Nostalgia. Esta palavra traduz, um pouco, o que muitos telespectadores sentem quando lembram da
TV Manchete. Sucesso noa
Anos 80 e 90, a emissora chegou a ser a segunda maior no país e agregou milhões de fãs. Devido a alguns problemas, a emissora faliu e deixou muita gente órfã. Contudo, o estudante de Jornalismo e Assistente de Produção da TV Escola,
Tadeu Goulart, faz parte de um projeto que vai comemorar, de forma célebre os
30 Anos da Manchete. E de uma das melhores formas: através de um
filme que vai discorrer essa história de sucesso. "A vontade de fazer um documentário sobre a
Manchete surgiu da vontade de conhecer um pouco mais da história da televisão mesmo, que é uma grande paixão da equipe que realizou o trabalho. E a
Manchete despertou a nossa curiosidade devido ao nascimento de uma televisão totalmente diferente do que tinha sido implantado anteriormente no
Brasil, com um investimento pesado do seu dono, o
Adolpho Bloch, que já fazia sucesso na
Revista Manchete", informa.
CULTURA VIVA: A nostalgia ainda é grande pelo público, em sua análise?
TADEU GOULART: Eu, como muitas crianças da minha idade, na época, idolatrávamos os herois dos desenhos e séries japonesas que foram trazidas para o Brasil, pioneiramente pela Manchete. Sem falar das novelas, linhas de show e telejornalismo da melhor qualidade que nossos pais assistiram e levaram a emissora a disputar um lugar ao sol na audiência diária. O nosso grupo também está conectado por meio de um canal on-line de televisão, o TV News (
www.youtube.com/tvnewsrede), que funciona num formato muito útil para a gente. Nele, temos treinado bastante prática em telejornalismo e anteriormente fizemos uma série sobre a história da extinta TV Tupi, o que podemos considerar um projeto embrionário do que estamos fazendo hoje. O público que tem nos acompanhado na divulgação do documentário é muito fã da Manchete e lembra com carinho da emissora. Esse movimento é resultado do trabalho de alta qualidade que a Machete mantinha, o que foi uma das marcas da emissora na produção de especiais, linha de shows, telenovelas e do carnaval, um momento lembrado com carinho até hoje. Eu sinto que o público necessita lembrar dessa época porque hoje se sente subjugado pelas grandes emissoras, que nivelam por baixo a qualidade de conteúdo dos programas, o que acaba não refletindo a realidade e a necessidade de quem assiste, seja em busca dos jornalísticos ou do entretenimento.
C.V.: Além de você, quem são os profissionais envolvidos no projeto e quais suas funções?
T.G.: Bem, o trabalho foi desenvolvido primordialmente pelos alunos do curso de Comunicação Social da Uerj, das duas habilitações existentes atualmente na faculdade, Jornalismo e Relações Públicas, de diferentes períodos. Quem desejar, pode conferir todos os envolvidos no trabalho e suas áreas de atuação em nosso site:
www.documentariotvmanchete.com/equipe.html
C.V.: E a pesquisa, deu trabalho? Conseguiram muito material? Encontraram resistências na produção do filme?
T.G.: Aproveitamos o tempo livre para assistir programas antigos, passear pelo site da emissora e começamos a nos movimentar, ligando para as veículos e empresas que os antigos funcionários trabalham atualmente, entrando em contato com colegas que já estão no mercado trabalhando com assessoria de imprensa e também alguns RPs. Conforme fomos conseguindo contatos, a pesquisa engrossou e pudemos selecionar as melhores imagens, documentos e vídeos para nos ajudar a narrar essa história. Conseguimos um bom material, mas, é claro que os entraves judiciais que impedem a divulgação do arquivo antigo da Manchete prejudica sempre quem quer realizar esse tipo de trabalho.
C.V.: Com o trabalho próximo à data de exibição na Uerj (dia 5 de junho), o que mais valeu a pena nessa correria?
T.G.: Para mim, o que mais valeu a pena foi a experiência de viver um jornalismo mais investigativo, de apuração constante, em contato com as nossas fontes a todo momento. Conhecer, na fala dos entrevistados, um pedaço da história do jornalismo no Brasil, é um privilégio para qualquer estudante ou profissional da área e conclui bem o que busco nesta profissão, que é mediar a informação diante do conhecimento da vivência alheia.
C.V.: O que o Brasil perdeu com a saída da Manchete do mercado de TV e Comunicação?
T.G.: O Brasil perdeu uma emissora de alta qualidade, que teve uma importância singular dentre as outras televisões. Uma das características da Manchete que mais marcam é a liberdade que os profissionais tinham dentro da rede para inovar. Muitos entrevistados nos contaram que a Manchete era uma emissora mais liberal e as pautas estavam sob o domínio do repórter e a abordagem também seria de responsabilidade dele. A gente sente que a Manchete faz mais falta por proporcionar uma TV de qualidade para todos os públicos, com uma programação bem produzida, com temas, mundos e enfoques diferentes sem ser direcionado para uma massa elitizada. Assistir um programa sobre música clássica na TV e gostar de funk não deixa ninguém menor, ainda mais no mundo de misturas e intersecções que vivemos hoje, mas o modo como se expressa esses signos e traz isso para o expectador é que diferencia o todo que a emissora buscava. E a Manchete priorizava muito isso.
C.V.: E o público que ficou órfão? Houve muita reclamação de telespectadores pela perda?
T.G.: Demais. O mais legal de estar em contato com eles agora, que provavelmente viram muito mais da Manchete do que nós, que estamos na faixa de 20 a 30 anos, é a lembrança viva e a dor que sentem quando pensam que tudo aquilo acabou. Com o domínio da Rede Globo sob a audiência há mais de 30 anos, com algumas ressalvas, a morte da Manchete e uma certa mediocrização da programção aberta em outros canais, o público se sentiu muito depreciado por não haver uma concorrência da mesma qualidade que a Globo proporciona atualmente com seu padrão internacionalmente dominante. O que a gente vê é um público muito carinhoso e atento a qualquer novidade sobre uma volta da Manchete. Alguns fãs de grandes globais os acompanham desde a época da Manchete, como a Xuxa e a Angélica, e estão muito ansiosos para a estreia.
C.V.: Para compor o documentário, teve patrocínios ou apoio cultural?
T.G.: Atualmente, contamos com dois patrocinadores: A Miguez Chocolates e a Amazzo Açaí, que vão nos dar uma grande força no lanche após a exibição. A UERJ cedeu o espaço para a exibição também, mas o documentário não tem uma vinculação direta com ela, pois nasceu de uma iniciativa do Fernando Borges. Ele entregou uma versão do documentário como trabalho da disciplina Projetos Experimentais, na qual isso era trabalho, mas o que fazemos não tem essa vinculação. Ainda estamos tentando contato com mais patrocinadores e precisamos mesmo.
C.V.: Que recado você deixa aos amantes da TV Manchete?
T.G.: Eu quero convidar a todos para comparecer, no dia 5 de junho, no auditório do 9º andar da UERJ, às 19h, para assistir o documentário "Aconteceu, virou Manchete!". Fizemos o melhor possível e espero que possam gostar.
Foto1: Arquivo pessoal de Tadeu Goulart
Foto2: Internet