TAPEÇARIAS FRANCESAS NO MUSEU HISTORICO NACIONAL

08 setembro 2009 |


MINISTÉRIO DA CULTURA
INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL

DE ECKOUT À ATUALIDADE: TAPEÇARIAS FRANCESAS EM EXPOSIÇÃO NO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL

No âmbito das comemorações do Ano da França no Brasil, o Museu Histórico Nacional inaugura no dia 16 de setembro, às 19h, a exposição “Tapeçarias Francesas – Patrimônio e Criação – De Eckout aos nossos dias”, reunindo 20 obras das manufaturas de Gobelins, Beauvais e Savonnerie, pertencentes à coleção do Mobiliário Nacional de França. Patrocinada pela empresa francesa DCNS, a exposição estará aberta ao público até 15 de novembro.

São sete tapeçarias antigas, que remontam ao século XVII, baseadas em modelos de Albert Eckout e Alexandre-François Desportes. Destaque, ainda, para quatro cartões (óleos sobre tela) de Eckout, que inspiraram tapeçarias e que foram especialmente restaurados para a exposição brasileira, dada a importância desse artista para o país, uma vez em que registrou nossa fauna, flora e vida local no período de Maurício de Nassau. Já as outras onze tapeçarias são contemporâneas, de renomados artistas como Erro, que homenageia Miro, e Carole Benzaken, que registra um jogo de futebol.

Ligado ao Ministério da Cultura e da Comunicação da França, o Mobiliário Nacional é um serviço de abrangência nacional, que tem por objetivo primeiro mobiliar os palácios oficiais do governo e as residências presidenciais. Esse serviço existe desde a época dos reis de França.

Tapeçarias francesas: patrimônio e criação
Criadas para pôr fim às dispendiosas importações de tapeçarias estrangeiras e fornecer à Coroa criações de prestígio tecidas no território nacional, as três manufaturas dos Gobelins, de Beauvais e da Savonnerie são ainda hoje lugares ativos de criação que perpetuam uma tradição de excelente abertura para a modernidade.
Da sua missão inicial de embelezar os ambientes das mais altas instituições do Estado francês, à posterior função de difusão e promoção da cultura francesa no exterior, a tapeçaria atingiu a contemporaneidade graças ao estímulo artístico do Estado, que possibilitou sua inserção e intercâmbio com novos sentidos, valores e funções da atualidade.
Co-criações exemplares frutificadas do nobre diálogo estabelecido entre o artista do modelo e o tecelão, as tapeçarias selecionadas para o ano da França no Brasil, são verdadeiros documentos de uma arte que não parou de se reinventar, ainda que fiel a si mesma, ao longo dos últimos 400 anos.
Nos tapetes tecidos a partir de criações de Le Brun, Poussin e Eckhout no século XVII, e nos produzidos com os modelos de Oudry, Desportes e Boucher no século XVIII, até os contemporâneos de Erro, Hains, Garouste, Alberola e Matta estão explícitas as marcas de uma aventura que gerou obras primas de uma beleza inédita e cuja história segue aberta para um futuro ainda a se reinventar.

Os Gobelins
A Manufatura dos Gobelins, inicialmente denominada “manufatura dos móveis da Coroa”, foi criada por Henri IV, sendo reorganizada em 1662, por Colbert, que colocou na direção o principal pintor da Corte de Louis XIV, Charles Le Brun. Nela reuniram-se os ateliês parisienses de tecelagem e os de Maincy, criados por Fouquet.
A produção destinada ao mobiliário das casas reais e aos presentes diplomáticos logo alcançou reputação internacional.
Com 400 anos de história, a Manufatura Nacional dos Gobelins continua a funcionar, hoje com 15 teares e 30 tecelões (tapeceiros – montadores de liços), instalados em dois prédios. Ligada ao Mobiliário Nacional francês, desde 1937, todos os anos são concluídas cerca de seis tapeçarias, a partir de obras de artistas de diferentes tendências estéticas contemporâneas, assinadas com o monograma da Manufatura “G” atravessado por uma agulha/navete utilizada na tecelagem.

Tapeçaria de Alto Liço
A técnica utilizada em toda a produção dos Gobelins é a do alto liço (anel de algodão que aperta cada dois fios da urdidura vertical), que foi implantada em 1826, e consiste no emprego do tear vertical, composto por duas hastes verticais que sustentam dois cilindros móveis, paralelos, na horizontal. Sendo um na parte superior outro na parte inferior do tear. Na vertical, duas camadas de fios de lã são esticadas para formar a urdidura. Uma delas fica livre e a outra recebe uma liça em cada fio. Acionadas as liças com as mãos, obtém-se o cruzamento dos fios, necessário à execução da trama. Um pente de madeira abastecido com lã, que pode ser misturada com um pouco de seda ou de algodão serve de instrumento para inserção dos fios. O tecelão, sentado atrás do tear, tece o avesso da tapeçaria, controlando o lado direito pelo reflexo em um espelho, atrás do qual fica o modelo, no tamanho da peça a ser confeccionada.

