Ele
é a arte em pessoa. Também um intelectual que faz história na Educação. Um
mestre que já ajudou a formar muita gente que atua no magistério com grande
desenvoltura, enfim, um ser humano diferenciado, apaixonado pelo o que faz e
sempre tem algo a acrescentar, isto é, o homem não para! Dá aulas, edita
livros, lança livros, orienta, coordena e ajuda a construir um país melhor
através da forma leve e descontraída que recebe a todos que recebem sua bênção
na arte de lecionar, embora com tantos contratempos e motivos para desistir. Só
poderia ser mesmo o professor Rubem Baptista, 57 anos, morador de Niterói
(RJ).
Hoje
ele concedeu entrevista exclusiva para o CULTURA VIVA e falou,
principalmente, sobre o livro que acaba de lançar com o título “Nuvem
Pretinha”, dedicado ao público infantil. Este bate papo está um charme só!
Acompanhe!
CULTURA
VIVA: Sua trajetória no magistério é longa. Como avalia esse trajeto até aqui?
RUBEM
BAPTISTA: Essa pergunta
é bastante determinante, pois costumo usar as palavras do inesquecível
Imperador Alexandre - O Grande: “Vine vide vici” . Ou seja, “vim, vi e venci!
Afinal de contas, são mais de trinta anos de docência, onde ajudei a formar uma
“safra de sangue novo” para o magistério, dentro e fora da minha área. Não é
todo tipo de profissional que pode esbarrar com um ex-aluno que, se dirigindo a
você, tem a incrível alegria de te chamar de “colega de profissão”!
C.V.:
Escrever um livro sempre foi um desejo profissional ou tem mais a ver com afeto
pelas conquistas que agregou?
R.B.: Consegui cumprir os “3 desafios do Ser
Humano” (plantar uma árvore; escrever um livro e ter um filho) com muita
alegria e disciplina. Cada um deles foi no momento certo. Porém, a questão da
escritura literária, atrelada às letras do profissional que sou, permitiu-me
uma ampliação de lastro, inclusive como Ser Humano, visto que – inevitavelmente
– o afeto, como a educação e a gratidão, são valores intrínsecos aos seres humanos.
Basta que lhes sejam despertados e aprimorados modelarmente. Por conta disso,
tive muitos exemplos de vida e muitas inspirações que viraram história.
C.V.:
Como descreveria o livro "Nuvem Pretinha"? O que te motivou a
elaborar tal obra?
R.B.:
Um banho de inocência e
muita emoção para tratar de um assunto que, atualmente, é considerado como
bastante delicado. Porém, o impulso que tive para criar esse texto foi estar
convivendo diariamente com criancinhas do ensino fundamental 1 (2º, 3º e 4º
anos). Nessa idade, a energia viva delas fala muito mais alto para congregar
sem qualquer distinção. Principalmente, daqueles tipos que os adultos criam
para se afastar.
C.V.:
E por que o público infantil foi alvo de suas discussões?
R.B.: Tive facilidade em transitar em alguns
gêneros bastante distintos. Inclusive o de poemas. Todos como exercício da pura
escritura. Especificamente, os infantis têm me permitido fugir da formalidade e
da disciplina e do rigor literário. Escrever para um tipo de público cria uma
“obrigação” para você pensar e sentir como aquele público, antes de “pintar”
uma situação com uma determinada carga de emoção. Quando é para criança, existe
uma permissão e liberdade maior. Com eles, quando escrevo, a “licença poética”
é um eterno “sinal verde” para continuar.
C.V.:
Falar de "inclusão" com crianças é mais complicado do que se imagina?
R.B.: Depende muito da sua liberdade de
emoção naquele momento que estiver com elas. Lembra da “Terras do Nunca”, de
Peter Pan? Uma história infantil que, com o passar do tempo, teve essa
expressão usurpada por profissionais da liderança e motivação para treinar suas
equipes, quando estão com questões problemáticas e (aparentemente) sem solução.
Ou seja, vá (mentalmente) para a “Terra do Nunca” e encontre uma boa solução,
pois lá, tudo é possível. Com essas joias em fase de lapidação (as crianças!) é
mais fácil (e sem determinadas fugas), pois o seu acervo de vida é bem menor.
Mas, temos que acreditar na emoção do “ourives”!
C.V.:
Tratar o assunto "preconceito" com crianças parece assunto de adulto.
O tema gera desconforto com elas também ou levam numa boa?
R.B.:
Certa vez, contei uma
história para falar do “bom senso”. As personagens principais eram o Amor e a
Educação. Toda criança aprende tudo que ela vê, ouve e sente constantemente.
Principalmente, quando esse modelo é dado pelos pais. Nessa abordagem, não pode
haver incongruência. E, sobremaneira, tem que haver uma estreita parceria entre
família e escola, para que as crianças sejam as melhores sementes de
transformação social, partindo daquilo que aprendem com seus pais e
professores. O efeito, a médio prazo (10 anos) será similar ao daquela metáfora
da pedra no lago. Ou seja, as ondas vão se multiplicando muito e
constantemente.
C.V.:
Qual o feedback vem tendo do público com esta obra?
R.B.: Ele foi lançado recentemente (novembro
de 2024), para entrar em culminância com as comemorações pelo dia da
consciência negra. Mas ele já estava sendo analisado e avaliado por
profissionais da literatura infantil: escritores, contadores de história e professores
de ensino fundamental 1 e pedagogos. Todos entenderam tratar-se de um assunto
sério, porém embalado em um discurso ingênuo e emocionante, pois a valorização
da família também se faz presente.
C.V.:
Em algum momento na sua vida, embora seja um intelectual, já se encontrou em
alguma situação onde se tornou alvo de preconceito? Como foi?
R.B.: Sim. Com a minha idade, isso foi
possível. Porém, a visão de meus pais para a situação, no século passado, era
bem diferente. Nós tínhamos que resistir, para superar os desafios. Até aqui,
estou me referindo aos tipos de bullying que havia sofrido na infância e
juventude. Do ponto de vista profissional, cheguei a ser “barrado” numa equipe,
pois eu havia feito o curso de Letras. Porém, o mais incrível que vivi naquela
circunstância foi quando me “adotaram” em outra equipe e a líder disse: “Que
bom que vamos ter um professor em nossa equipe! Aquele que tem a capacidade de
ensinar, aprende mais rápido o que teremos que fazer e pode nos ajudar com os
detalhes!” Você não faz ideia de como aquele buraco havia se aberto embaixo
de meus pés, momentos antes, se fechou para nunca mais se romper.
C.V.:
O que a "Nuvem Pretinha" tem de mais valioso para nos deixar
como lição de vida?
R.B.: Esperança por um mundo melhor e mais
tranquilo, do ponto de vista do relacionamento entre as pessoas, partindo do
melhor exemplo que os adultos possam transmitir às crianças.
C.V.:
Quais são as suas redes sociais?
R.B.: Instagran: @criacaodoslivros
Foto:
Arquivo pessoal de Rubem Baptista