O Rio de
Janeiro foi presenteado com mais uma edição do Festival Nacional de Capoeira organizado pelo Mestrando Parazinho e sua equipe. Desde ontem uma programação
variada ocupa capoeiristas e admiradores num evento recheado de atrações na Escola Municipal João Kopke, na Piedade. Com início às 9h de ontem, dia
2 de novembro, o Festival conta com a participação de adeptos de diversos
lugares, dentre eles, São Paulo, Petrópolis, Maricá, Cabo Frio e Barra do
Piraí. O Festival termina hoje, às 17h, com Roda de Capoeira. Responsável pela
iniciativa, o Mestrando Parazinho, 38 anos e há 32 anos na Capoeira comenta sua
satisfação em organizar algo de tal importância. “Fico feliz porque a gente consegue
reunir pessoas de vários Estados. Estou com um grupo novo na Capoeira e o
pessoal se dedica mesmo”, diz.
Desta vez, o evento conta com a participação
especial do Mestre Capixaba do Estado do
Espírito Santo (ES). “Ele me acolheu muito bem quando fui ao Espírito Santo
e, como ele mesmo diz, é coisa da família ‘Acapoeira’”, ressalta Parazinho
sobre o amigo.
O Mestrando fala sobre a organização do
evento. “Encontrei mais dificuldades esse ano do que no ano passado porque as
pessoas ainda não acreditam em nossa arte. Busquei apoio do Deputado Federal
Felipe Bournier e ele prontamente nos ajudou. Aliás, é nosso parceiro eterno”.
Aproveitando o ensejo, Parazinho chama a
atenção de políticos e empresários. “Olhem mais para nossa cultura porque ela
está se perdendo. Estão dando mais atenção para outros valores do que à nossa
arte, que tanto auxilia crianças, jovens e adolescentes. Cada vez mais a
Capoeira se espalha pelo Brasil e pelo mundo. Trabalho com deficientes físicos
e dependentes químicos, e o trabalho se torna um pouco mais complicado: tem que
haver mais paciência e mais recursos, pois necessitam de cuidados especiais.
Para mim, é uma satisfação fazer esse trabalho. Faço com amor, mas precisamos
de apoio”, destaca.
Para Wagner
Curvello, 46 anos , na Caopoeira há 34 anos e responsável pela criação e
produção do Certificado do Festival Nacional de Capoeira desse ano, trabalhar
com Parazinho tem motivo. “É prazeroso, resgata a essência da Capoeira,
estimula a inteligência e a viver em paz consigo mesmo”, explica.
Um convidado especial no evento
Convidado muito esperado para o evento, Rogério Medeiros Filho, 52 anos, mais
conhecido como “Mestre Capixaba”
veio do Espírito Santo especialmente
para o Festival e ministrar cursos aos participantes. Ele fala sobre o contato
com Parazinho. “Ele está ingressando num trabalho de suma importância que é
reunir grupos diversos de Capoeira para dialogar e trocar idéias. Isso é muito
bom. Já faz mais de ano que ele esteve comigo no Espírito Santo para firmarmos
parceria. Inclusive, fez um curso conosco lá. Ele me disse que queria reunir as
gerações: os mais antigos com a garotada que está chegando agora. Gostei muito
da proposta”, revela.
Capixaba conta que sua escola de Capoeira foi
aqui no Rio de Janeiro de 1979 a 1983. Depois, foi para o Espírito Santo e saiu
de lá aos 17 anos para o Rio de Janeiro com um único objetivo: aprender mais a
Capoeira. Com 40 anos de prática,
pretende comemorar em 2014 no Centro Cultural criado por ele mesmo na Vila de
Itaúnas, em Conceição da Barra (ES), da seguinte forma: como todo último fim de
semana do mês de Agosto realiza o Encontro
Internacional de Acapoeira (Associação Cultural Artística Popular Orientada ao
Esporte e de Incentivo a Raízes Afro-brasileiras), vai aproveitar a
oportunidade para a comemoração.
O Mestre deseja resgatar a Capoeira mediante
a história de Teodorinho Trinca-ferro
– o último Angolano Angoleiro: era de Angola e aprendeu Capoeira no Brasil. Não
se permitiu escravizar, morava numa casinha simples dentro do mato e só
aparecia para salvar negros que eram levados para serem chicoteados e
martirizados. “Ele dizia que a Capoeira dele era ‘pau’. Quem queria aprender
Capoeira com ele tinha que ir à mata, onde ele morava. Foi um negro que deixou
história e faleceu já bem idoso”, relata Capixaba.
Ele faz uma observação no setor da Capoeira. “Antes,
as pessoas se uniam e se encontravam; depois, foram formando grupos e
subdividiu a Capoeira. Hoje, aqui, percebo a presença de vários grupos. Há
muito tempo não vejo isso. Vejo que as pessoas estão tendo um relacionamento
melhor. Muitas vezes, alguém é um exímio capoeirista, mas não tem um trabalho
de inclusão social como esse que participo aqui. Na Capoeira tem que haver
trânsito: as pessoas têm de ir a outros grupos, conversar, trocar idéias e
dialogar”, analisa.
Capixaba diz que o capoeirista deve valorizar
a arte que tem, estudar, adquirir conhecimento e não ficar preocupado em
conquistar “cordas”. “Corda não joga Capoeira. Lá no Espírito Santo faço reciclagem:
quem já pegou uma corda e se acomoda, o chamo de volta à prática porque não
pode deixar de exercitar” recomenda.
Satisfeito com o evento, o Mestre Capixaba
abriu o coração. “Aqui tenho a oportunidade de reencontrar muitos capoeiristas
que não vejo há mais de vinte e cinco anos”, frisou.
Uma Escola comprometida com a Cultura
Uma das incentivadoras do evento, a diretora
da Escola Municipal João Kopke, Fátima Verol, 43 anos, abriu as portas
da instituição para o Festival Nacional
de Capoeira, mediante o que observou no Mestrando Parazinho: comprometimento real com a cultura. “Assumi a
escola há pouco tempo. Ele me procurou, falou do grupo e do evento. Expliquei
que temos pouca estrutura para atendê-lo. Me disse, então, que o que tínhamos
era suficiente. Logo, me responsabilizei. Prometi a ele que, numa próxima vez,
terei um espaço mais acolhedor, mudarei portas, mandarei pintar a quadra,
enfim, melhorarei o que for necessário”, pronuncia.
Fátima conta que não fez divulgação do evento
por desconhecer a quantidade de pessoas que o tal abrigaria. “Eu não sabia se
ia ter platéia e achei que a presença dos alunos poderia atrapalhar, então,
evitei divulgar”.
A diretora expressa a utilidade da Capoeira. “É
cultura e faz parte do nosso país. Nossa escola tem a prática de oferecer a
Capoeira aos alunos, inclusive. Ano que vem, uma das propostas do projeto anual
da escola é trabalhar a influência da Cultura Afro no Brasil”, comunica.
Fotos: Divulgação
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