Uma carreira construída
passo a passo aprendendo, a cada dia, um elemento a mais. Em cada ato, um bom
êxito e, como produto final, a entrega de um trabalho exímio e transparente ao
mercado. Assim tem sido a carreira da apresentadora Yasmine Saboya, degrau por degrau. Do estágio na antiga TVE até hoje como Coordenadora de
Jornalismo do Canal Saúde, no Rio de
Janeiro, a moça vem esbanjando talento e se revela uma roteirista de primeira.
Atualmente no comando do
programa “Sala de Convidados”,
também exibido pelo Canal Saúde, ela
concedeu entrevista exclusiva ao CULTURA
VIVA e deixa, como registro, sua história profissional que, cá entre nós, é
inspiradora!
Acompanhe!
CULTURA VIVA: Sempre foi sua meta se tornar uma apresentadora de TV ou aconteceu
naturalmente?
YASMINE SABOYA: Estar em frente às câmeras, como
apresentadora, nunca foi um objetivo meu não. Mas, desde pequena, com apenas
oito anos eu já brincava de entrevistar as pessoas. Então, ser uma
entrevistadora sempre foi uma ideia que me encantou muito. Inclusive, tenho
entrevistas minhas com minhas duas avós e eu bem criança mesmo, quando aprendi
a escrever. Aliás, sempre gostei muito de escrever. O caminho que eu trilhei
para ser uma apresentadora foi o seguinte: primeiro eu fui produtora na TVE.
Meu primeiro trabalho em TV foi em 2003/2004 e ainda na TVE. Comecei a fazer
roteiros lá na emissora mesmo e, certo dia, me convidaram para eu fazer um
teste no Canal Saúde. Fiz e foi meu primeiro trabalho como repórter, mas ainda
não era como apresentadora. Levei um bom tempo para me tornar uma
apresentadora.
C.V.: Quais os prós e os contras de trabalhar em TV, atualmente? Já passou por
algum apuro por essa exposição pública?
Y.S.: O Canal Saúde é um canal pequeno, não
tem tanta visibilidade, mas já vivi uma situação de um cara me achar na
internet e dizer que ia lá no canal para me conhecer. Achei uma situação bem esdrúxula.
Foram poucas vezes, mas já recebi mensagens meio invasivas pela internet. Fico
imaginando como quem tem, realmente, visibilidade como isso não deve ser
pesado. Dá um certo medo sim. Afinal de contas, a pessoa está vendo uma imagem
sua que não é exatamente a sua vida cotidiana: ela está vendo um recorte da sua
vida. Nunca passou disso, mas confesso que achei muito estranho.
C.V.: Seu trabalho também é reconhecido no mercado por fazer grandes roteiros
para a TV e o jornalismo em si. Escrever é sua paixão?
Y.S.: Desde pequena sempre gostei de
escrever e eu comecei a fazer roteiros na TVE, justamente como estagiária de
produção. Daí eu ia colocar as informações sobre os entrevistados no roteiro
para encaminhar à edição e à produção de estúdio e, olhando o roteiro cheguei a
pensar: acho que é possível eu fazer um roteiro. Fazia o programa “Comentário Geral,
com Michel Melamed e Luiza Sarmento. Um dia apresentei ao Miguel Paiva, que era
o diretor de criação. Ele gostou do meu roteiro e eu comecei a fazer como
assistente da roteirista responsável Gessy Sales, que me ensinou muita coisa.
Comecei a escrever os roteiros do programa; ela revisava, mas eu já ia me
desenvolvendo bem. Foi uma experiência muito legal! Mas, eram roteiros de
cabeça, de apresentação do programa. Ainda não eram roteiros como que eu fiz no
Canal Futura e no programa “Como será?”, que eram roteiros bem diferentes,
pareciam mais com reportagem. Eu fazia o roteiro de um quadro em que um
repórter apresentava, mas, na verdade, parecia uma grande reportagem. Era bem
desafiador mesmo: imagine você fazer um roteiro prévio de uma reportagem sem ter
ido ao local. Eu fazia toda a apuração antes e construía os roteiros.
C.V.: Além de jornalista, você também é formada em Direito. Qual a sua crítica
sobre as leis, no Brasil?
