Convivendo a cada dia com a realidade dos conflitos na área teatral, o ator e diretor André Luiz Rocha, fala abertamente de suas experiências no setor. Num bate-papo interessante, o artista expõe o que considera como certo ou errado, uma vez que luta pelo o que considera correto, chama a atenção dos políticos e destaca o valor de uma amizade verdadeira no meio artístico. Vale a pena conferir esta entrevista exclusiva!
CULTURA VIVA: André, que balanço você faz da Cia. de Atores Os Notáveis já passados oito meses nesse ano de 2010? Muita coisa mudou nesse período?
ANDRÉ LUIZ ROCHA: Bom, a Cia. quase acabou por causa de um grande problema do ser humano, o ego! As pessoas não se preocupam em ser operários da arte, elas querem fazer da arte um operário. Uma das citações do grande mestre Constantin Stanislavski é “Ame a arte em você e não você na arte”, “Tem gente que utiliza o teatro em beneficio próprio, que tira proveito da arte criadora, e se prevalece de intrigas, e das vaidades. Esses são os piores inimigos do teatro”. Infelizmente ou felizmente, muitas pessoas boas passaram e seguiram seus caminhos e outros tiraram proveito da boa vontade e conhecimento. Mas, como costumo dizer, quem não tem competência não se estabelece. Como balanço geral, estamos mais fortes do que nunca e o que existe de verdade nunca deixará de existir.
C.V.: Quais as pessoas que você citaria que influenciaram muito o presente momento da Cia.?
A.L.R: Sou grato a muitas pessoas e a Cia é um reflexo do meu conhecimento e amadurecimento profissional. Dentre essas pessoas posso citar: Kado Pinheiro, Antonio Souto, Ernesto Picollo, André Bahia, Dona Sonia, Simone Simão, Sr. Wilson, Camila Amado, Renato Penco, Thaissa Vasconcellos, Victor Hugo Santiago, Renato Martins, José Pontes, Priscilla Paixão, Edson Soares, enfim, todas as pessoas que passaram e colaboraram de forma positiva ou negativa. Agradeço muito aqueles que confiei e que descobri mais tarde as verdadeiras intenções, pois até esses que não valem nada nos fazem aprender. Destacar a educação que minha mãe me deu, a todo esforço que ela fez para que eu fosse sempre correto, me mostrando o certo e o errado. Hoje em dia devo muito a minha esposa Priscila Viana. Dizem que por trás de todo grande homem existe uma grande mulher, eu digo que todo grande ser humano atrai outro grande ser humano e ela não está por trás e sim pela frente de tudo, pois é uma pessoa, um ser humano incrivel! E atualmente destacar os membros da Cia. de Atores Os Notáveis: Dayane Simões, Jairo Santos, Elaine Rusehnhack, Ophelia Camassutti, Jessica Lores, Joceani Stein, Cassio Vitoriano, Bruno Sodré, Wellington Bossoni, Larissa Vidal, Alessandro Valéryo, Jairo Santos, Jailson Santos, Luiz Carlos Cavalcanti, Ross Miller e Cassia Klinger. Essas pessoas são responsáveis pelo momento que estamos vivendo hoje.
C.V.: Em sua opinião, o que precisa para uma Cia. de teatro dar tão certo como Os Notáveis, num país onde as incertezas são muitas e a área cultural, enfraquecida?
A.L.R: Com certeza a área cultural é muito fraca, vivemos em um pais onde a cultura é pouco valorizada, as pessoas gastam dinheiro com bebidas, mas não pagam um ingresso de teatro, as leis de incentivo da cultura beneficiam alguns poucos grupos. Mas vamos lá: não existe uma fórmula para dar certo, posso destacar alguns pontos importantes para o sucesso de uma Cia. Primeiro, ter um grupo forte de pessoas que aposte em uma idéia e que tenham objetivos semelhantes. Não adianta ter um grupo onde cada um pensa de uma forma., onde um quer aparecer mais do que os outros, onde o ego de uns fale mais alto que o objetivo do grupo, todos devem caminhar na mesma direção, vestir a camisa. Os atores hoje em dia não sabem o que querem, fazem teste para tudo quanto é lugar e no final acabam não fazendo nada. As pessoas deveriam ter palavra e compromisso. Acho que isso é o inicio de tudo.