Os Beauvais
A Manufatura de Beauvais, fundada em 1664, ao contrário da Manufatura de Gobelins cuja produção é essencialmente destinada ao Rei, é uma empresa privada que obtém meios para subsistência da venda de seus produtos.
Dirigida pelo pintor Oudry, com a colaboração de Boucher, durante seu apogeu no século XVIII. Utilizados como presentes diplomáticos, seus tapetes logo ganharam fama e reconhecimento mundial.
Com três séculos de funcionamento e reputação internacional, em 1937 a Manufatura ligou-se ao Mobiliário Nacional. Três anos depois seus prédios foram destruídos pelo incêndio que atingiu toda a cidade e ela instalou-se na área dos Gobelins, onde segue funcionando. No entanto, em 1989 dez teares foram montados em antigos matadores reformados na cidade de Beauvais. Outros doze permanecem em Paris.
Com 30 tecelões, atualmente, a Manufatura dedica-se à transposição de cartões originais elaborados por artistas contemporâneos, concluindo, todos os anos, seis tapetes que levam seu monograma “MBN” – Manufatura-Beauvais-Nacional.

O Brasil holandês
No ano de 1630, com uma esquadra de 70 navios, os holandeses chegaram a Pernambuco e dominaram Recife e Olinda. Contra eles, a Companhia de Emboscada, grupo guerrilheiro chefiado por Matias de Albuquerque, não resistira, e, a partir de 1635, teve início a organização da Nova Holanda.
Considerada pelas Companhias das Índias Ocidentais como um empreendimento comercial que deveria dar altos lucros, era necessário colocar a colônia recém conquistada em condições de produção. Para essa tarefa foi nomeado o Governador Geral João Maurício de Nassau-Siegen.
Com uma administração baseada na conciliação e na tolerância, Nassau esforçava-se por criar um ambiente propício ao crescimento econômico e cultural da região, que logo se transformou na mais desenvolvida das Américas. Tendo, na base de seu avanço, os ganhos com o açúcar produzido pelos senhores de engenho luso-brasileiros e financiados pelo capital mercantil holandês.

A Tapeçaria das Antigas e Novas Índias
A tapeçaria das Índias está entre as obras de maior prestígio da Manufatura Real dos Gobelins. Utilizada para promover a arte francesa e a perícia da própria Manufatura no exterior, não serviam para a decoração das Casas Reais, mas, sim, como presentes diplomáticos, ofertados pelo Rei.
Compõe a tapeçaria das Índias duas séries distintas, realizadas em cinqüenta anos de intervalo, chamadas Antigas Índias e Novas Índias.
A Tapeçaria das Antigas Índias, datadas do século XVII, têm por origem oito quadros ofertados a Louis XIV, em 1679, pelo Príncipe João Maurício de Nassau-Siegen (1604-1679), Governador Geral do Brasil holandês de 1636 a 1644. Nelas vêem-se figuras de homens e mulheres em tamanho natural, plantas, frutas, pássaros, animais, peixes e paisagens do Brasil.
Na década de 1730, quando os ateliês de baixo liço da Manufatura Real dos Gobelins estavam ociosos, surgiram novos modelos, produzidos por Desportes e inspirados nas Antigas Índias, mas adaptados ao gosto da época: as Novas Índias. A diferença entre os primeiros modelos pintados por Eckhout e os novos, foi, principalmente, a introdução de elementos da fauna e flora européias, desconhecidos no Brasil.
O sucesso foi imenso, as Novas Índias foram tecidas doze vezes entre 1740 e 1789. A distinção entre a tapeçaria das Novas Índias e a das Antigas Índias foi a impressionante difusão internacional, fossem seus destinos as Cortes estrangeiras ou a clientela privada.


Legendas das obras:

Miró 1992
Gudmundur Gudmundson, dito Erro (1932, Islândia)
Modelo: colagem de papel e acrílica, aquisição 1998
Tapeçaria: manufatura dos Gobelins, 2001-2003
Lã. 5 fios de urdidura por cm. 112 cores
H. 2,20; L: 4.48
Acervo: Coleção do Mobiliário Nacional

Museu Histórico Nacional
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Próximo à Praça XV
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Aberto ao público de 3º a 6º feira, das 10h às 17h30 e aos sábados, domingos e feriados (exceto Natal, Ano Novo, Carnaval e dias de eleições), das 14h às 18h. Não abrimos ao público nas segundas feiras, mesmo que seja feriado.

Ingresso para exposições do Museu Histórico Nacional:
R$ 6,00 (seis reais)
Estão isentos de pagamento (mediante comprovação): crianças até cinco anos de idade; sócios do ICOM-International Council of Museum; funcionários do IPHAN; alunos e professores das escolas públicas federais, estaduais e municipais; brasileiros maiores de 65 anos; guias de turismo e estudantes de museologia. Alunos agendados da rede particular de ensino e brasileiros maiores de 60 anos e menores de 65 anos pagam a metade do valor. Aos domingos, a entrada é franca.

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