Ele faz da vida uma poesia e, a partir dela, sua
trajetória perpassa pelo jornalismo, pela música e por poemas que retratam a
vida e seus meandros. No momento atuando como coordenador de Patrimônio,
Acervo e Memória da Casa Heloísa Alberto Torres, em Itaboraí, no Rio de
janeiro, vem desenvolvendo um trabalho que fica como legado na cultura e na
educação local e nas redondezas.
Com tanto talento assim, só poderia ser mesmo
o jornalista, poeta e músico William Mendonça – um orgulho nacional!
Hoje ele concedeu entrevista exclusiva para o
CULTURA VIVA e, assim, relatou, um
pouco, de sua jornada na arte e nas ciências. Que orgulho!
Acompanhe!
CULTURA VIVA: Pensar sua história é se deparar com o texto
e, constantemente, a poesia está contida em suas obras, seja na literatura ou
no jornalismo. De onde vem esse talento e inspiração? É de família?
WILLIAM MENDONÇA: Na verdade, eu sempre ouvi
muita música e informação, através do rádio. Desde o berço, minha mãe usava o radinho
de pilha como minha companhia e eu não consigo lembrar um momento na vida em
que o rádio não tenha me acompanhado. Apesar de ser um profissional do texto,
no jornalismo, sempre quis fazer rádio. A carreira acabou seguindo pelo
jornalismo impresso. Já na arte, por volta dos 15 ou 16 anos, eu comecei a
fazer tudo meio que ao mesmo tempo: escrever poesia, tocar violão, cantar,
montar uma banda com amigos e escrever para teatro. Foi meu caminho para a
maturidade. Em 1995, participei de uma Oficina de Teatro no Teatro João Caetano,
de Itaboraí, e, de autor de peças, acabei me tornando ator, diretor e
oficineiro de teatro. Também escrevi e publiquei muitas crônicas e artigos em
jornais e ainda escrevo contos e romances de ficção científica e fantasia.
C.V.: O primeiro festival que participou em 1985 foi um norte para sua
vida. Ali conseguiu imaginar a realidade que vive hoje?
W.M.: Não, de jeito algum. Eu tinha produzido uns dois volumes
de sonetos naquela época. Escrevia diariamente e estudava um pouco da técnica,
da rima e da métrica. Era inspirado pelos poetas que eu lia, como Olavo Bilac e
Vinícius de Moraes. Participei do festival do Instituto Abel, de Niterói, onde
eu estudava, apenas para me testar. Alguns amigos incentivaram. O segundo lugar
acabou mostrando que havia alguma coisa legal ali. E os sonetos acabaram me
acompanhando, pois ainda são parte fundamental do que escrevo hoje. Foi algo
que desenvolvi ao longo da vida. Mas escrevo haicais, cordel, versos livres,
poemas em prosa, o que der vontade. Poesia não tem limites.
C.V.: Além de compor poesias e se dedicar ao soneto, sua arte também
passa pela música, tanto no canto, como no tocar instrumentos. Onde se realiza
mais: cantando ou tocando?
W.M.: Analisando hoje, a música foi mais um meio criativo. Em
pouco tempo, eu já estava compondo. Era o que eu queria fazer. Tocar e cantar
eram meios para me expressar. No início, fazia sempre letra e música, fui
encontrando meus caminhos. A primeira banda era chamada Carametade, de Niterói,
com meu parceiro musical Ricardo Mann, minha esposa Virgínia (Nina) Gomes e
outros amigos. Participamos de festivais e criamos ali um repertório legal.
Também compus várias trilhas para musicais no teatro. A mais encenada é “A Voz
que Clama no Deserto”, primeiro auto de São João Batista encenado em Itaboraí
com direção do meu saudoso amigo Zeca Palácio, no qual eu fiz o texto e as
canções originais. Hoje sou mais músico e compositor. Canto apenas para
registrar o que faço. Então, o que me realiza mesmo é compor.
C.V.: Na área do jornalismo, o senhor tem uma história ao ser
responsável por diversos veículos dedicados ao impresso nos municípios de
Tanguá e Itaboraí. Como foi esse período em sua carreira? Muitas experiências?
