Conviver com o vírus HIV num país onde o preconceito é uma de suas marcas mais fortes, só mesmo um guerreiro. E essa expressão “guerreiro” traduz muito bem a característica-marca do ator Cazu Barroz, 36 anos. Na profissão há 18, já brilhou no cinema como dublê do Murilo Benício, no filme “Orfeu”, de Cacá Diegues e, em “Chiquinha Gonzaga”, fez uma participação como guia do Flávio Migliaccio, que era o “Vagalume”, além de peças teatrais. Soropositivo há 17 anos, frustra o olhar daqueles que imaginam uma pessoa aidética com aparência magra e desfalecente, pela estrutura saudável que possui. Devido à doença, tornou-se escritor há 8 anos. Em 1998, lançou o livro “Rock in positivo – um adolescente que decidiu viver com AIDS”, que revela como contraiu o HIV no Rock in Rio II ao compartilhar a mesma seringa com a namorada e mais algumas pessoas, no uso de drogas. Mais amadurecido no assunto mediante as experiências que adquiriu, Cazu está preparando sua segunda obra com o título “Militância da AIDS”. Super gente fina e de bem com a vida, Cazu Barroz traceja sua história para o “Cultura Viva”.
CULTURA VIVA: Cazu, por que tendeu para a carreira de ator?
CAZU BARROZ: Na verdade, eu era administrador de empresas, mas a empresa por discriminação, me afastou e eu tive que buscar alternativas. Na época, eu fazia um show onde era o sósia de Cazuza, por isso meu nome artístico é “Cazu” e fui convidado para fazer uma peça de teatro onde abordava as músicas de Cazuza, eu o interpretava. Daí por diante, resolvi, então, seguir a carreira de ator.
CULTURA VIVA: Qual o porquê da discriminação?
C.B.: Foi quando a empresa descobriu que eu estava soropositivo. Então, fui afastado, apesar de estar há três anos trabalhando na empresa, por isso fiquei sem opção de trabalho. Eu queria fazer alguma coisa, fui convidado a fazer uma peça de teatro e aí, então, resolvi seguir a carreira.
CULTURA VIVA: Foi preconceito.
C.B.: Muito preconceito.
CULTURA VIVA: Você acha que o preconceito ainda é o maior problema da AIDS?
C.B.: Atualmente, o maior preconceito que a pessoa com AIDS vive é dentro das empresas e das escolas, embora já tenha diminuído bastante o preconceito social e sexual.
CULTURA VIVA: O preconceito diminuiu ou ele apenas mudou de formas de atuação?
C.B.: Eu acho muito válido essas campanhas que já há 20 anos o Governo brasileiro faz. Contribuiu bastante para diminuir o preconceito em alguns locais e em algumas situações. Com as campanhas diminuíram o preconceito sexual, o preconceito familiar, e até mesmo o convívio.
CULTURA VIVA: Qual o seu maior sonho?
C.B.: Meu maior sonho é que um dia se descubra um medicamento mais eficaz para combater a AIDS ou até mesmo a cura, mas eu sei que está um pouco difícil e complicado. Mas é um sonho, não posso perder a fé nunca.
CULTURA VIVA: O que te levou a atuar como escritor? Em que momento da sua vida isso aconteceu?
C.B.: Eu conheci o dono da Editora JW, da Barra, e, conversando com ele, falei que escrevia os meus desabafos toda vez que sofria uma discriminação. Ele pediu para ver esses textos e perguntou se eu não gostaria de publicar um livro com aquilo. Ele falou que ajudaria muita gente, e realmente ajudou: eu recebo até hoje muitos e-mails e cartas.
CULTURA VIVA: Então, foi a doença que te ajudou a virar um escritor.
C.B.: Sim. Basicamente, o livro “Rock in Positivo – Um adolescente que decidiu viver com AIDS” conta minha história desde o momento que eu me contaminei até 1998 (quando foi lançado o livro). Esse garoto de que falo no livro sou eu. É uma autobiografia.
CULTURA VIVA: Essa coisa de tender para um assunto – o quesito “AIDS” – é sua linha específica de trabalho ou você pretende escrever livros sobre outros assuntos?
C.B.: Eu pretendo escrever livros sobre outros assuntos. Porém, recebi uma solicitação da Editora Ática para dar uma continuidade desse livro. Querem que eu relate como foi de 1998 até agora, e até mesmo com esse “boom” da campanha, o que mudou. A campanha “A vida é mais forte que a AIDS”, do Governo Federal, iniciou no dia 22 de novembro e foi até o dia 5 de dezembro. Ela tem como objetivo mostrar que as pessoas com AIDS são pessoas produtivas, normais
CULTURA VIVA: Você falou que “vocês não gostaram do que a novela apresentou”. Mas, você participa de alguma ONG ou um grupo de pessoas que têm o mesmo problema?