Y.S.: Estarei me formando em Direito no mês
de dezembro. Fui, justamente, buscar por conta do meu trabalho com o
jornalismo. Nunca tive e nem tenho a intenção de advogar. Mudou bastante a
minha forma de retratar as questões jurídicas. Me deu não só informações e conhecimento
desse universo, mas, muito mais do que isso, uma percepção sobre a legislação
brasileira. Eu era bem mais cética do que sou hoje. A nossa Legislação é
muito moderna e boa. Ela é um retrato da sociedade. Não se faz lei só no
Congresso: quando você entra na justiça e provoca um juiz a refletir sobre um
tema que nem está na lei ainda, está impulsionando a reflexão e a mudança da
legislação de certa forma. Então, tenho uma crítica social: acho a nossa
sociedade extremamente conservadora e abafa realidades que a gente vive, como
as drogas, por exemplo: a questão da legalização das drogas. Elas são
consumidas no Brasil e você, simplesmente, criminalizar e não olhar para esse
consumo no tocante à saúde pública, de forma a olhar o que se pode fazer para
que esse consumo também não culmine numa violência como estamos vendo a
mortalidade altíssima por conta de confrontos com policiais e tráfico de
drogas, que é proibido no Brasil, você vê que, em países em que a legalização
já aconteceu o índice de violência já abaixou muito e se tem hoje um
acompanhamento médico dessa parte da sociedade que consome a droga. Não é que
você tenha que legalizar tudo, mas tira o véu de cima da questão. A sociedade está
dizendo que o consumo existe. Então, não adianta proibir. Da mesma forma, a
questão do aborto: é proibido no Brasil, mas acontece. Então, tem questões que
não estão em nossa legislação por conta de uma sociedade absolutamente conservadora
e que não deixa essa discussão avançar.
C.V.: Você foi a roteirista do quadro "Expedição Digital", do
programa "Quem Será?", exibido pela Rede Globo. Como foi a
experiência?
Y.S.: A minha experiência no “Como será?”
foi rápida. Trabalhei com o Maurício, que era o diretor do programa e aprendei
muito com ele. Foram quatro meses de trabalho intenso. Foi um período em que eu
estava de férias no Canal Saúde e, depois, fiquei fazendo os dois trabalhos.
Foi muito gratificante.
C.V.: No Canal Futura e na TVE desenvolveu trabalhos também como roteirista de
programas que ficaram na história. Enfim, como avalia essas oportunidades?
Y.S.: No Canal Futura eu compartilhei a roteirização
da série com duas roteiristas. Fiz dois ou três roteiros para a emissora. Foi
assim: eu recebia a demanda, pesquisava o tema e escrevia. Era muito mais um
trabalho de escrita mesmo do que estar ali na prática, fazendo as gravações.
Foi uma experiência mais breve, mas muito interessante. Na TVE eu fiquei há cerca de um ano como
estagiária. Quando me formei, tive que sair. Já saí de lá trabalhando com as pessoas
com as quais eu trabalhava no programa. Fui chamada pelo Miguel Paiva para
trabalhar com ele, escrevendo textos para cartilhas de projetos que ele
desenvolvia e também com a Maria Gessy Sales trabalhando com ela nos roteiros.
Aprendi muito.
C.V.: Atualmente, o programa "Sala de Convidados" que apresenta no
Canal Saúde, ao vivo, discute questões de relevância nacional. Quais os
principais critérios para levar ao ar um programa dessa natureza num país
que sofre tanto com a saúde pública?
Y.S.: Estou há 15 anos no Canal Saúde e, quando eu entrei na emissora, perguntei para minha chefe de então se eu teria que falar bem do SUS porque eu tinha vivido algumas experiências ruins nele. Ela me falou: “você vai conhecer um SUS que não conhece”. Realmente, comecei a entender o que é saúde pública. Terminei agora, no meio do ano, uma especialização em Saúde Pública, na Fiocruz, e, durante este tempo em que atuo na emissora, tenho visto que o SUS é uma grande conquista! Tem um sistema universal, com cobertura de toda a população. Isso é algo incrível! Claro que há regiões em que funciona bem. Mas, a mídia só retrata os problemas. Em contrapartida, o que a gente retrata no programa “Sala de Convidados” são políticas públicas que impactam a saúde, direta ou indiretamente, como o racismo, a homofobia, não ter uma política pública voltada para a organização do SUS vai impactar na saúde. A gente percebe que tem um grande sistema na mão, mas este precisa ser entendido como política de Estado e não de governo, que entra e sai.
C.V.: Tem novidades para este ano ainda ou para o ano que vem, em sua
carreira? Pode nos adiantar?
Y.S.: Para o ano que vem ainda não tenho
nada concreto. Continuarei no Canal Saúde, onde não só apresento o “Sala de
Convidados”, mas também sou Coordenadora de Jornalismo. Faço a coordenação dos
três programas jornalísticos semanais e fizemos, recentemente, uma viagem ao
Pará, onde fui realizar entrevistas sobre o Projeto “Saúde e Alegria”. Então,
está saindo um documentário sobre essa viagem, que durou nove dias e ficou um
trabalho muito bonito! Terminei a especialização em saúde pública, nesse ano, e
pretendo ingressar no mestrado e unir tudo isso: jornalismo, direito, saúde
pública e perspectivas da política no Brasil, que eu espero que caminhe por um
caminho mais saudável.
Fotos: Divulgação
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