Yasmine Saboya e os degraus da Comunicação

12 outubro 2022 |

 



Uma carreira construída passo a passo aprendendo, a cada dia, um elemento a mais. Em cada ato, um bom êxito e, como produto final, a entrega de um trabalho exímio e transparente ao mercado. Assim tem sido a carreira da apresentadora Yasmine Saboya, degrau por degrau. Do estágio na antiga TVE até hoje como Coordenadora de Jornalismo do Canal Saúde, no Rio de Janeiro, a moça vem esbanjando talento e se revela uma roteirista de primeira.

 

Atualmente no comando do programa “Sala de Convidados”, também exibido pelo Canal Saúde, ela concedeu entrevista exclusiva ao CULTURA VIVA e deixa, como registro, sua história profissional que, cá entre nós, é inspiradora!

 

Acompanhe! 

 

CULTURA VIVA: Sempre foi sua meta se tornar uma apresentadora de TV ou aconteceu naturalmente?

YASMINE SABOYA: Estar em frente às câmeras, como apresentadora, nunca foi um objetivo meu não. Mas, desde pequena, com apenas oito anos eu já brincava de entrevistar as pessoas. Então, ser uma entrevistadora sempre foi uma ideia que me encantou muito. Inclusive, tenho entrevistas minhas com minhas duas avós e eu bem criança mesmo, quando aprendi a escrever. Aliás, sempre gostei muito de escrever. O caminho que eu trilhei para ser uma apresentadora foi o seguinte: primeiro eu fui produtora na TVE. Meu primeiro trabalho em TV foi em 2003/2004 e ainda na TVE. Comecei a fazer roteiros lá na emissora mesmo e, certo dia, me convidaram para eu fazer um teste no Canal Saúde. Fiz e foi meu primeiro trabalho como repórter, mas ainda não era como apresentadora. Levei um bom tempo para me tornar uma apresentadora.

 

C.V.: Quais os prós e os contras de trabalhar em TV, atualmente? Já passou por algum apuro por essa exposição pública?

Y.S.: O Canal Saúde é um canal pequeno, não tem tanta visibilidade, mas já vivi uma situação de um cara me achar na internet e dizer que ia lá no canal para me conhecer. Achei uma situação bem esdrúxula. Foram poucas vezes, mas já recebi mensagens meio invasivas pela internet. Fico imaginando como quem tem, realmente, visibilidade como isso não deve ser pesado. Dá um certo medo sim. Afinal de contas, a pessoa está vendo uma imagem sua que não é exatamente a sua vida cotidiana: ela está vendo um recorte da sua vida. Nunca passou disso, mas confesso que achei muito estranho.

 

 

C.V.: Seu trabalho também é reconhecido no mercado por fazer grandes roteiros para a TV e o jornalismo em si. Escrever é sua paixão?

Y.S.: Desde pequena sempre gostei de escrever e eu comecei a fazer roteiros na TVE, justamente como estagiária de produção. Daí eu ia colocar as informações sobre os entrevistados no roteiro para encaminhar à edição e à produção de estúdio e, olhando o roteiro cheguei a pensar: acho que é possível eu fazer um roteiro. Fazia o programa “Comentário Geral, com Michel Melamed e Luiza Sarmento. Um dia apresentei ao Miguel Paiva, que era o diretor de criação. Ele gostou do meu roteiro e eu comecei a fazer como assistente da roteirista responsável Gessy Sales, que me ensinou muita coisa. Comecei a escrever os roteiros do programa; ela revisava, mas eu já ia me desenvolvendo bem. Foi uma experiência muito legal! Mas, eram roteiros de cabeça, de apresentação do programa. Ainda não eram roteiros como que eu fiz no Canal Futura e no programa “Como será?”, que eram roteiros bem diferentes, pareciam mais com reportagem. Eu fazia o roteiro de um quadro em que um repórter apresentava, mas, na verdade, parecia uma grande reportagem. Era bem desafiador mesmo: imagine você fazer um roteiro prévio de uma reportagem sem ter ido ao local. Eu fazia toda a apuração antes e construía os roteiros.

 

 

C.V.: Além de jornalista, você também é formada em Direito. Qual a sua crítica sobre as leis, no Brasil?