C.B.: Sim, eu sou coordenador nacional do projeto Ouça Aprenda Viva, que é da Federação de Bandeirantes do Brasil (site
CULTURA VIVA: Como é viver como soropositivo, no Brasil? Que experiência você traz?
C.B.: Viver com AIDS no Brasil se você for ver a situação de outros países, é supertranqüilo: você tem acesso a medicamento, aos exames, a sociedade brasileira está menos preconceituosa, ... Não vou dizer que é uma maravilha porque viver com AIDS nunca foi uma maravilha, mas quando você vai para um país, como a África, por exemplo, como eu já fui outras vezes, você vê o quanto as pessoas não tem acesso a nada, o quanto o Governo é isento nessa questão da AIDS. Então, viver com AIDS no Brasil é bem melhor do que muitos outros países.
CULTURA VIVA: Que apelo você faz às lideranças políticas e, conseqüentemente, à sociedade quanto à conscientização da AIDS?
C.B.: Eu estou vendo muito o Governo investir em tratamento, que é caro: um paciente, hoje no Brasil, básico, gasta por mês R$ 5.600; uma camisinha custa, para o Governo, R$ 0,13 ou R$ 0,08, mas se você for ao Posto de Saúde, hoje, buscar o preservativo, está em falta. O meu apelo é que os gestores municipais, estaduais e, até mesmo federa invistam mais na prevenção, não adianta remediar até mesmo porque a AIDS não tem cura.
Foto: Divulgação
***O ator e escritor Cazu Barroz na Campanha do Governo Federal em 2006
Cazu Barroz: exemplo de luta e esperança de quem já foi afetado pelo vírus da AIDS
08 janeiro 2009 Postado por JORNAL CULTURA VIVA por Edson Soares às 00:17 | Marcadores: Gente
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16 comentários:
ESTOU CONHECENDO CAZU BARROS AGORA,O DIFICIL Ñ É CONVIVER COM HIV O DIFICIL É A SOLIDÃO Ñ TER ALGUEM QUE TE ACEITE...TBM ESTOU CONHECENDO ESTE JORNAL AGORA,ACHEI MUITO INTERESSANTE...ABRAÇOS
Parabens pelo trabalho e o livro Cazu Barros.
obrigado silva e anonimo pelos comentarios. Fico feliz em saber que as pessoas entendem meus recados e procuram viver a vida ao maximo. Bjs.
Cazu, continue lutando pela vida, seja exemplo não só p sociedade, mas também para aqueles que se escondem atrás de sua própria doença. Parabéns pelo seu trabalho, bj
conheci Cazu Barros em um cartaz aki em belem do para,sou soro+ parabens pelo seu trab,fikei mais animado, hoje eu danço,trab,... sou mais feliz
wilson
Exemplo esse cara! Visitem meu blog e ajudem a divulgá-lo. http://hiveavida.blogspot.com/
oi kadu parabéns pela sua coragem, admiro muito essa sua atitude, pois tenho 26 anos e descobri agora recente que sou portador do hiv, pra no momento estar sendo muito dificil , mas é através do seu exemplo que vejo um começo de uma nova vida. um abraço... jorge
é bom saber que existe pessoas que realmente se importam com você!!!
Oi Cazu,parabens pela coragem,pois agente q somos soropositivo temos q vencer o preconceito,apesar de eu ter a doenca 11 anos sempre fui pra cima, me amo,sou linda e tenho muito q viver,bj....carla 32 anos
Comecei a ler o livro neste ano. Gostei muito do livro, o Cazu é um exemplo para todos os brasileiros que vivem com AIDS para não desistirem de sim mesmos, e fazerem os outros respeitarem os soropositivos. Aprendi mt coisa com esse livro. Principalmente respeitar os direitos dos outros e lutar pelos nossos. =D valew Cazu, tenho certeza que vc ajudou mts pessoas.
Elaine
Caro fã,
Tenho muito respeito com seu carinho, pq sei q é verdadeiro. Carinho de fã é igual de cao. Verdadeiro e fiel, pois vem do coração. Vlw por ler meu livro. Abçs
DESCOBRI HA UM ANO SER PORTADOR DO HIV....E O CAZU BARROZ É UM EXEMPLO QUE A VIDA SEGUE ADIANTE.SOU SEU FÃ DE VERDADE GRANDE ABRAÇO QUERIDO E MUITO SUCESSO A VOCÊ.francisco
Caro Francisco,
Vlw pelo carinho e admiração. A vida é mais forte que a aids e temos que continuar com ela da melhor forma. Lembre-se viver com aids é possivel. siga seus projetos de vida pois ela so comecou agora. viva a vida. Abçs
parabéns, eu também descobri que estou recentemente. esta muito dificil.
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