A
Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do
Estado de São Paulo, divulga a programação 2022 e examina questões relacionadas
à ideia de uma "identidade brasileira" atualizando o debate em um ano
marcado por efemérides. A violenta história colonial do Brasil e a recepção e
"deglutição" de linguagens e procedimentos originários da arte
europeia funcionam como norte para uma programação que dá novo frescor aos
debates oriundos da Semana de 22 e do bicentenário da Independência. As
inaugurações acontecem a partir de março de 2022.
Alguns
destaques são: a grande mostra panorâmica de Adriana Varejão (26.mar); os
trabalhos decoloniais de Jonathas de Andrade (02.abr); obra inédita
site-specific de Dalton Paula (27. ago) para o Projeto
Octógono, a primeira panorâmica na Pina da artista visual e poeta Lenora
de Barros (08.out) e as performances, vídeos, fotografias e
instalações que representarão a vida, arte e a religião de Ayrson
Heráclito (01.out). No segundo semestre, em parceria com a instituição
norte americana Terra Foundation for American Art, o museu
apresentará uma importante reflexão inspirada no processo de urbanidade e
modernidade que tomou conta do Estados Unidos entre 1893 e 1976 e será uma boa
oportunidade para um contraponto às celebrações do centenário do marco da arte
moderna no Brasil, acrescentando novas camadas e perspectivas para esse debate.
"O
ano de 2022 marca o centenário da Semana de Arte Moderna, bem como o
bicentenário da independência brasileira. A Pinacoteca se propõe a abordar
ambas as efemérides a partir de uma perspectiva crítica, organizando uma série
de exposições que olham para esses eventos como partes de processos mais
alargados e continentais", conclui Jochen Volz, diretor-geral da Pinacoteca
de São Paulo.
Edifício
da Pinacoteca Luz
Os
cerca de 60 trabalhos de diferentes fases e períodos de Adriana Varejão ocuparão
7 salas da Pinacoteca e também o Octógono, espaço central do museu, onde
estarão as obras recentes da série Ruínas. A
inauguração acontece em 26 de março.
A
mostra panorâmica pretende percorrer toda a trajetória de Varejão, iniciada em
meados dos anos 80, para que todos possam tomar conhecimento da potência de uma
das artistas brasileiras de maior repercussão internacional. A organização
expositiva ressaltará como a sua coletânea tem se estruturado, ao longo das
últimas três décadas, a partir de uma reflexão sobre a história colonial do
Brasil, mas aponta também para uma reflexão continuada sobre a própria pintura,
sua materialidade e sua expansão para além do plano bidimensional.
Em
continuação ao tradicional Projeto Octógono Arte Contemporânea que
comissiona obras site especific para o espaço desde 2003, Dalton Paula apresentará
uma obra inédita no segundo semestre de 2022. A inspiração será a história
brasileira, as raízes da violência racial e a migração forçada dos africanos
durante o período da escravidão, temáticas já elucidadas em seu processo
criativo.
Ainda
na Pinacoteca Luz, após exitosa parceria em 2016, a instituição Terra
Foundation for American Art se une novamente ao museu para a
apresentação da mostra Pelas ruas: vida moderna e diversidade na
arte dos Estados Unidos (27.ago). Tendo a diversidade
como fio condutor, a mostra englobará cerca de 100 obras que articulam questões
sociais, de classe e econômicas presentes na vida urbana nos Estados Unidos
entre 1893 e 1976. Dentre os artistas, estarão trabalhos de Geórgia 0’Keefe,
Edward Hopper e Andy Warhol.
O
museu também pretende ampliar o olhar dos visitantes sobre o Barroco
brasileiro, explorando em uma exposição o legado da pintura no período
colonial com obras de diversos estados do país, como Pernambuco, Bahia, Minas
Gerais, São Paulo, entre outros. As temáticas presentes nas pinturas irão
dialogar com a produção da artista Adriana Varejão, que estará exposta no mesmo
período.
Encerrando
a programação na Pinacoteca Luz, a panorâmica sobre a poeta e artista
visual Lenora de Barros (São Paulo, 1953). Múltipla em suas
produções realizadas em diferentes mídias como vídeo, performance, fotografia e
instalação, a exposição irá destacar as questões de gênero trabalhadas em suas
concepções nos diferentes momentos da sua carreira.
Audiovisual
Outra
novidade da programação 2022 é que a Pina agora terá uma galeria especial
dedicada à exibição de vídeos. A estreia fica por conta de Vostok (2013), de Leticia
Ramos, adquirido pelo programa de Patronos da Arte Contemporânea da
Pinacoteca de São Paulo, em 2018.
Edifício
da Pinacoteca Estação
Em
seu tradicional programa de exposições panorâmicas que revisitam a carreira de
artistas brasileiros, a Pinacoteca destaca ainda as mostras sobre as produções
de Jonathas de Andrade e de Ayrson Heráclito.
Jonathas de Andrade é um artista múltiplo com trabalhos em
fotografia, filme, instalação, em que permeiam o imaginário da região nordeste,
onde nasceu e atualmente vive. As práticas decoloniais e as críticas sociais e
políticas são características de suas obras que poderão ser vistas a partir de
02 de abril.
Já
no segundo semestre, a relação entre arte e elementos sagrados será evidente
para quem visitar a primeira mostra panorâmica institucional do artista Ayrson
Heráclito em São Paulo. Praticante do candomblé, desenvolve, desde a
década de 1980, uma pesquisa sobre elementos da cultura yorubá, como a
mitologia dos orixás. Além disso, suas obras abordam o racismo e a violência
praticada contra a população negra. O processo criativo resulta em um território
híbrido a partir das práticas do candomblé e a crítica social, com narrativas
fincadas em simbologias e rituais. O conjunto artístico que ocupa o museu, a
partir de outubro de 2022, se debruça sobre quatro décadas de trabalhos de
Heráclito.
Ainda
no mesmo edifício, as exposições Coleções na coleção e Revistas:
um projeto moderno. A primeira mostra parte da obra Introdução
à História da Arte Brasileira 1960-1990 (2015), de Bruno Faria,
pertencente ao acervo da Pinacoteca, uma instalação composta de 168 discos de
vinil, cujas capas foram desenhadas por artistas visuais como Hélio Oiticica,
Regina Vater, Guto Lacaz, Alex Flemming, entre outros. A partir dessa ideia de
uma coleção reunida por um artista, a exposição irá explorar outros trabalhos
do acervo do museu que partam desse mesmo princípio.
Já Revistas: um projeto moderno nasce de
um conjunto raro de revistas e publicações do acervo bibliográfico da coleção
Ivani e Jorge Yunes, como as publicações Klaxon, Estética, Verde, entre
outras. O objetivo é detalhar o modernismo a partir dos ensaios, manifestos,
ilustrações e projetos gráficos das publicações. Além de deslocar a experiência
do olhar para outros suportes, as revistas anunciavam com vigor o tom político
e visionário que alcança até o presente.
Foto:
Divulgação