Uma das maiores
dificuldades a ser enfrentada pelo ser humano é perdoar. Seja lá qual for o
motivo, a situação ou a ocasião, o mais indicado pelos especialistas é perdoar
sempre que necessário: seus benefícios prolongam a vida. E, sobre isso, a
especialista Heloísa Capelas, de São Paulo, autora do livro "Perdão, a revolução que falta", conversou com o
CULTURA VIVA sobre o assunto. Acompanhe!
CULTURA VIVA: Você é autora do livro "Perdão, a revolução que
falta". Em linhas gerais, que poder revolucionário é esse que tem o perdão?
HELOÍSA CAPELAS: Hoje já existem estudos sobre
o perdão. Eles ainda não vieram como estatísticas, mas já existem muitos
estudiosos no assunto. Assim como estão estudando a felicidade estão
conseguindo mapear que as pessoas mais felizes são aquelas que deixam o passado
no passado, que não tem o coração magoado e que reconhecem que tudo o que lhes
acontece é para o seu próprio bem, mesmo que, aparentemente, não tenha sido.
Estudiosos de Harvard estão estudando e concluindo que essas pessoas são
aquelas que estão apresentando um maior grau de felicidade. Na verdade, o que está
sendo estudado não é o perdão, mas o estado de felicidade. E ele está cem por
cento atrelado à capacidade de perdão.
C.V.: Como posso ter certeza de que perdoei de fato
alguém?
H.C.: Quando nós perdoamos, sentimos uma leveza no nosso
coração. E uma das dicas de como eu sei que perdoei é quando eu sou capaz de
contar a mesma história sem chorar, sem tremer, sem que o meu coração se
inflame, sem que passe pela minha cabeça pensamentos de que a pessoa tem que
pagar por aquilo, pensamentos de desejo que a pessoa se dê mal com determinada
situação. Quando você contar a história no papel de vítima ou de vingador é
porque ainda existe muita raiva no seu coração. Como você sabe? Bem, o coração
é leve e você conta uma história como uma história que você leu no livro: uma
história triste, feliz, de sucesso, de conquista, de ultrapassar limites, de
transgredir, ou seja, contar a história como você leu num livro ou assistiu num
filme. Essa é a dica: se você for capaz de contar sua história como uma
história é porque você perdoou.
C.V.: Em síntese, o que significa perdoar?
H.C.: Perdoar é o ato de livra-se do mal causado a você.
Quando você perdoa, e é um ato de inteligência, corta a ligação com aquele que
quis lhe fazer um mal ou, inconscientemente, te magoou e, ao perdoar, você tem
seu o coração livre de qualquer mágoa, você se liberta e tem a possibilidade de
escolher o que você vai sentir. Sem perdão, quem decide o que você vai sentir é
aquele que lhe magoou. Ele lhe magoou, você aceita essa mágoa e fica com ela; a
carrega anos e anos podendo acarretar doenças, depressão e até morte. Com o
perdão, você não aceita essa mágoa, você concorda em viver livre e ter suas
próprias escolhas; você decide se vai se magoar ou não. Isso é escolha. No
entanto, agradecer significa reconhecer o bem que adveio de uma situação ou de
uma pessoa; é quando você recebe algo e isso lhe impulsionou a ir para frente e
motivado em fazer algo gostoso para você mesmo. É fundamental agradecer tudo o
que te envolve, seja o bem, seja o mal. A gratidão é o passo que antecede o
amor. É fundamental agradecer Nesse
sentido, a gratidão e o perdão caminham juntos. Se você consegue perdoar, agradeça
pela sua inteligência emocional em perdoar. Tudo o que nos acontece é sagrado.
Embora a gratidão e o perdão não estejam atrelados um ao outro, você pode
agradecer todo bem que você viveu, independente do perdão. Se você juntar esses
dois sentimentos em seu coração sua vida vai ficar muito melhor. A minha sugestão
é: perdoa e agradeça por tudo que lhe acontecer.
C.V.: Quais são os benefícios do perdão?
