O município de Niterói (RJ) é um celeiro de artistas. Em diversas áreas, os talentos são explorados, como na dança, no teatro, na música, nas artes plásticas e até mesmo na dedicação a um certo estilo musical. É o caso do cantor zabumbeiro e compositor Maurício Paraxaxar, 33 anos. Especialista em forró, mantém há alguns anos o “Forró do Convés”, no Gragoatá, semanalmente. E o público aprova.
Hoje, o artista deu entrevista exclusiva para o CULTURA VIVA, confira!
CULTURA VIVA: Há quanto tempo trabalha com o estilo musical "Forró"? Foi opção ou a vida te encaminhou para esse caminho?
MAURÍCIO PARAXAXAR: Há 13 anos. Foi sem nenhuma pretensão. Eu já era músico, mas não profissional e nunca tinha visto um forró na vida e vi uma apresentação de um quarteto liderado por Duani que, mais tarde, se tornaria o “Forróçacana” e, quando vi, foi amor à primeira vista, as letras das músicas e o som do zabumba me atraíram de tal forma que uma semana depois eu comprei minha primeira zabumba e minha primeira fita de Luiz Gonzaga. Daí por diante fui decorando músicas e tocando meu zabumba em casa até que comecei a frequentar a feira de São Cristóvão; ali achei mais fitas e mais músicos e mais amantes da cultura, uma galera da PUC e da boemia carioca que também começava a amar o forró e assim eu fui por amor ao forró me profissionalizando e hoje posso dizer que o forró mudou a minha vida!
C.V: Os niteroienses são apaixonados por forró, em sua opinião?
M.P: Completamente. Desde que começou a ser difundido pela nova geração, a estação Cantareira apresentou um baile com um grupo chamado Forróçacana; avisei aos amigos e fomos lá, quando cheguei era o quarteto que eu vi pela primeira vez com Duani, mas já com o nome Forróçacana e, dali em diante que a história começou para valer. As letras são muito inteligentes e políticas. Com isso. começaram a despertar o interesse dos universitários formadores de opinião que formavam a população de Niterói que eu conhecia e começamos a perceber que não se tratava só de música, dança, diversão e paquera, mas sim de cultura das mais fortes e de raízes, foi o casamento perfeito a vontade do saber dos universitários com a vontade de crescer dos que, na época, difundiram a cultura popular nordestina.
C.V: Durante esse tempo, já pensou em parar com esse trabalho? O que o desestimulou?
M.P: Nunca pensei em desistir e nada me desestimulava, pois eu viajava atrás de influências e sempre me aprimorando, embora com pouco estímulo da mídia e das autoridades locais, eu nunca pensei em parar; criei meu próprio baile, que é o “Forró do Convés”, por sinal só me dá alegrias!, e até hoje nunca pensei em parar.
C.V: Músico de renome, seu trabalho é respeitado pelo grande público. Em seus shows, quais são as músicas mais pedidas pelo público?
M.P: São muitas, não caberia nessa entrevista, mas as mais pedidas sempre foram as mais conhecidas como Luiz Gonzaga; Xote das Meninas, Vida do Viajante, Asa Branca e Pau de Arara e Trio Nordestino, Procurando tu, Forró Pesado; algumas de Geraldo Azevedo, como: Taxi Lunar , Moça Bonita e de Zé Ramalho, como ; Admirável Gado Novo , Frevo Mulher, de Amelinha, e Anunciação, de Alceu Valença, Sebastiana e o Canto da Ema, de Jackson do Pandeiro, que são consideradas o lado A do forró pé de serra; e, de minha autoria, O Trem do Forró , De corpo, alma e coração, Motivo pra Dançar e Hoje em Dia, não tem Briga, de artistas que cita todos os trios, bandas e DJs do forró carioca. Hoje o repertório é formado por mais de mil músicas e adoro tocar músicas desconhecidas desses grandes mestres e apresentá-las para o publico porque a primeira vez agente nunca esquece e, então, quando ouvirem na voz de outra pessoa, vão lembrar: “essa eu escutei a primeira vez com Maurício Paraxaxar”.
C.V: Mesmo com tantas novas tendências musicais, o forró nunca perde seu posto. A que se deve esse reinado?
M.P: Aos mestres pelo legado aos DJs de forró pela pesquisa e a juventude pelo acolhimento!, dizia Coroné Zabumbeiro do trio nordestino Gonzaga. Ele tinha que estar vivo para ver isso! Em meados de 2000 e 2001 o pé de serra estava em alta e a mídia deu lugar a bandas como Fala Mansa, Rastapé e Forróçacana, que foi indicada a dois prêmios Grammy Latino, e desde esse último estouro
do forró, as inúmeras bandas e DJs do Brasil e do exterior cada um fez a sua parte para ajudar a carregar essa bandeira tão linda da cultura nordestina que é o forró pé de serra.
C.V: Forró universitário e Forró tradicional. Quem ganha? Quem perde? Quais são os prós e os contras dos estilos?
