De Minas Gerais a Los Angeles: Conheça Thales Corrêa, cineasta brasileiro
que lança seu primeiro e já premiado longa metragem, "Nos Becos de São
Francisco"
O filme, que aborda o universo
das relações LGBTQ, foi lançado nos Estados Unidos em
setembro ocupando o primeiro lugar entre os mais vendidos da TLA
Video Store (loja online de conteúdo audiovisual) e o quinto
lugar da Amazon. Agora chega ao Brasil pelo NOW
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Diretor, ator e roteirista, Thales Corrêa, de 31
anos, imprimiu seu talento em todas as suas áreas de atuação em
seu primeiro longa metragem "Nos Becos de São Francisco", uma
comédia ousada sobre o universo LGBTQ, disponível no Now, serviço de
Streaming e On Demand da Net. Não poderia ser diferente: lançado em
Setembro nos Estados Unidos, o longa já chega ao Brasil com três premiações
garantidas e concorrendo a outras cinco. Nascido em Minas Gerais,
Thales mudou-se para Los Angeles aos 21 anos e frequentou a
Escola de Cinema da UCLA. Projetos que variam entre filmes,
videoclipes e episódios para a TV integram seu extenso e premiado
currículo sendo inclusive seus dois últimos
curtas-metragens, "Parents" e "Milvio",
exibidos no Festival de Cannes, um dos principais festivais de cinema do mundo.
Com tantas produções de sucesso, Thales diz que o fato se deve a seu
esforço e trabalho duro: "Em todos trabalhos que faço, eu sempre dou o meu
melhor, pois é o que eu amo. Geralmente eu sou sempre o mais dedicado dos
projetos que faço parte, e por isso sou o diretor da maioria deles. Se entro em
algum projeto é porque realmente acredito nele e faço de tudo pra
termina-lo da melhor maneira possível. Tento não levar rejeições para o lado
pessoal, procuro sempre ter um olhar analítico para os desafios, se tem alguma
barreira, estudo uma maneira de contorná-la e alcançar o objetivo, mas nunca
parar".
"Nos Becos de São Francisco"
Lançado primeiro nos Estados Unidos, o longa-metragem sob
roteiro, direção e atuação de Thales Corrêa é um filme que trata de forma
bem-humorada uma dinâmica comum entre a comunidade LGBTQ, de acordo com o
diretor. Em "Nos Becos de São Francisco", Thales vive Leo, um
brasileiro que reúne um grupo de amigos para buscar, nas frenéticas noites de
São Francisco, uma pessoa que ele conheceu em um site de relacionamentos gay. A
produção tem como colorista o renomado Edo Brizio (Kong: Ilha da Caveira, Lego
Batman) e o produtor de música e DJ Same K.
A ideia do filme partiu de uma conversa com Izzy Palazzini (que também
compõe o elenco). Ambos brasileiros, imigrantes e gays, quiseram produzir algo
que mostrasse de certa forma a realidade, com conflitos internos e externos que
os amigos passavam por escolher determinado estilo de vida. "A ideia era
sobre ficar vulnerável e se expor. O filme se trata de aprender a ouvir sua
intuição", conta.
Repleto de sinceridade e com a produção de excelência garantida por
Thales, "Nos Becos de São Francisco" ganhou diversas premiações,
sendo elas: Prêmio da Audiência (Audience Award) da qFlix Philadelphia, Melhor
Filme LGBTQ+, da IFS Los Angeles Film Festival e Melhor Primeiro Filme, da
QCinema - Texas. Além disso, concorreu a 5 diferentes premiações,
sendo elas Melhor Filme do Festival, IFS Los Angeles Film Festival; Seleção
Oficial - San Francisco Latino Film Festival; Seleção Oficial - Outflix -
Tennessee; Seleção Oficial - Blow-up International Film Festival - Chicago e é
semifinalista no jellyFEST - Los Angeles.
De Minas para o mundo
Mineiro, Thales foi criado na cidade de Campo Belo, onde não havia
cinema e o acesso a cultura era limitado. Fascinado pelos filmes em VHS quando
criança, conta que sempre soube que queria estar na área de entretenimento. Aos
16 anos, foi a um cinema em Juiz de Fora, onde assistiu o clássico "O
Segredo de Brokeback Mountain" e se sentiu ainda mais apaixonado pela
arte. Ainda durante a adolescência, morou no Rio de Janeiro e conseguiu alguns
trabalhos como ator, como no filme "Desenrola" e alguns outros
papéis. Além disso, já se divertia escrevendo roteiros.
