Rodrigo Lima e a realidade de um Médico da Família e Comunidade

19 agosto 2021 |

 


Os desafios que um médico encontra a partir do momento que veste seu jaleco e põe a mão na massa: atender pacientes de uma forma específica num novo formato que o mercado apresenta à população. Ou seja, dentre as ramificações da Medicina há uma especialização que abriu um novo leque de trabalho e presenteou aos cidadãos com a Medicina de Família e Comunidade.

 

Em se tratando da rede pública, o profissional que tem essa especialização depara-se com os problemas sociais a cada instante e precisa de apoio de outros profissionais para colaborarem na apresentação de soluções.

 

Nascido para o cargo, o médico Rodrigo Lima atua neste setor em Brasília, no Distrito Federal, e tem escrito uma história diferente na região: a partir de seu empenho diversas famílias e localidades têm sido beneficiadas graças ao encorajamento desse profissional.

 

Num bate papo exclusivo com o CULTURA VIVA, O Dr. Rodrigo falou sobre sua carreira, os desafios que enfrenta, além de dar orientações preciosas.

 

Acompanhe! 

 

CULTURA VIVA: Ser médico ou jornalista. No momento em que deveria decidir qual profissão escolher, optou por Medicina. Por que ela teve peso maior?

RODRIGO LIMA: Acredito que foi uma escolha mais pragmática mesmo. A medicina me prometia uma carreira mais segura e, financeiramente, mais estável. Felizmente, eu encontrei nela uma maneira de conhecer e, eventualmente, contar as histórias das pessoas com quem cruzo pelo caminho, o que acaba alimentando o jornalista que ficou aqui guardado.

 

 

C.V.: Especializar-se em Medicina de Família e Comunidade foi um desafio?

R.L.: Eu te diria que não havia outra opção. A medicina como aparecia, para mim, após a formatura não era uma opção. Ainda digo que se não pudesse ser MFC eu largaria a medicina e seguiria outro caminho. Mas, foi sim um desafio, pois não é uma especialidade muito conhecida nem valorizada como deveria, o que significa que precisamos dar muito duro para construir uma carreira legal.

 

C.V.: Esse campo de trabalho está em expansão?

R.L.: Felizmente sim. Cada vez mais o público, em geral, e os gestores de serviços de saúde (públicos e privados) conhecem a especialidade e sua importância para oferecer cuidados primários de qualidade. 

 

C.V.: Depois dessa pandemia do coronavírus, quais serão as próximas dificuldades que um Médico de Família poderá enfrentar, em sua opinião?

R.L.: Provavelmente, "arrumar a casa" dos nossos pacientes. Ou seja, encontrar um cenário de condições crônicas, como diabetes, depressão, osteoartrites bastante descompensados pela perda da assistência que ocorreu devido à pandemia. Além disso, lidar com as sequelas da doença será uma coisa nova para todos nós. Além, é claro, do luto que boa parte da população viveu e poderá viver por algum tempo após a perda de pessoas próximas.

 

 C.V.: Atuar como Médico de Família e Comunidade tem um cunho social forte? Isso te espantou no início da carreira? 

R.L.: Embora respeite bastante MFC que optaram por seguir carreira no setor privado, e eu mesmo faço atendimentos fora do SUS. Acredito que é, no sistema público de saúde, que um MFC tem espaço para desenvolver todo o seu potencial. Somos essencialmente "advogados" de nossos pacientes perante o sistema que muitas vezes não dá as respostas que deveria, e temos a responsabilidade de cuidar das pessoas em todas as circunstâncias. Para mim, não foi exatamente um espanto, mas, sim, uma alegria perceber que havia um espaço na medicina feito para quem atendeu o chamado da responsabilidade social. 

 

C.V.: O Canal Saúde exibe, constantemente, uma entrevista sua falando sobre os problemas do coração. Enfim, quais os principais cuidados que uma pessoa deve ter para manter este órgão saudável?

R.L.: Eu diria que o coração não merece recomendações isoladas, pois é apenas uma parte de uma pessoa. Se você cuida bem do coração, mas surgem outras doenças, o simples fato de não se sentir bem pode atrapalhar o coração. Então, eu diria que um coração saudável depende de uma vida saudável, e a saúde depende de boa alimentação, atividade física regular, boas horas de sono, mas também de uma boa moradia, emprego, segurança, renda, lazer, enfim, de uma vida feliz e com o mínimo de privações. 

 

C.V.: Para quem gostaria de ser um jornalista, o senhor tem bastante aparição na mídia, em geral. Isso supre, um pouco, o desejo antigo?

R.L.: Sim, sem dúvida. A oportunidade de me comunicar com pessoas através de meios de comunicação de massa é bastante gratificante. Mas, foi um momento proporcionado pela oportunidade de servir à Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade como diretor de comunicação por 4 anos. Depois de mim, outros colegas assumiram a função e, hoje, eu ando mais "sumido".

  

C.V.: Já desenvolveu algum trabalho social em comunidades que precisam de apoio e orientação no fator saúde? Como foi?

R.L.: Por estarmos inseridos em comunidades mais vulnerabilizadas e perceber a importância de ações educativas a gente acaba desenvolvendo bastante este tipo de iniciativa. Já tive experiências com rádios comunitárias onde ia uma vez por semana responder perguntas dos ouvintes; já realizei grupos abertos para conversar com a população em escolas, associações de bairro. Todas essas atividades são bastante gratificantes porque permitem uma troca de conhecimentos que acaba sendo bastante educativa não apenas para a população, mas para os profissionais.

 

C.V.: Nesses anos de carreira, qual foi a situação de saúde, em famílias, que se deparou e teve problemas para encontrar soluções? 

R.L.: Eu acho que dois elementos são bastante relevantes para definir a complexidade de um problema de saúde: o número de pessoas que ele envolve na família e a duração do problema. A partir daí te diria que as situações mais difíceis são as que remetem a momentos bem anteriores das famílias e que trouxeram conflitos entre muitos de seus membros. Destacaria situações de abuso/violência doméstica (especialmente sexual), pois envolvem problemas físicos, psicológicos, relacionais, o que demanda a articulação de vários profissionais para oferecer o melhor cuidado. Um médico de família e comunidade sozinho faz muito pouco diante deste tipo de cenário, precisa atuar junto com colegas de outras categorias profissionais. 

 

C.V.: Existe algum site com orientações básicas às famílias ou iniciativa na rede pública que informe melhor a população sobre saúde?

R.L.: O Ministério da Saúde costumava ter boas informações voltadas para os pacientes, mas parece que, ultimamente, seu portal deixou de focar neste papel. As Secretarias de Saúde costumam oferecer algumas informações relevantes. Mas, infelizmente, não consigo mencionar um site específico com informações de maior qualidade. 

 

C.V.: Quais são suas redes sociais? 

R.L.: Twitter @rodrigo_blima. É lá que eventualmente coloco algum conteúdo relacionado à medicina e saúde em geral.

 

Foto: Arquivo pessoal do Dr. Rodrigo Lima

 


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