M.P: Forró universitário e forró tradicional são a mesma coisa porque a mídia intitulou assim para quebrar o preconceito, como os universitários estavam gostando e viajando para Ituanas e para Pernambuco e voltando cada vez mais apaixonados, eles usaram esse nome assim como agora estão fazendo com o sertanejo. Só existem dois tipos de forró que são forró pé de serra, que se deu o nome porque eram os forrobodós feitos lá no pé da serra do Araripe (CE). Como dizia Gonzaga, o forró eletrônico – aquele com teclado que o Governo de Pernambuco proibiu no São João por confundir a imagem do verdadeiro forró e decretou para ser forró – tem que ter triângulo, sanfona e zabumba, que é a base do pé de serra inventada por seu maior difusor Luiz Gonzaga. Antes forró era feito com mele, que é uma lata com uma câmera de ar na extremidade, ganzá e pandeiro, antes de 1946 e, então, Gonzaga usou o triângulo – era um instrumento de efeito para orquestras – e o zabumba – emite um som grave de bumbo em uma extremidade e outro agudo de caixa na outra. O bumbo era feito com pele de carneiro e só emitia o som grave desde os primeiros relatos de forrobodós que a partir de 1946 ganhou uma vareta de bambú para ser tocado na outra extremidade e assim repercutir um som agudo de caixa. Com o forró eletrônico, quem perde é a história, pois as crianças do nordeste correriam o risco de nunca saber quem foi Luiz Gonzaga, que inventou o baião; que é um dos ritmos do forró e tirou o forró das periferias dos cabarés e levou para a sociedade e para o exterior.
C.V: Quais são suas maiores referências no mundo do Forró? Sempre se espelha neles?
M.P: Os mestres Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos e, antes deles, os tocadores de oito baixos que viveram toda a marginalização do forró Januario. O pai de Gonzaga foi o maior representante dessa cultura quase extinta e hoje imortalizada nas mãos de Zé Calixto e Bastinho Calixto que até hoje fazem forró autêntico com fole de oito baixos.
C.V: Em que lugar acontece seus eventos em Niterói?
M.P: O forró em Niterói tem seu único dia e endereço, que é o Espaço Convés, cujo dono é o artista plástico Adenor. Desde 1998 temos uma parceria de prosperidade, ambos crescemos juntos e hoje um dos únicos espaços alternativos de Niterói, situado à Rua Cel. Tamarindo, 137, Gragoatá, e é a resistência junto com o meu trabalho de cantor, compositor e zabumbeiro todas as quartas-feiras com abertura da casa às 22h30m. Mulher não paga até 23h. Os ingressos femininos custam R$5,00 e masculinos R$10,00. Informações pelos telefones (21) 3026-6321 e 94974544, site www.espacoconves.com.br. É o encontro marcado de todos os amantes do forró de Niterói e do Rio de Janeiro e onde eu me apresento há 13 anos, e recebo meus convidados, trios, bandas, músicos, DJs e até artistas de outros estados estão ligados nesse que é um dos forrós mais bem frequentados do Brasil, com a maior diversidade de público devido aos estudantes dos mais de 50 cursos da UFF distribuídos ao entorno da casa gente do Nordeste, Centro-oeste, Sul, Norte e Sudeste, que vem para a cidade estudar e acabam se apaixonando pelo Convés, pelas músicas e pelo meu som! Muita gente acaba a faculdade e não consegue ir embora, pois Niterói é uma família muito bela e unida. Dia 9 de abril estarei fazendo meu show na Amazonas Dance (Rua Barão do Amazonas, Niterói); dia 10 de abril, no famoso Forró da manhã na Barra da Tijuca, e dia 23 de abril no Rio Roots – maior evento de forró e intercâmbio do Rio de Janeiro – que acontece na Semana Santa com quatro dias de forró e mais de 30 atrações com forrozeiros de todo o Brasil. Mais informações: www.rioroots.com.br.
Meus contatos para shows: (21) 9497-4544/ 8316-1416; www.myspace.com/mauricioparaxaxar, onde também podem ouvir as músicas do meu novo CD.
C.V: Como define sua trajetória no Convés? E o CD que está preparando tem data para lançamento?
M.P: Muitas amizades, muitas felicidades. O que mais me marcou foi a fidelidade do público que nunca me abandonou nesses 13 anos.
O CD está quase pronto e, em meados desse ano, farei seu lançamento e o que ele tem de mais especial são as influências adquiridas e traduzidas nas dose músicas de minha autoria. Estão nesse CD as melhores músicas de toda a minha carreira, como De Corpo Alma e Coração, O Trem do Forró , Quero ver dar Nó, Motivo pra Dançar e Não tem Briga, de artistas qu,e no momento, é febre nacional entre os verdadeiros admiradores e tem um acompanhamento luxuoso de um trio de forró tradicional com sanfona, zabumba e triângulo junto com um regional de choro instrumentos como violão de sete cordas, cavaquinho, flauta transversa, pandeiro, reco-reco e com muitas participações dos melhores instrumentistas do Brasil. Vale a pena conferir: www.myspace.com/mauricioparaxaxar.
*Foto: Divulgação
*Imagem1: flyer do “Forró do Convés”
3 comentários:
A CARREIRA DO MÚSICO MAURÍCIO PARAXAXAR É MARCADA PELA PERSEVERANÇA DE UM ARTISTA QUE ACREDITA NO QUE FAZ E QUE FAZ DA
SUA MÚSICA O SEU IDEAL DE VIDA!
Olá amigos, é com grande prazer e alegria, comentar aqui, que trabalha comigo um grande profissional e amigo,não, acho que filho porque acho que fiz e faço parte da criação deste monstro talentoso e dedicado.
Abraços, paz luz e mais sucesso para voce Mauricio Sem Fresucura Paraxaxar.
Obrigado ao jornal Cultura Viva e Edson Soares pela iniciativa de expor de forma verdadeira e positiva histórica musical e criativa a minha pessoa< e oas aninonimos comentarios que me incentivam!!!E viva o forró na Sua forma mais autêntica!!!
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