Hebe Camargo começou a vida artística
como cantora, primeiro em programas de calouros, aos 13 anos, para ajudar a
complementar a renda de sua família humilde, que morava em Taubaté; depois em
boates, no rádio e na indústria do disco. Mas foi na televisão brasileira que
ela se tornou uma grande estrela. E a sua relação com a TV começou antes mesmo
desta ser criada: como integrante do casting das Emissoras
Associadas, pertencentes a Assis Chateaubriand, Hebe fez parte da caravana do
empresário que levou artistas ao Porto de Santos, em 30 de janeiro de 1950,
para receberem os primeiros equipamentos do primeiro canal televisivo que Chatô
criaria no Brasil, a TV Tupi. Mais tarde, no dia da inauguração das
transmissões, Hebe foi escalada para cantar o Hino da Televisão. A artista
alegou estar doente e pediu para a amiga Lolita Rodrigues substituí-la. O
motivo da ausência de Hebe, no entanto, era outro, e essa é uma das revelações
que o jornalista Artur Xexéo faz sobre a vida da apresentadora no delicioso
“Hebe – a biografia”, que a editora BestSeller lançou em maio.
Páginas: 266
Preço: R$ 34,90
Editora: BestSeller / Grupo Editorial Record
Com a prosa deliciosa que é a marca de suas colunas
semanais, Artur Xexéo convida o leitor a praticamente se sentar na poltrona da
apresentadora para ouvir as suas histórias de vida, só que narradas por ele.
Durante o ano e meio em que se dedicou ao livro, o jornalista conviveu com
alguns dos parentes de Hebe, entrevistou seus amigos e gente que trabalhou com
ela e mergulhou nos arquivos de sua trajetória. Os namoros controversos, o
casamento, o filho, o aborto que ela confessou publicamente ter feito, os medos,
as cirurgias plásticas, o tipo de comida favorita, o amor pelo pai, os
primeiros passos na carreira, o sucesso, os ressentimentos, as brigas, as
amizades, as viagens, as críticas políticas que fazia na abertura de seu
programa e lhe renderam brigas com o Congresso Nacional e conflitos no SBT;
nada de relevante parece ter ficado de fora – embora seja um desafio resumir em
menos de 300 páginas a vida de uma mulher que viveu intensamente. Mas Xexéo
falou do essencial. E pediu aos amigos de Hebe que a definissem: “cativante”;
“extravagante”, “inteira”; “sincera”; “feliz”; “boa de copo e de garfo”;
“generosa”; “presenteadora”; “natural”; “boa de briga”; “muita vida numa pessoa
só”.
Essa Hebe que abriu caminhos na vida artística numa época
em que a maior parte das mulheres largava tudo para casar; que se casou com um
homem desquitado, escondida, e que sofreu preconceitos e humilhações quando
ainda não era uma estrela. Uma artista que, apesar de se ressentir de não ter
estudado, recebeu em seus palcos os principais personagens da vida política e
cultural do país. Numa época em que não se falava de feminismo, seu primeiro
programa como entrevistadora na TV se chamava “O mundo é das mulheres”.
Esse talk show estreou
em setembro de 1955 na TV Paulista, tendo como convidado o então prefeito de
São Paulo Juvenal Lino de Matos. O encerramento, com qualquer convidado, sempre
era com a pergunta: “O mundo é das mulheres?” Por esse primeiro sofá da Hebe
passaram grandes personalidades, como Tom Jobim e Vinicius de Moraes e o
deputado federal Nelson Carneiro, que então já defendia o divórcio no país.
Foi esse o primeiro programa a lhe conferir prêmios – o
que nunca tinha acontecido na carreira musical – e que a projetou de vez na
televisão. Ela passou a estar na telinha em vários dias da semana e, nos anos
seguintes, com um casamento e um filho no intervalo, Hebe foi contratada de
algumas das principais redes de televisão. Na Record, antes de a Globo lançar o
Fantástico, era Hebe que dominava o horário nobre aos domingos. “O sofá no
palco do Teatro Record no qual a mais querida apresentadora do Brasil recebia
seus convidados virou uma instituição nacional. Ninguém tinha prestígio
suficiente neste país se não se sentasse ali para ser entrevistado”, escreve
Xexéo.
O livro, que conta também boa parte da história da TV
brasileira e seus principais personagens, já está nas livrarias.
DEPOIMENTOS SOBRE HEBE
"Poucas vezes vi uma pessoa com tal
capacidade de seduzir. Porque tudo nela era autêntico, natural, solto, Hebe
jamais representou. Foi grande o suficiente para ser relax, mesmo quando a vida
a colocava duramente à prova, e a colocou inúmeras vezes." — Ignácio de Loyola Brandão
"O lado profissional da Hebe é
importante, mas ela nunca deixou que fosse mais que o lado pessoal. Nunca
brigou com um colega, sempre foi protetora, amorosa, guerreira, com veteranos e
com novatos." — Boni
“Hebe sempre foi um símbolo de vida. Até
quando queria elogiar, não caía no lugar comum de dizer ‘você é linda de
morrer’, ela dizia ‘você é linda de viver’. Tinha esse compromisso com a vida.
Inclusive o nome dela é o mesmo da deusa da juventude, e era isso que ela
passava para todo mundo, essa vitalidade. Ela é um ícone, um símbolo, uma
mulher como outras pioneiras da televisão, um meio que não era bem visto na
época que começou. Eu reverencio a personalidade da Hebe.” — Gloria Pires
"Hebe nos ensinou a viver sem inimigos,
com o sorriso nos lábios. Uma mulher de grande personalidade, que acima de tudo
lutava pelo povo brasileiro. Ela deixa um ensinamento de como viver a vida. Era
uma pessoa que agradecia todos os dias por estar viva e bem de saúde."
— Eliana
“Minha amiga Hebinha, seres iluminados como
você sempre vão nos ouvir. Por isso, aqui vai a minha mensagem: obrigado por
sua existência nesse plano de vida e o bem que ela fez a esse país. Você foi
transformadora no quesito originalidade e comportamento. Com sua personalidade
carregada de caráter, você falou em defesa do povo brasileiro em seus programas
e colocou questões delicadas às claras assumindo um lugar de defensora do
povão. [...] Pessoas como a Hebe são insubstituíveis. A grande lembrança é da
mulher corajosa e independente. A frase dela que fica é: 'Vamos comemorar a
vida, Tom.'" — Tom
Cavalcante
SOBRE O AUTOR
Carioca, 65 anos, formado em Comunicação Social, Artur
Xexéo é jornalista há quarenta anos. Nesse período, trabalhou nas redações
do Jornal do Brasil,
do Globo e
das revistas Veja e IstoÉ. Autor da
biografia Janete Clair:
A usineira de sonhos e do livro de crônicas O torcedor acidental, é
comentarista da Globo News e da Rádio CBN e colunista do jornal O Globo. Autor teatral,
escreveu os musicais Nós
sempre teremos Paris e Cartola:
O mundo é um moinho. Foi roteirista dos seriados Pé na cova e Sexo e as Negas, da Rede
Globo. E espectador a vida inteira dos programas da Hebe Camargo.
Foto: Divulgação
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