C.V.: Que apelo você faria aos parlamentares quanto à área cultural nessa fase de campanhas?
A.L.R: Os políticos falam em educação, saúde, segurança, meio ambiente e, se sobrar tempo, falam de cultura. Não consigo ver a melhoria de uma sociedade sem uma melhora nos aspectos culturais. Como podemos falar em educação e não falar em cultura? Acho que um povo sem cultura precisa de uma política de segurança, uma politica de saúde, de educação, de meio ambiente mais fortes, pois falta a base educação e cultura para o entendimento dos problemas que estão ao nosso redor. Muitos falam de responsabilidade social, mas equecem de exercer essa responsabilidade. Por favor, olhem mais para a cultura não como uma fonte de renda e sim como uma necessidade para a melhoria de um país e de muitas gerações de pessoas.
C.V.: Quais as novidades que vêm por aí em sua cia. teatral? Pretende ousar em algo? Poderia nos antecipar?
A.L.R: Sim. Temos planos ousados. Quem me conhece sabe que não curto muito montar coisas já existentes. Por isso, não consigo entender como pessoas podem copiar o trabalho de outras. Não gosto de montar trabalhos já conhecidos, mas venho montando, pois acaba sendo uma necessidade de mercado. O público não está muito aberto para coisas novas. Posso citar como exemplo: nas peças infantís a preferência continua sendo pelos clássicos, e nas peças adultas, a procura por atores que estão na mídia. Temos vários trabalhos no mercado onde não têm atores conhecidos e nem textos clássicos, mas são muito bons e valem a pena serem vistos. Temos vários projetos para 2011: um adulto e um infantil em especial, mas não posso contar agora. Prometo que o “Cultura Viva” será um dos primeiros a saber!
C.V.: André, e a TV? Tem planos de voltar à telinha?
A.L.R: Tinha largado tudo por ter me decepcionado com algumas pessoas. Voltei por pedido do Sr. Wilson, administrador de teatro, por muito incentivo da minha esposa Priscila e de um grande amigo Victor Hugo Santiago. Gravei uma participação em Malhação ID no final desta temporada de 2010 e estou voltando aos poucos e graças a Deus! Os convites sempre surgem. Tenho alguns projetos para TV e Cinema, que não posso falar agora, prefiro esperar fechar primeiro.
C.V.: A sua cia. promove apenas espetáculos infantis ou tem projetos juvenis e adultos?
A.L.R: Pois é, como já havia citado, temos uma montagem adulta para ser feita em 2011. Nosso forte tem sido as peças infantís por uma questão simples: o valor mais barato do teatro; o público infantil vai assistir a peça e não o ator famoso. O teatro adulto hoje em dia está cada vez mais dificíl de ser visto, mas vamos voltar com uma montagem adulta por ano e, dependendo da resposta, faremos mais.
C.V.: O que mais te incomoda na área cultural? A falta de incentivos seria um dado fundamental?
A.L.R: A falta de incentivo, de reconhecimento, de caráter de algumas pessoas, de honestidade e várias outras coisas. O meio artístico é muito desvalorizado e fico bobo como as pessoas que trabalham na área fazem de tudo para dificultar, acho que deveríamos nos unir e criar um mercado de trabalho cada vez mais forte, tem mercado para todos. Deveria ter uma lei que colocasse um rodízio ou que pudesse contemplar mais grupos e não somente os mesmos. Fazer cultura e arte é uma briga e uma vitória a cada dia.
C.V.: Deseja comentar mais algum assunto? Fique a vontade.
A.L.R: Gostaria de agradecer ao “Cultura Viva” pelo espaço cultural que oferece aos diversos profissionais dos diverssos meios culturais. Faltam iniciativas como a de vocês para promoverem a arte e a cultura. Um grande abraço a todos os meus amigos, AMIGOS DE VERDADE!
Foto1: André Luiz Rocha atuando em um dos espetáculos do “Picadeiro da Alegria”
Foto2: Elenco do Musical “Chapeuzinho Vermelho” da Cia. de Atores Os Notáveis, dirigido por André, em cartaz no Teatro América (Tijuca-RJ)
Fotos: Divulgação
1 comentários:
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