LUIGI PIRANDELLO: UM TEATRO PARA MARTA ABBA
Escrito pela professora e pesquisadora Martha Ribeiro, "Luigi Pirandello: Um Teatro Para Marta Abba", título com lançamento marcado para o próximo dia 10 de março, 19h30, na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon, lança luz não só sobre a atriz italiana praticamente desconhecida do público brasileiro, mas também sobre sua influência na produção artística do dramaturgo italiano, nos dez anos que antecedem sua morte. Entre a talentosa e bela jovem de cabelos ruivos e o autor conhecido, mais velho e marcado por uma vida cheia de dissabores, estabeleceu-se uma relação apaixonada, obsessiva e interdependente. Ela era a aprendiz, a filha, a criatura. Ele o mestre, o pai e o criador. Além da relação emocional, erguida tendo por base o amor mútuo pelo teatro, o livro desvenda a produção tardia do Nobel italiano, tão pouco conhecida aqui, quanto sua principal intérprete e musa inspiradora.
MARTA E PIRANDELLO
O primeiro encontro de Marta Abba (1900-1988) com Pirandello (1867-1936) se mistura com o nascimento do próprio Teatro de Arte e também com a primeira representação da peça "Nostra Dea" de Massimo Bontempelli, em 16 de janeiro de 1925. Procurava-se uma atriz para o papel principal. Pirandello pensou em Abba para um teste, incentivado por um entusiasmado artigo de Marco Praga no jornal "Illustrazione Italiana" em 13 de abril de 1924. O crítico se mostrava animadíssimo com a intensidade e o talento de uma jovem atriz da companhia de Virgilio Talli, que exibia grande estilo pessoal na criação do personagem Nina, da peça "A gaivota", de Anton Chekhov. O entusiasmo de Pirandello, ao vê-la em cena, não foi menor.A estréia da atriz se deu em 22 de abril de 1925 com o sucesso fulgurante de uma interpretação ousada e marcante.
Na primavera de 1925, Marta Abba é iniciada no mundo ficcional pirandelliano executando o papel da Enteada em "Seis personagens à procura do autor". Em apenas um ano, Abba se transformou na intérprete absoluta das heroínas pirandellianas. "Diana e la Tuda" foi o primeiro fruto da relação artística Os personagens pensados para Marta Abba são mulheres ruivas, belas, jovens, sensuais e cheias de vida, mas também intocáveis, demonstrando pouco ou nenhum interesse pelo sexo. Eleita a intérprete ideal de suas peças (nos três anos de vida da companhia Teatro de Arte foram encenados cinqüenta espetáculos teatrais, sendo trinta e seis protagonizados pela atriz), e inspiração de sua última dramaturgia, Marta Abba deu a Pirandello um novo perfil de mulher.
Com o fechamento definitivo do Teatro de Arte (rebatizado em seu último ano de vida como Companhia do Teatro Argentina) em agosto de 1928, Pirandello decide deixar a Itália, escolhendo como destino a cidade de Berlim. Será o início do que ele mesmo denominou de "exílio voluntário" (não obstante as constantes viagens a Londres, Paris e Itália). Marta, sempre acompanhada da irmã Cele, viaja com Pirandello para a capital alemã, e por cinco meses, de 09 de outubro de 1928 a 13 de março de 1929, o dramaturgo viveu ao lado da atriz.
Em 1929,ela decide se lançar, na Itália, como diretora da Companhia Drammatica Marta Abba. No epistolário da atriz estão documentadas duras acusações contra o sistema de truste que governava o mundo teatral italiano, que excluía, sistematicamente, as pequenas companhias independentes, com repertório próprio, dos grandes teatros
Em 17 de setembro de 1936, Marta Abba viaja para Nova York, alcançando o tão merecido reconhecimento. A comédia "Tovaritch" de Jacques Deval estréia na Broadway em 15 de outubro de 1936, com um sucesso que ela jamais conseguiu em sua própria pátria. O público e a crítica aplaudem o grande valor e a modernidade do estilo de atuar da atriz, e ela recebe o terceiro prêmio da American Dramatic League como melhor intérprete. Foi a única mulher entre os agraciados.
Pouco se sabe sobre a vida amorosa de Abba. Foi noiva quando jovem, mas logo desfez o compromisso.Casou-se somente em 1938, menos de dois anos após a morte de Pirandello, com um rico americano, o senhor Severance A. Millikin. Por conta do enlace,Marta abandonou a cena. Sua união, que não resultou em filhos, termina com um divórcio em 1952. Seu retorno aos palcos se deu muitos anos depois em dois únicos momentos de maior expressividade: em Come tu mi vuoi (1953) e em La nuova colonia (1958), mas sem uma continuidade real.
Em 1983, antes de morrer, a atriz se apresenta pela Compagnia di Prosa della Radio della Svizzera Italiana, interpretando Donata Genzi, o maior tributo do Maestro à sua vida de atriz. Sob direção de Grytzko Mascioni, com o título Una voce che viene da lontano, Marta registra pela última vez a sua voz.
Marta Abba será muitas vezes nomeada por Pirandello como sua segunda filha, uma filha espiritual e não carnal. E foi contemplada em seu testamento.
SOBRE MARTHA RIBEIRO
Nascida em Niterói, Rio de Janeiro, Martha Ribeiro graduou-se em Direção Teatral, em 1999, na UniRio. É doutora em Teoria e História Literária pela Unicamp-IEL, passagem pela Universitá de Torino-DAMS (2008). Fez pós doutorado em Teatro pela Unicamp-IAR,com o projeto "Pirandello em Cena". Atualmente é professora do departamento de Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF).Como atriz, iniciou crreira no Tablado e cursou a Escola de Teatro Martins Pena. Em 2009, assinou a tradução e a direção de "Quando se é Alguém", texto inédito no Brasil de Luigi Pirandello, que cumpriu temporada no Teatro Leblon.
Páginas 366 / Valor R$52,00.
Martha Ribeiro lança livro no Leblon
01 março 2010 Postado por JORNAL CULTURA VIVA por Edson Soares às 21:18 | Marcadores: Eventos, Livros
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