H.C.: Existem estudos científicos que mostram os
benefícios do perdão. As pessoas ficam muito mais leves e livres, mais prontas
para saúde. Quando nós vivemos com mágoa ou pensamentos de vingança, de que o
outro tem que pagar pelo mal que nos fez nós ficamos ligados a esse mal. Tudo o
que rejeita, gruda. Cuidado ao rejeitar aqueles que lhe fazem mal porque o mal
vai grudar no seu coração. E na hora que isso grudar dentro de você fica muito
mais propenso a doenças: raiva, ressentimentos, vinganças, inconformismo, tudo
isso gera toxinas energéticas no seu corpo, daí os germes das doenças ficam num
campo muito fértil para se instalar. Já está provado que as pessoas que oram
mais, que perdoam mais, que meditam mais estão livres dos germes das doenças,
tem maior qualidade de vida e vivem, no mínimo, dez anos a mais.
C.V.: Que tipo de limpeza o perdão faz no interior
de uma pessoa?
H.C.:Quem lhe fez mal é este que precisa de perdão. Na
verdade, não é ele, mas você que precisa de perdão porque o perdão tira do seu
coração mágoa, ressentimento, impotência, sensação de abandono. O perdão limpa
toda sua energia emocional. O medo de ser magoado é cem por cento curado com o
perdão. Então, nós precisamos perdoar quem nos faz mal porque é ele que fica
com a energia do mal, foi ele quem fez. Por que nós ficamos magoados e feridos
e começamos a carregar essa energia do mal conosco? O perdão nos isola dessa
pessoa e corta a ligação com o algoz. Eu com o perdão fico livre de qualquer
energia negativa e fico tranquilo para poder viver aquilo que eu escolho viver.
É importante perdoar quem nos fez mal? Claro! Assim, deixamos de carregar o
mal; este fica com quem o fez.
C.V.: Por que perdoar é tão difícil se basta apenas a pessoa
se dispor a tanto?
H.C.: É porque nós temos muito medo de sermos magoados e
sermos rejeitados, traídos, abandonados e, como nós já vivemos essa dor, temos
muito medo de vivê-la novamente. Então, acreditamos, em nosso inconsciente, que
se não perdoarmos aquela pessoa não a autorizamos a fazer novamente. Ainda
temos uma fantasia completamente errada de que o ódio é muito maior que o amor
e a guerra é muito mais eficaz que a paz e isso não é verdade. Claro que eu nós
vamos precisar ainda de muito trabalho e muito perdão para mudarmos esse
paradigma. É mais importante a raiva que nos dá proteção, e nós, por medo, não
perdoaremos.
C.V.: O que é necessário fazer para ser alguém que perdoa
sempre que preciso?
H.C.: Para você desenvolver atitude do perdão é
fundamental que saia do papel da vitima. É importante que use a sua
inteligência a seu favor e consiga compreender que nada nem ninguém está contra
você, muito pelo contrário: quem atrapalha a sua vida é você mesmo. Não são as
coisas que nos acontecem que nos faz mal – já contaram e já falaram isso – mas
sim como lidamos com essas coisas. Compreender
que você é cem por cento responsável pelo seu comportamento e bem estar é uma atitude
extremamente positiva. Autoresponsabilidade tem a ver com o perdão porque,
primeiro, perdão, é uma questão de inteligência e é uma questão de escolha: eu
uso a minha inteligência emocional para escolher o que é melhor para mim. E, se
é melhor para mim, eu me sinto melhor fisicamente, a minha vida é mais leve, eu
sou capaz de admirar a beleza, eu vejo mais cores na vida, eu ouço mais música,
eu estou aberta a mais pessoas, eu converso mais com as pessoas, isto é, uma
das atitudes para se sentir feliz e colocar o perdão em prática é sair do
isolamento. Quando você se coloca na posição de vítima, muitas vezes se isola
porque tem medo de ser magoado novamente. Ora, a mágoa não está na mão de
ninguém. Pode ser sim que aquela pessoa tem a intenção de feri-lo, mas você
escolhe se vai se ferir ou não. É você que escolhe como vai se comportar.
Portanto, autoconhecimento: saia da sua caverna, vá conviver com as pessoas, se
coloque em risco, abra-se para vida porque a vida é muito melhor de ser vivida
do que nós imaginamos, do que o nosso medo permite e, com o perdão nós temos
mais vontades de correr riscos, nós somos mais positivos, nós comandamos melhor
os nossos pensamentos, nos abrimos mais para as pessoas, portanto, estamos mais
disponíveis, pasmem, para sermos amados. Algumas atitudes úteis: positividade,
autoconhecimento, abertura para o novo, escolha de pensamentos positivos e
decisão de perdão.
Fotos: Divulgação
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