É
impossível refletir sobre a obra da artista e intelectual Lia D Castro (Martinópolis,
São Paulo, 1978) sem falar de encontros, contrastes, fricções e
transformações. A partir de 5 de julho, o público pode encontrar a
exposição Lia D
Castro: em todo e nenhum lugar, no MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis
Chateaubriand. A primeira mostra individual da artista em
um museu reúne 36 trabalhos, sendo a maioria pinturas de caráter figurativo. As
obras selecionadas exploram cenários onde o afeto, o diálogo e a imaginação se
tornam importantes ferramentas de transformação social.
O título da exposição parte da
constatação da ausência histórica de grupos minorizados em posições de poder e
decisão — em nenhum lugar —, enquanto sua presença e força de
trabalho compõem as bases que sustentam a sociedade — em todo lugar. Com
curadoria de Isabella
Rjeille, curadora, MASP, e Glaucea Helena de Britto, curadora
assistente, MASP, a mostra apresenta trabalhos que abrangem toda a produção da
artista.
Lia D Castro utiliza a prostituição
como ferramenta de pesquisa e desenvolve sua produção a partir de encontros com
seus clientes – homens cisgêneros, em sua maioria brancos, heterossexuais, de
classe média e alta – para subverter relações de poder ou violência que possam
surgir entre eles, aliando história de vida e história social. Temas como
masculinidade e branquitude, mas também afeto, cuidado e responsabilidade, são
abordados nessas ocasiões e resultam em pinturas, gravuras, desenhos,
fotografias e instalações criadas de modo colaborativo.
Nesses momentos,
ela conversa com esses homens e os convida a refletir: quando você se percebeu
branco? E quando se descobriu cisgênero, heterossexual? “Perguntas sobre as
quais a artista não busca uma resposta definitiva, mas sim provocar um
posicionamento dentro do debate racial, sobre gênero e sexualidade”, afirma a
curadora Isabella Rjeille.
As conversas de Lia D Castro com
esses homens são permeadas por referências a importantes intelectuais negros
como Frantz Fanon, Toni Morrison, Conceição Evaristo e bell hooks. Frases
retiradas dos livros desses autores, lidos pela artista na companhia de seus
colaboradores, são inseridas nas telas e misturam-se aos gestos, cenas, cores e
personagens. O trabalho de Lia D Castro torna-se um lugar de encontro, embate e
fricção, no qual ações, imagens e imaginários são debatidos, revistos e
transformados. Com frequência, a artista insere referências a outros trabalhos
por ela realizados, incluindo-os em outro contexto e, consequentemente,
atribuindo novos significados e leituras a essas imagens.
“Partindo da visão de Frantz Fanon
de que o racismo é uma repetição, eu proponho combatê-lo com a repetição de
imagens. Como a imagem constrói cultura e memória, ao colocar uma obra dentro
da outra, busco criar novas referências estéticas”, comenta a artista.
PINTURAS E
METODOLOGIA ARTÍSTICA
A produção de Lia
D Castro é organizada em séries, sendo a maior delas Axs Nossxs Filhxs,
presente nesta exposição. Desenvolvida na sala de estar e ateliê de Lia D
Castro, um lugar de encontro e trocas, comerciais, intelectuais e afetivas, a
série apresenta um processo criativo marcado por escolhas coletivas, da paleta
de cores à assinatura das obras. A repetição é uma característica central: por
meio desse recurso é possível reconhecer gestos, personagens e situações, assim
como outras obras da artista que aparecem representadas nas telas, acumulando
significados. A utilização do “x” no título da série se refere à diversidade de
formações familiares e vínculos afetivos para além do parentesco consanguíneo
ou da família heterossexual monogâmica. O uso do “x” também é utilizado para
abarcar diferentes gêneros.
Lia D Castro também se retrata em
pinturas dessa série. Enquanto os homens estão nus, ela encontra-se vestida.
Seu corpo é coberto por esparadrapos colados sobre a tela formando um longo
vestido branco, na contramão da tradição histórica da pintura ocidental, em que
a grande maioria dos nus são femininos.
A artista subverte também pintando
esses personagens em momentos de pausa, descanso, lazer, leitura e
contemplação. “O caráter político da obra de Lia D Castro questiona o
imaginário social que vincula violência e subalternidade a corpos não
hegemônicos na arte ocidental”, afirma a co-curadora Glaucea Helena de Britto.
Lia D
Castro: em todo e nenhum lugar integra a programação anual
do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+. Este ano a programação
também inclui mostras de Gran Fury, Francis Bacon, Mário de Andrade, MASP
Renner, Catherine Opie, Leonilson, Serigrafistas Queer e a grande coletiva Histórias
da diversidade LGBTQIA+.
SOBRE LIA D
CASTRO
Artista e intelectual, Lia D Castro
nasceu em 1978, em Martinópolis, São Paulo, atualmente, vive e trabalha na
capital paulista. A artista realizou exposições individuais no Instituto Çarê
(2022), em São Paulo, e na Galeria Martins&Montero (2023), em São Paulo e
na Bélgica. Dentre as exposições coletivas, destacam-se a 10a Mostra 3M
de arte – Lugar Comum: travessias e coletividades na cidade, no Parque
Ibirapuera, em São Paulo (2020); A verdade está no corpo, no Paço
das Artes, São Paulo (2023); Middle Gate III, no De Werft, na
Bélgica (2023); Hors de l’énorme ennui, no Palais de Tokyo, na
França (2023); e Dos Brasis: arte e pensamento negro, no Sesc
Belenzinho, em São Paulo (2023). Sua obra integra o acervo da Galeria
Martins&Montero (São Paulo e Bélgica) e S.M.A.K., Stedelijk Museum voor
Actuele Kunst (Bélgica).
ACESSIBILIDADE
Todas as exposições temporárias do
MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com
deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em Libras ou
descritivas; textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em
linguagem fácil, com narração, legendagem e interpretação em Libras que
descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos podem ser utilizados
por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não
alfabetizadas e interessados. Os conteúdos ficam disponíveis no site e canal do
Youtube do museu.
CATÁLOGO
Na ocasião da mostra, será
publicado um catálogo bilíngue, em inglês e português, composto
por imagens e ensaios comissionados de autores fundamentais para o estudo da
obra de Lia D Castro. A publicação é organizada por Adriano Pedrosa, Isabella
Rjeille e Glaucea
Helena de Britto, e inclui textos de Ana Raylander Mártis dos Anjos, Denise
Ferreira da Silva, Glaucea Helena de Britto, Isabella Rjeille e Tie Jojima. Com design do PS2
– Flávia Nalon e Fábio Prata, a publicação tem edição em capa dura.
MASP LOJA
Em diálogo com a exposição, o MASP
Loja apresenta produtos especiais de Lia D Castro, que incluem uma bolsa,
postais e marca página, além do catálogo oficial da mostra.
Lia de
Castro: em todo e nenhum lugar
Curadoria de Isabella Rjeille,
curadora, MASP e Glaucea Britto, curadora assistente, MASP
1º subsolo
Visitação: 5.7.2024 – 17.11.2024
MASP – Museu de Arte de São Paulo
Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista
01310-200 São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis e primeira
quinta-feira do mês grátis; terças, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta
a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.
Agendamento on-line obrigatório
pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 70 (entrada); R$ 35
(meia-entrada)
Site oficial
Facebook
X (ex-Twitter)
Instagram
Foto:
Divulgação