W.M.: São trinta e cinco anos de carreira. Eu passei por várias
mudanças tecnológicas, tive a oportunidade de criar cadernos culturais, ser
chefe de redação em um jornal centenário, ser editor de um jornal diário por
mais de cinco anos, com grande equipe, e de colaborar com mais de uma dezena de
jornais da região, inclusive como colunista de cultura. De vez em quando, algo
que fiz, há duas ou três décadas, é citado em algum trabalho de história, e eu
percebo que estou ficando velho, ou antigo. Mas, foi um período de aprendizado
e evolução. Tive bons mestres e pude também auxiliar no início de carreira de
muita gente, que passou nas equipes que coordenei. Acho que isso é o que vale
mais a pena.
C.V.: Que análise faz da Comunicação hoje na região? Falta patrocínios
para se apresentar ao público um trabalho de qualidade, em todos os sentidos?
Que critica faria?
W.M.: Tenho que louvar a resistência do Folha da Terra, como um
jornal impresso que permanece, mesmo tendo se adequado ao meio digital. Vi,
praticamente, toda a produção de jornais da região morrer nos últimos dez anos.
Quando me mudei para Tanguá, na época ainda distrito de Itaboraí, circulavam
naquela cidade pelo menos dez jornais, um deles centenário, outro com cinquenta
anos. Os proprietários foram morrendo, e os jornais também. A velocidade e superficialidade da
comunicação pela internet acabaram matando quase todos os outros. Faltou
capacidade de adaptação e hoje há pouco espaço para a mídia impressa.
C.V.: Sempre envolvido com a Cultura, também atua como coordenador de
Patrimônio, Acervo e Memória da Casa Heloísa Alberto Torres, em Itaboraí. Como
desenvolve este trabalho?
W.M.: Eu participei de vários eventos na Casa de Cultura
Heloísa Alberto Torres, desde a década de 1990, como artista, falando poesia ou
em peças de teatro, além de ter feito, a convite, os releases de várias
atividades nesse tempo. Entrei para a equipe no final de 2019, ainda na área da
comunicação, mas, em 2021, o gestor Alan Mota me convidou para fazer esse
trabalho no setor de Patrimônio, Acervo e Memória. A ideia, como jornalista
envolvido com cultura, é contar as histórias da Casa e de seus personagens, com
eventos, palestras e exposições. E também acompanhar o trabalho que está sendo
feito com o acervo, tanto na própria Casa, quanto no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST),
onde os documentos e fotos estão sendo tratados. É uma oportunidade única, de
estar na equipe de um centro cultural que pertence ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
com gestão do município de Itaboraí. A orientação do gestor Alan Mota é receber
os pesquisadores, artistas e público sempre de portas abertas e com todo
empenho, para difundir o legado de Heloísa Alberto Torres.
C.V.: Sua participação nos eventos promovidos pelo Sarau (Uni)versos
Livres, organizado pelo escritor Pedro Garrido, faz total diferença e
acrescenta ao seu currículo. Qual sua opinião sobre esta iniciativa?
W.M.: O Sarau (Uni)versos Livres é uma ideia brilhante, já a
partir do nome, que partiu de um poeta, que é um verdadeiro motor cultural.
Pedro Garrido mobiliza as pessoas. Vi muito disso no final dos anos 1980,
quando participei do movimento das performances poéticas em Niterói. Lembro de
outras figuras com esse perfil, mas destaco o eterno Chacal, que até hoje
mantém seu CEP 20.000 no Rio. O movimento dos saraus cresceu muito depois da
pandemia e acho que voltou para ficar. Como poeta e participante do Sarau
(Uni)versos Livres, mas também funcionário da Casa de Cultura, faço essa ponte
para o evento que acontece lá todo último sábado de cada mês, aberto a quem
quiser participar.
C.V.: Quais são as suas redes sociais?
W.M.: Não uso muito redes sociais. Quem quiser encontrar meu
trabalho, inclusive com livros para download gratuito, é só passar pelo site www.williammendonca.com.br.
Fotos: Arquivo pessoal de William Mendonça