Y.S.: Estarei me formando em Direito no mês de dezembro. Fui, justamente, buscar por conta do meu trabalho com o jornalismo. Nunca tive e nem tenho a intenção de advogar. Mudou bastante a minha forma de retratar as questões jurídicas. Me deu não só informações e conhecimento desse universo, mas, muito mais do que isso, uma percepção sobre a legislação brasileira. Eu era bem mais cética do que sou hoje. A nossa Legislação é muito moderna e boa. Ela é um retrato da sociedade. Não se faz lei só no Congresso: quando você entra na justiça e provoca um juiz a refletir sobre um tema que nem está na lei ainda, está impulsionando a reflexão e a mudança da legislação de certa forma. Então, tenho uma crítica social: acho a nossa sociedade extremamente conservadora e abafa realidades que a gente vive, como as drogas, por exemplo: a questão da legalização das drogas. Elas são consumidas no Brasil e você, simplesmente, criminalizar e não olhar para esse consumo no tocante à saúde pública, de forma a olhar o que se pode fazer para que esse consumo também não culmine numa violência como estamos vendo a mortalidade altíssima por conta de confrontos com policiais e tráfico de drogas, que é proibido no Brasil, você vê que, em países em que a legalização já aconteceu o índice de violência já abaixou muito e se tem hoje um acompanhamento médico dessa parte da sociedade que consome a droga. Não é que você tenha que legalizar tudo, mas tira o véu de cima da questão. A sociedade está dizendo que o consumo existe. Então, não adianta proibir. Da mesma forma, a questão do aborto: é proibido no Brasil, mas acontece. Então, tem questões que não estão em nossa legislação por conta de uma sociedade absolutamente conservadora e que não deixa essa discussão avançar.

 

 

C.V.: Você foi a roteirista do quadro "Expedição Digital", do programa "Quem Será?", exibido pela Rede Globo. Como foi a experiência?

Y.S.: A minha experiência no “Como será?” foi rápida. Trabalhei com o Maurício, que era o diretor do programa e aprendei muito com ele. Foram quatro meses de trabalho intenso. Foi um período em que eu estava de férias no Canal Saúde e, depois, fiquei fazendo os dois trabalhos. Foi muito gratificante.

 

 

C.V.: No Canal Futura e na TVE desenvolveu trabalhos também como roteirista de programas que ficaram na história. Enfim, como avalia essas oportunidades?

Y.S.: No Canal Futura eu compartilhei a roteirização da série com duas roteiristas. Fiz dois ou três roteiros para a emissora. Foi assim: eu recebia a demanda, pesquisava o tema e escrevia. Era muito mais um trabalho de escrita mesmo do que estar ali na prática, fazendo as gravações. Foi uma experiência mais breve, mas muito interessante.  Na TVE eu fiquei há cerca de um ano como estagiária. Quando me formei, tive que sair. Já saí de lá trabalhando com as pessoas com as quais eu trabalhava no programa. Fui chamada pelo Miguel Paiva para trabalhar com ele, escrevendo textos para cartilhas de projetos que ele desenvolvia e também com a Maria Gessy Sales trabalhando com ela nos roteiros. Aprendi muito.

 

 

C.V.: Atualmente, o programa "Sala de Convidados" que apresenta no Canal Saúde, ao vivo, discute questões de relevância nacional. Quais os principais critérios para levar ao ar um programa dessa natureza num país que sofre tanto com a saúde pública?

Y.S.: Estou há 15 anos no Canal Saúde e, quando eu entrei na emissora, perguntei para minha chefe de então se eu teria que falar bem do SUS porque eu tinha vivido algumas experiências ruins nele. Ela me falou: “você vai conhecer um SUS que não conhece”. Realmente, comecei a entender o que é saúde pública. Terminei agora, no meio do ano, uma especialização em Saúde Pública, na Fiocruz, e, durante este tempo em que atuo na emissora, tenho visto que o SUS é uma grande conquista! Tem um sistema universal, com cobertura de toda a população. Isso é algo incrível! Claro que há regiões em que funciona bem. Mas, a mídia só retrata os problemas. Em contrapartida, o que a gente retrata no programa “Sala de Convidados” são políticas públicas que impactam a saúde, direta ou indiretamente, como o racismo, a homofobia, não ter uma política pública voltada para a organização do SUS vai impactar na saúde. A gente percebe que tem um grande sistema na mão, mas este precisa ser entendido como política de Estado e não de governo, que entra e sai.

 

 

C.V.: Tem novidades para este ano ainda ou para o ano que vem, em sua carreira? Pode nos adiantar?

Y.S.: Para o ano que vem ainda não tenho nada concreto. Continuarei no Canal Saúde, onde não só apresento o “Sala de Convidados”, mas também sou Coordenadora de Jornalismo. Faço a coordenação dos três programas jornalísticos semanais e fizemos, recentemente, uma viagem ao Pará, onde fui realizar entrevistas sobre o Projeto “Saúde e Alegria”. Então, está saindo um documentário sobre essa viagem, que durou nove dias e ficou um trabalho muito bonito! Terminei a especialização em saúde pública, nesse ano, e pretendo ingressar no mestrado e unir tudo isso: jornalismo, direito, saúde pública e perspectivas da política no Brasil, que eu espero que caminhe por um caminho mais saudável.

 

Fotos: Divulgação


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