o teste. Para minha surpresa, fui o único que passei. E estou aí, trabalhando em
rádio.
C.V.:
Há quantos anos trabalha na Rádio Melodia FM e como surgiu esta oportunidade em
sua vida?
G.M.:
Bem,
estou com a Melodia, desde antes dela ser uma emissora evangélica. Soube que surgiu
uma vaga. Eu trabalhava na rádio Ativa FM, em Teresópolis. Não demorou muito,
em Friburgo, também trabalhei na Rádio Caledônia. Soube que a Melodia precisava
de um folguista. Eu sabia que era uma rádio que entrava no Rio de Janeiro e, para
mim, era uma oportunidade a mais. Então, fui lá e fiz o teste; me chamaram e eu
comecei a trabalhar como folguista. Na época, o foguista trabalhava assim: cada
locutor folgava um dia; então, eu fazia todos os horários da rádio durante a
semana. E, assim, comecei. Aí o saudoso Francisco Silva levou a rádio para o bairro
da Vila da Penha e me perguntou se eu queria ir; expliquei que o problema era a
questão da passagem, pois eu precisava me locomover. Me disse que isso não era
problema e ainda falou: “Quero você aqui com a gente”. E estou até hoje para
honra e glória do Senhor, e o rádio tem sido o meu ministério.
C.V.: Dos
programas que já apresentou na Melodia, qual o que considera mais marcante em
sua carreira?
G.M.:
Posso
dizer, com certeza, que não existe o programa mais marcante. Contudo, foi o “Clinica
da Alma”, onde nós recebíamos ali casos verídicos de pessoas vivendo problemas
dos mais diversos e, a cada dia, nós tínhamos, de segunda a sexta-feira, a presença
de um pastor que ficava ali comigo e ele orientava as pessoas. Trazia a Palavra,
orientava, haviam pessoas com problemas até de suicídio. Certa vez, uma moça
que estava à beira do suicídio, o Senhor conseguiu reverter a situação dela,
através de nós.
C.V.: A Rádio
Melodia é a primeira FM do Rio de Janeiro, com inauguração nos Anos 80. Como
analisa este marco no segmento gospel?
G.M.: A Melodia é a primeira
FM evangélica do Brasil. Isso é um marco. Ela abriu oportunidades para aqueles
que são cantores, são levitas e precisavam serem conhecidos pelo público. Temos
muitos ouvintes que não são evangélicos e ouvem a Melodia porque gostam da rádio
e da forma como conduzimos os programas. Isso tem sido uma bênção! Ela é um marco para todo
o povo de Deus. Enfim, a rádio é um difusor da Palavra.
C.V.: Além dos
cantores, locutores, pastores e outros que atuam nas igrejas evangélicas
tiveram, através da Melodia, a oportunidade para desenvolverem seus projetos
profissionais e tiveram bom êxito. Especificamente, para o senhor, o que
representa a emissora?
G.M.: Creio que a Melodia
foi e tem sido um verdadeiro instrumento para dar oportunidades, inclusive para
que pastores divulguem seus ministérios, seus trabalhos e aquilo que lhes foi
dado como o dom do Senhor – um canal de bênçãos e de oportunidades para todos, realmente.
C.V.:
Mesmo depois de tantos anos de carreira ainda tem algo que te trava um pouco na
profissão?
G.M.: Não. Graças a Deus, não, porque nós temos liberdade! E logicamente, nós temos que usar o discernimento. Não é porque se tem liberdade que vai fazer o que quer, falar o que quer, o que pensa, não: nós vivemos dentro de uma estrutura, um sistema onde nós temos que praticar o bom senso e a gente segue, não é mesmo?
C.V.: Em maio de
2019 o senhor foi baleado em um assalto, na Linha Amarela, uma das principais
vias do Rio de Janeiro. Diante do fato, na época, qual era a sua maior
preocupação?
G.M.:
Diante
do fato ocorrido no dia 2 de maio de 2019, onde fui atingido por dois tiros
porque, na verdade, me confundiram com o policial. Cismaram que eu era da
polícia; falei, com o principal assaltante, que não era; um estava com o
motorista e, o outro, no salão, assaltando os passageiros. Diante da ameaça feita
– porque o parceiro do assaltante ordenou que me matasse, que acabasse comigo
de uma vez – eu não sabia o que fazer, realmente. Pedi a Deus uma providência e,
num dado momento, vi a oportunidade de partir para cima do assaltante, no
momento em que ele se distraiu, só que eu tinha esquecido que o outro poderia
estar armado também. Bobagem, claro que estava. Mas, enfim, fui atingido no abdômen; não lembro
de nada, a partir do momento em que eu fui para cima do rapaz, apagou tudo, eu
não vi nada: eu só lembro do momento em que voltei ao normal e estava com algo no
centro da minha testa, e eu procurando saber o que que era aquilo. Na verdade,
era a arma do assaltante, mas eu não compreendia; foi quando olhei para cima e,
nesse momento, ele disparou na intenção de me atingir na testa, mas, ao falar
com o outro assaltante, não percebeu e o projétil me pegou descendo pelo seio
da face estourando o globo ocular. E eu não sei dizer que preocupação tive ali não. Eu pensei: morrerei
ou irei sobreviver a isso? Louvado seja Deus que eu sobrevivi! Creio que Ele me
permitiu passar por toda aquela situação, mas preservou a minha vida.
C.V.: Dá para
traduzir a experiência adquirida no rádio em palavras? Quais seriam?
G.M.: O que me ajudou muito e tem me ajudado até hoje é a relação maior com as pessoas, gente de tudo o que é tipo. Viver nos diversos e mais diversos problemas que você possa imaginar. E como eu me extroverti! Eu era um cara muito tímido e isso me ajudou muito a acabar com essa timidez.
C.V.: Que recado
deixa para o público que te acompanha na Rádio Melodia?
G.M.:
Atentem
para a Palavra de Deus e das várias formas pelas quais ela é divulgada, seja
através da música, das mensagens e das pregações. Que as pessoas possam não
apenas ouvir rádio, mas que possam receber de Deus através do rádio, através da
Rádio Melodia.
Foto: Divulgação
2 comentários:
Parabéns meu amigo ex companheiro de trabalho ao qual tive a honra de ser telefonista. Excelente entrevista! repassando para amigos aqui!😉😍👏
Parabéns JORNAL Cultura VIVA por Edson Soares pela iniciativa da entrevista ao grande e abençoado profissional Gustavo de Moraes!😉👏👏
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