Chegou a estudar administração na Universidade Federal de Lavras, onde
os indícios de que o atual calouro havia nascido para a arte, começaram a ficar
cada vez mais fortes. "Procurei grupos de teatros na cidade e não
tinha nada", relembra. Logo após, surgiu o desejo de viver uma experiência
no exterior. Com apenas 21 anos, Thales tomou a decisão, com todo o
apoio familiar, de se mudar para Los Angeles e se dedicar ao que realmente ama:
o cinema. "Minha família apoiou acreditando que ter uma educação no
exterior seria algo bom pra mim no Brasil", conta, mas que diferente do
esperado, acabou não voltando mais. Apesar de estar realizando um sonho, Thales
revela que o processo de mudança foi doloroso e complexo: "Ficar sem
família e amigos não é muito fácil, e a cultura dos Estados Unidos não é tão
aconchegante quanto ao nosso país".
Nos primeiros meses de faculdade na UCLA, o mineiro já havia criado um clube de produção de cinema e a partir daí, foi contratado para produzir um documentário para a universidade. Diversas bolsas escolares o levaram ainda mais longe e tudo ia muito bem, quando uma reviravolta fez com que Thales repensasse a estadia. "Depois de dois anos, meu pai faleceu e foi uma das fases mais difíceis. Voltei ao Brasil e comecei a questionar se valia a pena ficar longe da família". Entretanto, o que parecia o fim, teve uma volta por cima e novamente com o apoio dos familiares, Thales voltou e produziu seu primeiro curta-metragem, "Parents" inspirado na canção de Legião Urbana "Pais e Filhos".
Como rótulo de sua carreira, Thales se considera acima de tudo um
cineasta. "Parents" foi seu primeiro trabalho a rodar os
circuitos de festivais de cinema, por fim, sendo vendido ao Canal Brasil.
Já "Milvio" ganhou o prêmio de Melhor Curta no Festival
Internacional de Filmes Infantis de San Diego, e no Festival Brasileiro de
Cinema em Los Angeles (LABRFF) e entre outros. Tendo como inspirações José
Padilha, Fernando Meireles e Miguel Falabella, Thales mostra sua diversidade na
arte destacando também o trabalho de nomes como Fabio Porchat, Christopher
Nolan e Hector Babenco. Sobre esta versatilidade, o cineasta
afirma, "comecei fazendo drama, agora estou me curvando levemente para
comédia. Muita gente questiona o quanto de comédia há em "Nos Becos de São
Francisco". No fim digo que pode se dizer que é um drama feito com
humor", conta o roteirista que não se prende a um gênero especifico.
De costas para o preconceito
De certo, uma parte do grande público talvez ainda veja a temática LGBTQ
como um tabu, mas Thales conta que não se permitiu sentir o preconceito ou dar
ouvidos a críticas neste sentido. "Sempre tenho uma visão otimista, então
às vezes eu não registro coisas desse tipo comigo e sigo em frente",
conta. Porém também afirma que sabe das dificuldades de segmentar o público:
"Trabalhar com conteúdo gay tem o desafio de cair uma sessão segregada que
muitas vezes não atinge o público hétero. O que não me incomoda tanto pra ser
sincero. Acredito que os filmes se conectam com o tipo de público que se
relaciona com ele".
Fora do âmbito profissional, o diretor conta que sente alguma diferença
em tratativas: "Tenho perdido algumas amizades por aqui. Pessoas que me
tratavam de uma maneira e que simplesmente se distanciaram depois que eu me
assumi, também tive projetos negados quando descobriram a temática".
Futuro
O cineasta mostra que não quer ficar parado. Ainda no primeiro semestre
de 2020, irá lançar algumas séries para a web, uma delas com a participação de
Carolla Parmejano. Já no segundo semestre, pretende começar a produção de seu
segundo longa metragem. As últimas vindas ao Brasil também o inspiraram e podem
surgir novidades: "Minha cabeça vai a mil com ideias de produções
nacionais. Estava em Arraial D’ajuda, em minha primeira vez na Bahia e fiquei
encantado com a cultura local, não paro de pensar em milhões de histórias pra
contar sobre aquele lugar", revela.
Com boa parte da vida no exterior,
Thales frisa seu orgulho por ser brasileiro. "Somos um povo naturalmente
criativo, temos paixão no sangue. O Brasil ainda é uma incógnita pra maioria
das pessoas aqui nos Estados Unidos, por isso agarrei a primeira oportunidade
de fazer personagens brasileiros que falam português num cenário
Americano". Apesar disso, acompanha a mudança do mercado e vê plataformas
de streaming mudando esta projeção: "Acho que é o momento ideal pra fazer
produções culturalmente diversas e o Brasil e muito bom nisso", finaliza.
Fotos: Divulgação
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