Rubem Baptista comenta sobre sua ferramenta de trabalho, a Língua Portuguesa

09 agosto 2022 |

 


Ah, nossa Língua Portuguesa! Sempre tão rica, variada e, simultaneamente, complicada devido às suas variações. Num bate papo espetacular com o professor Rubem Baptista, 55 anos, morador de Niterói (RJ), o CULTURA VIVA conseguiu explicações que ajudam a entender um pouco mais nossa própria Língua. Afinal de contas, precisamos compreendê-la melhor.

Confira!

 

CULTURA VIVA: Há quantos anos leciona como professor de Língua Portuguesa e por que decidiu se dedicar à disciplina? 

RUBEM BAPTISTA: No ano de 1987 eu decidi fazer Letras (Português/Literatura), por conta do incentivo e insistência de minha mãe. Estou no magistério desde 1991.

 

C.V.:  A Língua Portuguesa é bem rica e, a todo o tempo, sofre mutações, principalmente devido às gírias, vícios de linguagem e culturas regionais. Em sua opinião, a que se deve tantas mudanças? 

R.B.: Dentre as muitas possibilidades e argumentações, penso que existe um “glamour” e necessidade de pertencimento a um grupo, quando você se faz valer de determinadas expressões para compor uma fala. Hoje em dia, é muito fácil você ouvir as pessoas dizerem que vão dar ou não vão dar “spoiler”. Sem contar aquelas abreviações ao estilo “zapes” em que os jovens usam, abusam e se esquecem de repelir na hora da prova de Redação.

 

C.V.: E o Novo Acordo Ortográfico, seus alunos tiveram grandes dificuldades no aprendizado? 

R.B.: Não só eles, mas muitos colegas tiveram que voltar a se “equilibrar” dentro da Língua Portuguesa. Somente aqueles que administram o hábito de escrever, como desbravadores, tiveram a oportunidade de se confrontar bem mais cedo com algumas mudanças. Outros, continuam a recorrem ao corretor do zap. Sendo que este não dá para usar na prova do vestibular. 

 

C.V.: Sobre a tão temida redação, principalmente nos vestibulares, que dica poderia dar para o aluno se dar bem no desafio? 

R.B.: Dizem que os grandes “chefs” de cozinha foram bons degustadores. Daí a facilidade para transitar entre vários sabores e saber o que pode acontecer ao misturá-los. Com a redação não é diferente. Em não havendo um volume maior e mais diversificado de leituras, faltar-lhe-á mais opções e variedades de assuntos para usar como exemplos e desenvolver a temática.

 

C.V.: Qual o assunto, dentro da Gramática, que mais te fascina? 

R.B.: Não administro fascinação sobre um tema específico. Trato todos como um objetivo a ser cumprido, enquanto professor, quando tenho que transmiti-los aos alunos. Porém, a questão da classificação e qualificação de um “ser”, a partir de um adjetivo (distanciando-se da famosa “coisificação das coisas”) é algo nobre. O valor de um homem pode ser medido a partir da maneira como ele se refere a algo/alguém, sem ser chulo ou repetitivo. Um grande deboche na comédia brasileira era a fala da personagem da “Escolinha do Professor Raimundo” conhecida como “Rolando Lero”. Este, em momento algum, fazia-se valer de expressões pequenas, quando se dirigia ao seu mestre. Muito pelo contrário, ele estava sempre exaltando e enaltecendo a imagem e figura do Professor. Suas falas são o suprassumo da cortesia e elegância textual.


 

C.V.: Além de ser um professor, o senhor também é autor de vários livros publicados. Em que momento de sua vida descobriu essa inclinação?

R.B.: Entre os anos 1995 e 2000 eu escrevia textos (crônicas) para um jornal de São Gonçalo: “O Nosso Jornal de São Gonçalo”. Fiz isso pela oportunidade que me foi apresentada. Não era algo oficial, muito menos remunerado, mas tornou-se um grande trampolim para me enveredar pelo mundo das letras. Como diria o ator Denzel Washington, encarnando “Rubin Carter”: “Escrever é mágico e me liberta”!

 

C.V.: "Apogeu" - uma das suas obras publicadas, recentemente - é um sucesso na literatura brasileira. Trata-se de uma ficção? 

R.B.: Sim. Uma boa ficção que quebra todas as expectativas do leitor. O sucesso maior concentra-se no fato de minha filha, que está seguindo os passos do pai (cursando Letras, na Universidade), ter feito o prefácio.

 

C.V.: O "Apogeu" tem reflexo na sociedade, como um todo? 

R.B.: Não. A alta sociedade foi o alvo, dentro desta ficção. 

 

C.V.: Qual o trecho ou capítulo do "Apogeu" que mais os leitores comentam? Por que seria?

R.B.: Posso destacar 3: Primeiro, a inserção de Olavo Bilac, como prenúncio do clima para a criação do “Apogeu”, é um momento bastante criativo que tem revertido em 100% de comentários positivos. Segundo, a descoberta do perfil de uma das personagens. Ninguém esperava por esse comportamento. Terceiro, o final é bastante fora do comum. Inclusive, já me perguntaram se isso é possível.

 

C.V.: Quais são as suas redes sociais?

R.B.: O Facebook – Rubem Baptista.

 

Fotos: Arquivo pessoal de Rubem Baptista

 


1 comentários:

CRIADOR disse...

Realmente, existem detalhes nessa ferramenta que, por mais que a usemos constantemente, sempre haverá arestas para serem aparadas. Parabéns, Professor! Parabéns ao Jornalista pela opção de matéria!