Os desafios que um médico encontra a partir do momento
que veste seu jaleco e põe a mão na massa: atender pacientes de uma forma
específica num novo formato que o mercado apresenta à população. Ou seja,
dentre as ramificações da Medicina há uma especialização que abriu um novo leque
de trabalho e presenteou aos cidadãos com a Medicina de Família e Comunidade.
Em se tratando da rede pública, o profissional que tem essa especialização depara-se com
os problemas sociais a cada instante e precisa de apoio de outros profissionais
para colaborarem na apresentação de soluções.
Nascido para o cargo, o médico Rodrigo Lima atua neste setor em Brasília, no Distrito Federal, e tem escrito uma história diferente
na região: a partir de seu empenho diversas famílias e localidades têm sido
beneficiadas graças ao encorajamento desse profissional.
Num bate papo exclusivo com o CULTURA VIVA, O Dr. Rodrigo
falou sobre sua carreira, os desafios que enfrenta, além de dar orientações
preciosas.
Acompanhe!
CULTURA
VIVA:
Ser médico ou jornalista. No
momento em que deveria decidir qual profissão escolher, optou por Medicina. Por
que ela teve peso maior?
RODRIGO
LIMA:
Acredito que foi uma escolha mais pragmática mesmo. A medicina me prometia uma
carreira mais segura e, financeiramente, mais estável. Felizmente, eu encontrei
nela uma maneira de conhecer e, eventualmente, contar as histórias das pessoas
com quem cruzo pelo caminho, o que acaba alimentando o jornalista que ficou
aqui guardado.
C.V.:
Especializar-se em Medicina de Família e Comunidade foi um desafio?
R.L.: Eu te diria que
não havia outra opção. A medicina como aparecia, para mim, após a formatura não
era uma opção. Ainda digo que se não pudesse ser MFC eu largaria a medicina e
seguiria outro caminho. Mas, foi sim um desafio, pois não é uma especialidade
muito conhecida nem valorizada como deveria, o que significa que precisamos dar
muito duro para construir uma carreira legal.
C.V.:
Esse campo de trabalho está em expansão?
R.L.: Felizmente sim.
Cada vez mais o público, em geral, e os gestores de serviços de saúde (públicos
e privados) conhecem a especialidade e sua importância para oferecer cuidados
primários de qualidade.
C.V.:
Depois dessa pandemia do coronavírus, quais serão as próximas dificuldades que
um Médico de Família poderá enfrentar, em sua opinião?
R.L.: Provavelmente,
"arrumar a casa" dos nossos pacientes. Ou seja, encontrar um cenário
de condições crônicas, como diabetes, depressão, osteoartrites bastante descompensados
pela perda da assistência que ocorreu devido à pandemia. Além disso, lidar com
as sequelas da doença será uma coisa nova para todos nós. Além, é claro, do
luto que boa parte da população viveu e poderá viver por algum tempo após a
perda de pessoas próximas.
C.V.:
Atuar como Médico de Família e Comunidade tem um cunho social forte? Isso
te espantou no início da carreira?
R.L.: Embora respeite
bastante MFC que optaram por seguir carreira no setor privado, e eu mesmo faço
atendimentos fora do SUS. Acredito que é, no sistema público de saúde, que um
MFC tem espaço para desenvolver todo o seu potencial. Somos essencialmente
"advogados" de nossos pacientes perante o sistema que muitas vezes
não dá as respostas que deveria, e temos a responsabilidade de cuidar das
pessoas em todas as circunstâncias. Para mim, não foi exatamente um espanto,
mas, sim, uma alegria perceber que havia um espaço na medicina feito para quem
atendeu o chamado da responsabilidade social.
C.V.:
O Canal Saúde exibe, constantemente, uma entrevista sua falando sobre os
problemas do coração. Enfim, quais os principais cuidados que uma
pessoa deve ter para manter este órgão saudável?
R.L.: Eu diria que o
coração não merece recomendações isoladas, pois é apenas uma parte de uma
pessoa. Se você cuida bem do coração, mas surgem outras doenças, o simples fato
de não se sentir bem pode atrapalhar o coração. Então, eu diria que um coração
saudável depende de uma vida saudável, e a saúde depende de boa alimentação,
atividade física regular, boas horas de sono, mas também de uma boa moradia,
emprego, segurança, renda, lazer, enfim, de uma vida feliz e com o mínimo de
privações.
C.V.:
Para quem gostaria de ser um jornalista, o senhor tem bastante aparição na
mídia, em geral. Isso supre, um pouco, o desejo antigo?
R.L.: Sim, sem dúvida.
A oportunidade de me comunicar com pessoas através de meios de comunicação de
massa é bastante gratificante. Mas, foi um momento proporcionado pela
oportunidade de servir à Sociedade Brasileira de Medicina de Família e
Comunidade como diretor de comunicação por 4 anos. Depois de mim, outros
colegas assumiram a função e, hoje, eu ando mais "sumido".
C.V.:
Já desenvolveu algum trabalho social em comunidades que precisam de apoio e
orientação no fator saúde? Como foi?
R.L.: Por estarmos
inseridos em comunidades mais vulnerabilizadas e perceber a importância de
ações educativas a gente acaba desenvolvendo bastante este tipo de iniciativa.
Já tive experiências com rádios comunitárias onde ia uma vez por semana responder
perguntas dos ouvintes; já realizei grupos abertos para conversar com a
população em escolas, associações de bairro. Todas essas atividades são
bastante gratificantes porque permitem uma troca de conhecimentos que acaba
sendo bastante educativa não apenas para a população, mas para os
profissionais.
C.V.:
Nesses anos de carreira, qual foi a situação de saúde, em famílias, que se
deparou e teve problemas para encontrar soluções?
R.L.: Eu acho que dois
elementos são bastante relevantes para definir a complexidade de um problema de
saúde: o número de pessoas que ele envolve na família e a duração do problema.
A partir daí te diria que as situações mais difíceis são as que remetem a
momentos bem anteriores das famílias e que trouxeram conflitos entre muitos de
seus membros. Destacaria situações de abuso/violência doméstica (especialmente
sexual), pois envolvem problemas físicos, psicológicos, relacionais, o que
demanda a articulação de vários profissionais para oferecer o melhor cuidado.
Um médico de família e comunidade sozinho faz muito pouco diante deste tipo de
cenário, precisa atuar junto com colegas de outras categorias profissionais.
C.V.:
Existe algum site com orientações básicas às famílias ou
iniciativa na rede pública que informe melhor a população sobre
saúde?
R.L.: O Ministério da Saúde
costumava ter boas informações voltadas para os pacientes, mas parece que,
ultimamente, seu portal deixou de focar neste papel. As Secretarias de Saúde
costumam oferecer algumas informações relevantes. Mas, infelizmente, não
consigo mencionar um site específico com informações de maior qualidade.
C.V.:
Quais são suas redes sociais?
R.L.: Twitter @rodrigo_blima.
É lá que eventualmente coloco algum conteúdo relacionado à medicina e saúde em
geral.
Foto: Arquivo pessoal do Dr. Rodrigo Lima